João Batista, morador do Bela Vista, divide “parede-meia” com Pontal e teme pelo pior
O aposentado João Batista Carlos, morador da rua João Júlio de Oliveira Jota, no bairro Bela Vista, é vizinho “parede-meia” da barragem do Pontal, a maior de Itabira com 220 milhões de metros cúbicos de rejeitos.
Ele está amedrontado e teme pela sua vida e de seus familiares – e não é de hoje, por ter de conviver ao lado de um vizinho tão perigoso. Há anos, o aposentado reivindica uma negociação com a Vale para a retirada de moradores de áreas de risco.
Para isso, João Batista quer ser indenizado e assim procurar um lugar mais seguro onde morar. “É para preservar as nossas vidas e para ter sossego, o que há muito tempo já não tenho.”
O aposentado sabe que o risco é real. A sua casa fica a cinco metros do cordão Bela Vista, instalado pela Vale na barragem para evitar que se repitam acidentes, como o que ocorreu no dique 2, entre os dias 20 e 21 de abril de 2000.
“A Vale está mexendo no córrego e com isso se aproximou ainda mais de minha casa. Se houver rompimento, não teremos tempo e nem para onde fugir da lama”, descreveu o morador em uma reunião do Codema. Leia aqui.
“Como posso ficar seguro vivendo tão próximo da barragem?”, voltou a perguntar João Batista na reunião pública promovida pelo Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração em Itabira e Região, nessa terça-feira (25), no auditório da Funcesi.
Ele defende a remoção dos moradores como medida de precaução. “É em defesa de nossas vidas”, cobrou.
Antecedente perigoso
Quem reside próximo da barragem do Pontal certamente se recorda do rompimento do dique 2, em decorrência da forte chuva que caiu na cidade entre os dias 20 e 21 de abril de 2000.
A ocorrência foi comunicada pela Vale à Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) três dias depois do rompimento. No dia seguinte, fiscais do órgão ambiental estadual estiveram em Itabira para avaliar a dimensão dos danos.
De acordo com relatório da Feam, que a reportagem deste site obteve cópia, o rompimento ocorreu no braço 2 da barragem do Pontal, no chamado “ponto de ciclonagem do ‘underflow’ dos rejeitos”.
“A deposição formou um reservatório de água que se encontrava confinado entre o material depositado e as encostas naturais”, registrou o auto de fiscalização, que prosseguiu:
“Em função do último período chuvoso (99/2000) e, mais recentemente, com as chuvas incidentes na última semana, ocorreu uma saturação do solo constituinte da encosta natural, ocasionando um escorregamento/ruptura do talude remanescente, a jusante da estrada existente, cujo material atingiu o citado reservatório, causando a expulsão do volume d’água acumulada no local.”
Essa situação provocou a erosão dos rejeitos depositados na bacia do referido dique, conforme relataram os fiscais Túlio Praes da Silva e Braz Maia Júnior no auto de fiscalização da Feam.
Como consequência, teve início um processo de liquefação dos rejeitos, com a formação de uma onda que percorreu uma distância aproximada de 1,3 quilômetro, até atingir o maciço do dique 2, em sua ombreira esquerda.
Os rejeitos até então confinados na bacia do dique afluíram ao reservatório da barragem do Pontal, o que teria ocasionado um elevação do nível da água em torno de um metro, por um período de pelo menos 24 horas.
“A estrutura da barragem do Pontal foi suficiente para amortecer o impacto provocado pela ruptura do dique, ficando o rejeito confinado na sua bacia”, registraram os fiscais no auto de fiscalização da Feam.
“Entretanto, o volume de água que passou pelo sistema extravasor (vertedouro em tulipa) provocou o colapso de uma ponte a jusante, localizada nas proximidades da confluência do córrego dos Doze com o rio de Peixe, a jusante de uma das captações de água da cidade.”
Área operacional
Pois é justamente por estar ciente dessa ocorrência, e de outras “anomalias” já ocorridas no passado, que João Batista Carlos não tem tido sossego. “Estou morando em área operacional de alto risco. Até quando vamos conviver com essa situação?”, perguntou na reunião pública.
“Como posso ficar tranquilo vivendo ao lado desse cordão, que foi alteado à montante, e que está acima de minha casa?”, insiste em perguntar o morador do bairro Bela Vista. “Ainda estamos sem resposta”, reclamou.
Com a palavra a mineradora Vale, o prefeito Ronaldo Magalhães, a promotora de Justiça Giuliana Talamoni Fonoff, o Codema e a Defesa Civil.
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