Laços de sangue e de crime em Itabira do Matto Dentro – Mistérios & Crimes
Grafite na rua da Lapa, Rio junho de 2022
Pesquisa e fotos: Cristina Silveira
1856 Uma morte misteriosa na Lagoa
Morte misteriosa. Da província de Minas Gerais foi-nos comunicada a notícia de um fato, cuja autenticidade se assevera, e que por ter sido observado pela primeira vez tem naturalmente excitado curiosidade e surpresa.
No município de Itabira, freguesia de S. José d’Lagoas, vivia uma senhora de nome Maria Joaquina; achava-se ela no melhor estado de saúde, quando no dia 10 de janeiro, sentando-se à mesa para jantar, sentiu que, da esteira do forro da casa lhe caíra um liquido sobre o ombro em cima do chale com que estava envolvida.
Logo que a umidade se se comunicou à pele, começou a infeliz senhora bradar por socorro, e caiu instantaneamente desacordada: acudiram-na algumas pessoas, e passando a tornar a si com aplicação de alguns medicamentos, ouviram dela a relação do que acabava de acontecer-lhe.
O ombro em que tocara o liquido achava-se já esfolado, e o lugar ofendido apresentava uma cor escura semelhante à do chumbo: os sofrimentos da mísera senhora continuaram ainda por três horas, no fim das quais expirou.
Subiram diversas pessoas ao forro da casa e não encontraram nenhum animal, nem vestígios de algum que aí pudesse ter estado.
Como se explicará este fato? Há muitas cobras que vivem entre as paredes e nos telhados das casas, e por isso querem alguns acreditar que o terrível liquido foi lançado por algum réptil venenoso que fugiu logo depois.
Cabe agora aos homens da ciência investigar o fato, e decidir, se lhes for possível, a questão que se oferece, explicando a morte desta senhora.
Poderá um veneno lançado sobre a roupa e por esta comunicado à pele, ser absorvido com tanta rapidez que chegue a produzir a morte no curto espaço de três horas?…
[Jornal do Comércio (RJ), 2/2/1856. BN-Rio]
1857 As bestas e o burro de Camillo de Lelis
Atenção! Indo buscar bestas em fins de 1855 Firmiano de Souza Coelho, por conta e ordem de Camillo de Lelis Ferreira, ambos moradores na província de Minas Gerais, município de Itabira e freguesia de Sant’Anna dos Ferros, trouxe em sua companhia o referido Firmiano, um peão de nome Francisco Antonio da Silva, que estava residindo na fazenda S. Basílio, na estrada que de Sorocaba segue para o rio Guary.
Este peão tem um aleijão na mão esquerda, por cujo motivo traz ela sempre envolvida em um lenço; em seu regresso, que foi no dia 27 de fevereiro do corrente ano, levara consigo furtados três animais: uma besta vermelha, crioula e grossa, pertencente ao capitão Lúcio José da Circuncisão Ottoni; um burro pelo de rato, vermelho, pertencente ao tenente Bento Joaquim de Camargo, com um carimbo no queixo da letra G; e uma besta pelo de rato, claro, pertencente a d. Delphina, todos residentes em Sant’Anna dos Ferros; porquanto os prejudicados denunciam à polícia tanto da província de Minas como de outras províncias, afim de que seja capturado o referido peão.
[Jornal do Commercio (RJ), 20/3/1857. BN-Rio]
1857 Assassinado no Paredão
Boletim do Dia. A 9 do corrente foi assassinado com um tiro de espingarda, disparado detrás de um paredão na cidade de Itabira, o infeliz Francisco Marinho da Fonseca, moço casado, negociante probo e ativo, deixando em profunda mágoa seus amigos, mulheres e filhos.
[Diário do Rio de Janeiro, 11/9/1857. BN-Rio]
1858 Na Lagoa: Desordem Tiro Facada
Em S. José da Lagoa, termo de Itabira, houve no primeiro dia corrente uma desordem em que tomaram parte diversas pessoas, ficando algumas gravemente feridas em consequência de tiros e facadas então dadas.
O delegado de Polícia fez logo marchar para alí uma força, com a qual o subdelegado conseguiu a prisão de Joaquim Silvano Rodrigues, principal autor da desordem, e de seu sequaz que conseguiu evadir-se, bem como os demais comprometidos. Havia sido instaurado o processo, e a autoridade prosseguiu nas convenientes diligências.
[O Liberal Pernambucano (PE) 26/2/1858. BN-Rio]
1858 Nhassim, enforcou o marido
Crônica Diária. De participação recentemente feita pelo delegado de polícia do município de Itabira consta que na noite de 8 de abril do corrente ano foi assassinado no distrito de Joanésia, Vicente Ferreira, achando-se indiciada, como autora desse crime, sua própria mulher, Rita de tal, conhecida pelo apelido de – Nhassim, que já uma vez havia tentado envenena-lo.
Do auto do corpo de delito, à que se procedeu, verificou-se que o cadáver do assassinado tinha uma ferida penetrante abaixo da orelha esquerda, e em roda do pescoço sinais evidentes de ter sido enforcado com uma corda fina torcida. A autoridade havia dado todas as providências para a captura e punição da delinquente.
[Diário do Rio de Janeiro, 2/12/1858. BN-Rio]
1863 Assassinato no Alfié
O Minas Gerais de Ouro Preto de 13 do corrente dá as notícias seguintes: Acham-se recolhidos à cadeia da cidade de Itabira os réus Candido Pinto Marciliano, que no distrito de Sant’Anna do Alfié assassinou em 28 de agosto último a José Camillo de Almeida, e seus dois cumplices Benedicto Exequiel de Queiroga Lima e João Pinto de Souza. Estas prisões foram verificadas por diligencia do subdelegado daquele distrito, Joaquim Ferreira Torres.
[Diário de Pernambuco, 1/12/1863. BN-Rio]
1864 O juiz prevaricador
Noticiário. Minas Gerais. No dia 11 corrente foi acometido de um ataque apoplético o juiz Municipal e de Órfãos do termo da Itabira, bacharel João Coelho Linhares, que se acha ainda em risco de vida.
[Diário do Rio de Janeiro, 9/5/1864. BN-Rio]
Acabo de receber uma carta de um amigo da cidade de Itabira, em que o celebre dr. Linhares, juiz Municipal daquela cidade, acha-se quase inutilizado, em virtude de uma congestão que sofrera.
Na mesma carta diz o meu amigo, que, se Deus tiver compaixão de seus concidadãos, deverá conservar no estado em que se acha presentemente o dr. Linhares, isto é, mudo e esquecido, para não prevaricar mais como juiz Municipal. O cabrion dos prevaricadores.
[Diário do Rio de Janeiro, 6/7/1864.5.9. BN-Rio]
1864 O Drummond ladrão de cabras
Cidade de Ubá, 6 de julho de 1864. Sr. Redator. Achando-me hoje um pouco desocupado, e com a pena ociosa, vou contar-lhe algumas novidades, não desta cidade, que segundo o seu muito louvável costume, existe na mais bela harmonia, porém vou falar de negócios de Santa Rita do Turvo, deste termo, e meter a minha colher de pau na vila de S. Paulo do Muriaé, sendo que a respeito desta sou autorizado por um amigo meu, ali residente, e que é pessoa de capacidade e critério.
A povoação de Santa Rita, uma das mais florescentes, e a mais pacifica deste termo, tem sido há tempos para cá um teatro de cenas as mais escandalosas, onde se tem apresentado fatos que clamam todo o rigor da justiça, e isto depois que para ali chegou um celebre leproso, de nome Manoel de Barros Araújo Silveira, vindo de Itabira de Matto Dentro.
Dizem que descende da família Drummond, naquela cidade, família aliás muito nobre, porém os fatos, praticados por este monstro em Santa Rita desmentem completamente a sua genealogia. Este Manoel de Barros, chegando para Santa Rita, agregou-se na fazenda de José Tristão, de quem, e de sua senhora, recebeu imensos obséquios; suas façanhas continuadas, e a sua ingratidão para com aqueles benfeitores, fizeram com que Manoel de Barros fosse tocado da fazenda de José Tristão.
Desgraça para a povoação de Santa Rita!
Este homem façanhudo comprou uma pequena chácara anexa àquela povoação, sem cercas nem tapume de qualidade alguma, e ali entocado, à semelhança de um salteador de Veneza, vive flagelando toda a sua vizinhança. Principia por matar porcos, cabritos, galinhas e todo e qualquer animal de outrem que queira pisar em terreno seu.
Para maior desonra de seus parentes acha-se processado por João Lopes de Faria Jacob, como ladrão de cabras. Ultimamente sou informado que o nosso salteador de Veneza tendo, na noite de 3 para 4 deste, tosquiado muitos animais pertencentes a pessoas importantes daquele lugar, a ponto de deixa-los sem crinas, nem cauda, fugira para o arraial de Sapé.
Prudenciou por uma vez, e muito valeu-lhe a prudência; porque na noite de 4, depois das 9 horas, o povo já cansado de sofrer, dirigiu-se desesperado a chácara de Manoel de Barros, a sua procura; talvez para tosquiá-lo também, ou cortar-lhe as orelhas, mas não o encontrou, pois havia fugido.
Na verdade, sr. redator, não há na província de Minas um lugarejo de onde tenha saído tanta gente ordinária que se possa comparar com Santa Barbara. Arre! Diabo! … Nem da boceta de Pandora saiu tanta maldade! O cabrion dos prevaricadores.
[Diário do Rio de Janeiro, 6/7/1864. BN-Rio]
1867 O relógio de Drummond
Na manhã de ontem furtaram da rua das Carmelitas n. 9, um relógio de ouro, n. 6920, ancora; tem na face interna das folhas o nome de Manoel Antônio Drummond e a palavra Itabira, gravadas em letra vulgar. A pessoa a quem for ele oferecido roga-se o favor de retê-lo e anunciar por este jornal, que se pagará as despesas do anúncio.
[Correio Paulistano, 2/12/1867. Hemeroteca BN-Rio]
1867 O distinto moço João Júlio Bicudo de Alvarenga
João Júlio Bicudo de Alvarenga, moço de uma família distinta da Itabira, casado com uma filha do barão do mesmo lugar, liberal honesto e conceituado não escapou a sanha de seus correligionários, que a requerimento do tenente coronel Domiciano do Café o processam por crime de haver danificado uma porteira, que dá entrada para um pasto (que lhe pertence) com o fim de apropriar-se de terreno alheio.
Custa a crer, mas é verdade, porém a justificação, que ele fez no Sumidouro com as principais pessoas, e que bastante indignou a seus perseguidores; justificação produzida com citação das partes, tornou tão calva a perseguição desenvolvida contra este distinto moço, em quem ao menos deviam atender aos laços, que o unem a uma família composta de tantos liberais distintos, e que tantos serviços ao Partido Liberal nesse lugar tem prestado com suas pessoas e fortuna, quando não se lembrassem se de sua família da Itabira, que é de esperar que recuem ante o clamor público, que não pode ser abafado com grosseiros sofismas.
Está provado, o terreno lhe pertence por título legal, e ainda por confissão do dono, que dele foi, e por isso não se lhe pode contestar o direito de em desforço arrancar uma porteira em sua propriedade. Pende recurso da pronuncia decretada para o dr. Juiz de Direito da Comarca.
[Constitucional: Jornal Político, Literário e Noticioso (MG), 3/1/1867. BN-Rio]
1867 Intriga em casa de Costa Cruz
A Pedido. Aviso aos eleitores do colégio da Itabira – O sr. dr. Penido, Moço, tem andado nesta cidade de porta em porta prevenindo votos para o sr. Dr. Penido, velho, que muito deseja ser senador do império. Este pedido não deve ser atendido pelos liberais.
Primeiro, por que o sr. Penido, velho, além de ser presidente honorário ou vice-presidente do grêmio conservador de Ouro Preto, morou nesta cidade longos anos, e nem um benefício fez a este país, só tratou de ganhar dinheiro, e assim que se encheu, foi gozá-lo em outro lugar.
Secundo, porque o sr. Penido, Moço, todas as vezes que tem vindo a esta cidade, depois de formado, é para insultar os liberais, em qualquer canto onde se acha. Não há muito tempo que s. s. achando-se na casa do capitão João José da Costa Cruz, estando presente o sr. alferes Francisco Coelho Jacome, disse que não conheceu um liberal, que não seja ladrão, e sem vergonha.
A visita do expendido, nada mais natural do que liberais negarem seus sufrágios ao pretencioso senador, dizendo ao pedinte irmão, – Deus o favoreça. Cidade da Itabira, 30 de novembro de 1867.
[Diário de Minas, 10/12/1867. BN-Rio]
Itabira – No Diário de 10 corrente vem um artigo datado da cidade, que a este dá epígrafe, onde diz que há dois anos eu dissera em casa do sr. Costa Cruz – que não conhecia um liberal que não fosse ladrão e sem vergonha, continuando em outros inventos mais, estultos e ridículos, só forjados e publicados como hostilidade à candidatura de meu pai à senatoria.
Felizmente, porém, pessoa alguma tem prestado atenção à essas intriguinhas d’aldeia, que por si mesmas se desfazem, e só servem para mostrar a moralidade e dignidade do seu autor tão conhecido! 21 de dezembro de 1867. J. Penido Junior.
[Constitucional (MG), 28/12/1867. BN-Rio]
Tempos quentes aqueles no grande município que era Itabira, uma vastidão total o seu território.
A senhora das Alagoas, hoje Nova Era, deixou cair algum ácido nela e depois não soube explicar, só pode ser isto.
João Júlio era neto da Lourença Constância de Alvarenga e Francisco Procópio e era casado com uma prima que filha do Barão não era, pois o mesmo não teve filhos.
João Júlio e o Barão eram primos em terceiro-grau.
Já o jovem advogado Penido, que militou no Concelho/Comarca de Itabira naqueles idos, foi meio cara-de-pau em entrar na fazenda do meu tetravô e trisavô do Editor Carlos Cruz e fazer malquerências contra outras pessoas ausentes, pois, a considerar que o filho do João da Cruz, o Joaquim Cruz, era monarquista e o genro Carlos Casimiro Andrade era republicano.
Em terra de pouca gente, todo cuidado é pouco para se dizer ou maldizer de alguém.