Itaurb é denunciada por poda drástica de mangueira com frutos, a pedido de morador. Prefeitura diz ter laudo técnico e que está correta

Fotos: Reprodução

Que rumor é esse na mata?

Por que se alarma a natureza?

Ai… É a motosserra que mata,

Cortante, oxigênio e beleza.”

(CDA, Mata Atlântica)

 Por Carlos Cruz

Em tempos de mudanças climáticas, com temperaturas cada vez mais elevadas, a arborização urbana se torna cada vez mais necessária e urgente, inclusive com a formação de hortos florestais, ainda mais em Itabira, cidade minerada já quase à exaustão, e que, segundo o IBGE, é uma das cidades menos arborizadas do país.

Árvores são imprescindíveis para amenizar a temperatura, realizar o tal sequestro de carbono, como também por reter partículas de poeira, além de amenizar a degradação paisagística, melhorando as condições ambientais e de vida.

Absorverem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, diminui os efeitos do aquecimento. Portanto a manutenção das espécies, ainda que isoladas, são cruciais no combate às mudanças climáticas.

É assim que o corte de uma única árvore deve ser bem avaliado, ainda que ela esteja isolada, a menos que apresente risco a moradores e pedestres, como o de uma queda por motivos fitossanitários.

Se a fiação elétrica está enroscando em seus galhos, que mude essa emaranhado de lugar, ou se faça um corte raso, podando somente os galhos atingidos por essa urbanidade de fios e cabos sem fim da concessionária eletríca e de diversas operadoras de telefonia. É uma barafunda tremenda, sem que a Prefeitura tome providências a respeito.

Pois foi justamente por estar invadida em seus galhos por fios e cabos elétricos e telefônicos, que a Prefeitura de Itabira, por intermédio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU), autorizou a Itaurb realizar uma poda drástica (e bota drástica nisso) numa mangueira que há anos foi plantada por moradores, na rua Mestre Emílio, 241, bairro Pará.

A mangueira estava carregada de frutos, que alimenta pássaros, principalmente maritacas, contam moradores.

A poda mais que drástica na mangueira foi solicitada pelo morador da casa em frente, que se sentiu ameaçado pela mangueira. Alegou que ela estaria ameaçando, pasme, o emaranhado de cabos e fillhos, essa barafunda desrespeitosa com a cidade e que não incomoda os zelosos gestores e fiscais da SMDU. A árvore carregada de frutos é que incomoda.

A mangueira estava assim carregada de frutos

Natureza mutilada

Pode-se perguntar o que representa o corte raso de uma única árvore diante de tantas devastações de florestas inteiras pela mineradora Vale para abertura de frente de lavras ou para dispor rejeito rejeito de minério e estéril em imensa pilhas?

Foi o que aconteceu, em larga escala, na década de 1980, na Serra do Esmeril, com motosserras e tratores com correntes derrubando jacarandá, cedro, vinhático, fedegoso, ingá, o que encontrou pela frente, “cortante, oxigênio e beleza”.

Sem essa supressão, que a Vale deve a Itabira, certamente a cidade não seria hoje uma das menos arborizadas do país.

Pois bem, a resposta à essa indagação mal comparativa é simples. Além de tudo o mais que se possa argumentar em defesa de uma única árvore, ela contribui ali quietinha, sem deixar “pegadas” impactantes na natureza, diferentemente dos fios e cabos elétricos e de telefonia, para o sequestro de carbono, contribuindo para tornar o ar poluído menos irrespirável.

“Ah, mais isso nada representa para a descarbonização, isso é balela, sentimentalismo verde”, diria o defensor dos cabos e fios elétricos. Pos se não bastassem os argumentos até aqui apresentados em defesa da integridade da mangueira, essa única árvore tem ainda um significado simbólico, qual seja o de preservação da natureza tão devastada na cidade de Itabira, que já foi do Matto Dentro.

E ficou assim, mutilada por “zeladoria” da SMDU, a pedido de um morador

Frutos e inquérito

Além disso, cabos e fios não alimentam pássaros, não fazem sombras, não purificam o ar, acrescenta quem se indigna com tudo isso – e protesta, como foi o caso da moradora vizinha Dorinha Cabral, ao recorrer no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para que apure o caso.

“A mangueira estava carregada, tanto que os encarregados da poda levaram um saco cheio de mangas”, ela conta. “Tenho todas as fotos e vídeo, inclusive do corte não autorizado da leucena, a câmera pegou tudo. Dá pra ver o vizinho dando palpite no corte da mangueira”, ela escreveu na petição ao MPMG.

Pode ser até que o MPMG nem instaure inquérito ambiental para apurar o caso, uma vez que o procedimento foi precedido de laudo técnico, assinado por um engenheiro agrônomo, como manda a lei. Mas fica um péssimo exemplo, nada didático, para se dizer o mínimo.

Ainda que não seja recomendado o plantio de árvores frutíferas em perímetro urbano, a mangueira podada drasticamente foi plantada há dezenas de anos, muito antes de chegar o emaranhado de fiação e cabos elétricos/telefônicos.

Portanto, ela já é quase originária, compõe o paisagismo tão parco de árvores da rua Mestre Emílio, com é assim em tantas ruas itabiranas de passeios estreitos, mas sem a compensação com hortos florestais, que há muito já deveriam ser implantados em áreas verdes em todos os bairros onde há essa disponibilidade.

A poda da mangueira com certeza excedeu o que estava no laudo, segundo a moradora, que não viu no momento do procedimento um acompanhamento técnico. “O próprio morador, que pediu a poda, orientou o rapaz com a serra elétrica, pedindo para cortar sempre mais”, relata Dorinha Cabral.

Resultado: sobraram o tronco da mangueira e uns poucos galhos, que possivelmente vão ramificar e frutificar, mas só daqui a muitos anos, além de ser necessários outros tantos anos a mais para voltar a gerar sombra. Lamentável, para dizer o mínimo diante de tamanha incúria humana.

A reportagem encaminhou pedido de explicações à Prefeitura, que respondeu por meio da SMDU e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA).

Respostas da SMDU:

“Diante dos fatos, cabe elucidar as indagações de forma respectiva:

Foi autorizado pelo Município a poda das árvores em questão, através de profissional habilitado, engenheiro agrônomo Alisson Antônio Pereira (CREA 77774/D).

Conforme em anexos de registros de solicitações de moradores, temos registrados o total de 446 pedidos de poda de árvore ou corte do período de 01/01/2021 a 02/10/2023.

Em relação a número de podas, informamos que podas elas realizadas quando necessário e com autorização de profissional habilitado, afim de coibir qualquer crime semelhante. Portanto, para se obter números exatos necessita de um tempo para realizar o levantamento.

Em relação ao número de árvores plantadas, a Secretaria de Meio Ambiente poderá realizar o levantamento.

A Secretaria de Desenvolvimento tem condições plena de exercer a zeladoria da cidade, contribuindo com secretarias afins. Para isso, dispõe de engenheiro agrônomo para realizar laudo quando necessário para realizar esse tipo de serviço.”

Respostas da SMMA:

“Seguem as respostas às suas indagações:

O corte da árvore em questão foi autorizado pela SMDU e não passou pela SMMA.

A solicitação foi feita pelo sr. Ailton Ramos Figueiredo, que pediu poda/corte de duas arvores com urgência, alegando que estavam com risco de queda e prejudicando diversas fiações, como pode ser observado em fotos apresentadas pelo requerente, podendo romper a fiação, gerando transtornos para comunidade local.

Diante do pedido, foi seguido todo fluxograma de trabalho para casos deste tipo, tendo o engenheiro agrônomo Alisson Antônio Moreira Pereira (CREA 77774/D) realizado o estudo para tal solicitação.

Feito o estudo, foi concluído que as arvores em questão, tratam-se de abacateiro e mangueira e que as mesmas não ofereceriam risco de queda iminente, tendo sido emitido o laudo indeferindo o corte e autorizando apenas a poda e rebaixamento de copa dos indivíduos identificados em 30/06/2023.

Conforme registros de solicitações de moradores, há o total de 446 pedidos de poda de árvore ou corte no período de 01/01/2021 a 02/10/2023.

Há algum tempo em Itabira a gestão de corte e poda de árvores isoladas no núcleo urbano é realizada pela SMDU. mediante análise de engenheiro agrônomo. O corte se dá através de servidores da Itaurb.

Para além das árvores isoladas, esse procedimento vale para até 10 árvores em áreas públicas ou lotes. Nessas ações não existe compensação para corte.

A SMMA por sua vez, é competente para autorização de intervenções para supressão de maciços de 10 árvores ou mais conforme Deliberação Normativa Codema 01-2020, caso em que existe a compensação.

Todas as ações aprovadas são devidamente avaliadas por técnicos e levam em consideração o risco de queda, estado fitossanitário da planta, presença de brocas, galhos podres, risco de galhos na rede elétrica.

Assim, vencida essa etapa de análise é gerado parecer de autorização para poda, supressão ou manutenção da poda.

A SMMA realiza todos os anos, em diversas áreas do município, ações de plantio de mudas. Essas ações não são compensatórias às supressões realizadas.

Essas seguem um programa da secretaria no sentido de manter as áreas verdes do município mais belas e arborizadas, o que denominamos pelo projeto Jardins da Minha Cidade.”

Por uma Itabira mais arborizada, com hortos florestais

Como se pode observar, a Prefeitura não explica o motivo, técnico que seja, para se fazer o corte raso na mangueira da rua Mestre Emílio, mutilando-a drasticamente, ainda que ela possa se regenerar com o tempo, resiliente que é.

Como também não apresentou o número de cortes rasos realizados na cidade pela presente gestão. Ficou devendo ainda o número de árvores plantadas, até para se fazer frente à necessidade imperiosa de a cidade deixar de ser uma das menos arborizadas no país, formando hortos florestais.

Se tem muito a mostrar, perdeu a oportunidade, pelo menos nesta reportagem.

Se não tem bons resultados a apresentar, ainda há tempo para começar um plantio mais significativo, em locais apropriados e públicos, além de ter mais cuidado e critérios mais restritivos para se proceder ao corte de uma árvore ou para uma poda drástica.

Que esses procedimentos de “zeladoria”, ou que outros nomes tenham, não sejam referendados apenas por pedido de morador, incomodado com a árvore em sua porta. E que o laudo técnico não seja apenas um documento formal, sem levar em conta outros aspectos que nao sejam apenas os fitossanitários.

No mais, os fatos e as versões estão aí estão reportados. Que a leitora e o leitor tirem as outras conclusões que lhes aprouverem.

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2 Comentários

  1. Não há abacateiro nenhum por ali, entendem tanto de árvores que a outra árvore em questão é um ipê rosa e, tanto o ipê quanto a mangueira, não oferecem risco de queda. A mangueira menos ainda, o que incomodava o morador era o fato de crianças e outras pessoas ficarem cutucando as mangas e ao caírem, podiam bater em seu carro. Carro este que pode ser estacionado em tantos outros lugares, inclusive dentro de sua própria garagem. Foi um crime sim, um crime ambiental! E a poda autorizada foi apenas de rebaixamento da copa e não de 99% da mesma. A empresa em questão, não foi a Itaurb, foi uma terceirizada, de fora, como sempre. Os responsáveis pelo desmatamento da copa deveriam ser responsabilizados! E veja só quanta ignorância, ele queria o corte das árvores! Um inquilino querendo o corte de árvores que estão na rua!

  2. Foi mutilação e não poda. O engenheiro que autorizou deve passar por um curso de como fazer podas corretivas e no tempo certo. Foi crime sim, Dorinha, vc está com toda razão.

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