Líderes de centro-direita, com alguns de esquerda, pedem impeachment de Bolsonaro

Rafael Jasovich*

Líderes políticos que discursaram em ato contra o presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, região central de São Paulo, na tarde desse domingo (12), pregaram a união de todos os campos políticos para pedir o impeachment do chefe do Executivo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Eles buscam uma candidatura da terceira via, se opõem às diatribes do capitão contra as urnas eletrônicas e ameaças de golpe, mas sem divergirem da política econômica do ministro Paulo Guedes.

O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) defendeu uma aliança de “quem for democrata” e, em um aceno ao PT, que não aderiu aos atos deste dia 12, disse que “ainda há tempo” para a sigla integrar o movimento.

“Para fazer o impeachment e proteger a democracia brasileira temos que juntar todo mundo. Ainda há tempo para o PT amadurecer. Quem for democrata tem que entender que o impeachment é a única saída. Precisamos fazer um acordo com a direita e um centro democrático”, disse ele.

Ciro Gomes agora clama pela presenta do PT, partido que ele atacou duramente quando ele ainda achava que seria o líder da direita. Fracassou.

Outro presidenciável no ato, o governador de São Paulo João Doria (PSDB), participou pela primeira vez de uma manifestação contra Bolsonaro e admitiu a possibilidade de fazer uma ponte com o PT.

Doria é outro que nega seu alinhamento com o capitão, mas apoia o projeto econômico do governo sem o presidente, mas com o ministro Paulo Guedes.

Ao fim do discurso, o governador pediu “Fora Bolsonaro” e dançou aos pulos enquanto os manifestantes respondiam com xingamentos ao presidente. Depois, ao ser questionado pela imprensa sobre a ausência da CUT e do PT no ato, o governador paulista evitou críticas.

Além de Doria e Ciro, também compareceram ao ato o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), os senadores Simone Tebet (MDB-MS) e Alessandro Vieira (Cidadania (ES), os deputados federais Tabata Amaral (sem partido-SP), Joice Hasselmann (PSL-SP), Orlando Silva (PCdoB-SP), Kim Kataguiri (DEM-SP) e Marcelo Ramos (PL-AM), os deputados estaduais Isa Penna (PSOL-SP) e Arthur do Val (Patriota-SP), o presidente da Força Sindical, Miguel Torres.

Todos alinhados com o projeto neoliberal.

Candidato à Presidência da República em 2018, assim como Ciro, João Amoedo (Novo) também pregou união pelo impeachment:

“Ninguém aqui tem medo de dizer que é esquerda e direita. Isso é besteira de quem quer manter o Bolsonaro no poder. A prioridade é o impeachment”, disse o empresário. Engraçado se não fosse trágico.

A manifestação ocupou trechos da via. A avenida não chegou a ser totalmente interditada, e a maior concentração de pessoas era num trecho de cerca de 500 metros entre os prédios da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Museu de Artes de São Paulo (Masp).

Com o mote “Fora, Bolsonaro”, o ato na Avenida Paulista faz parte de uma campanha do Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e outros grupos, que convocou manifestações em ao menos 15 capitais.

No Rio, manifestantes se reuniram na praia de Copacabana na manhã deste domingo para pedir o impeachment do primeiro mandatário. Em Belo Horizonte, a concentração ocorreu na Praça da Liberdade, no centro da capital.

Líderes do MBL como Renan Santos, Kataguiri e Do Val, reconheceram as divergências com a esquerda ao apresentarem Ciro e Orlando Silva. Ainda assim, pediram que seus apoiadores, na maioria jovens de direita, aplaudissem os antigos adversários políticos.

“Todos sabem das nossas divergências. Mas quero poder discordar deles democraticamente”, disse Do Val.

Querem o PT, mas as faixas eram Nem Bozo nem PT.

Havia, ao lado do carro de som do Vem Pra Rua, um boneco inflável com Bolsonaro, de camisa de força, e Lula, com roupa de presidiário, abraçados.

Enquanto lideranças políticas discursavam a favor da união do campo democrático pelo impeachment de Bolsonaro no carro de som do MBL, onde estava a maior parte do público, um dos líderes do Vem Pra Rua, Rogério Chequer, falava que não quer “o PT de volta nunca mais”.

Enquanto Ciro e outros nomes do PSB e PCdoB compareceram ao ato. PT e PSOL descartaram adesão e trabalham para a realização de uma manifestação mais ampla contra Bolsonaro para outubro, no dia 2.

Orlando Silva disse, no carro de som, que entende que o PT não participou para evitar um desconforto com o MBL. Segundo ele, porém, é importante a adesão do Partido dos Trabalhadores. Pensam que foi tudo flores, mas houve muita contradição.

*Rafael Jasovich é jornalista e a advogado, membro da Anistia Internacional.

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