Linguagem de Camaco, aquilombamento linguístico: uma invenção de resistência dos itabiranos
No destaque, bar Palô, na década de 1980, no bairro Pará, depois de ter funcionado por muitos anos na rua Tiradentes, no centro histórico. Ao se mudar para “terpo do Pacim Reichoso, no bar se jogava sinuca e na conversa entre muitos era o camaquês, a guinlagem de camaco
Foto: Eduardo Cruz
“Emqu base lafar guinlagem de camaco em Ibatira?”
Foi publicada no dia 7 de junho no Repositório Institucional da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) a dissertação de mestrado em estudos da linguagem intitulada A Linguagem de Camaco: identidade, memória e reexistência, de autoria do agora mestre Geuderson Traspadini Marchiori, servidor da Unifei, campus de Itabira.
A sua dissertação é resultado de pesquisa a respeito dessa manifestação linguística popular entre moradores do município de Itabira, que foi bastante popular na cidade no início do século passado, com a chegada dos ingleses – e também nas décadas posteriores à fundação da Companhia Vale do Rio Doce, em 1942.
Ao buscar entender a história e a contribuição dos povos que formaram Itabira desde a presença de europeus e africanos, a pesquisa aponta a linguagem como herança de caráter afrodiaspórico.
Ao investigar os contextos de uso sob a lente da insurgência decolonial e dos conceitos de língua/linguagem como ação e materialização de tensões e disputas sociais, o estudo aponta a Guinlagem de Camaco (Linguagem de Camaco) como espaço de resistência e de protagonismo negros, atribuindo-lhe o valor de aquilombamento linguístico.
Além de apontar padrões da formação do vocabulário da linguagem, a pesquisa insere a Linguagem de Camaco no campo das línguas especiais, cuja origem reside na divisão social, e que compreendem as gírias e os jargões, ambos utilizados em situações específicas de adaptação da língua às necessidades de um grupo restrito.
O estudo aponta também pontos de convergência entre a Linguagem de Camaco e outras línguas especiais, na Europa, no Brasil e em Minas Gerais. E propõe, ainda, reflexão sobre aspectos de memória e de identidade, contrapondo-os à ausência de registros da Linguagem em espaços oficiais de guarda da memória.
Ao questionar a centenária existência da Linguagem e sua mudança ao longo dos tempos, faz uso do conceito de reexistência que envolve a necessidade de desestabilizar os discursos e as práticas sociais cristalizadas, reinventando práticas e desafiando os assujeitamentos impostos.
A dissertação pode ser acessada através do link https://www.repositorio.ufop.br/handle/123456789/13255.
O professor Arp planejava um simpósio sobre a guilagem. Vou ler a tese do menino bonito à beça.
Tiumo embi rapa bassê zaime Bosse guinlagem camaco.
Parabéns ao Marchiori, pela criatividade em escolher o tema. Muito interessante a pesquisa! A história precisa ser contada, e escrita para não se perder!