“Itabira vive o “apagão” de novos professores”: Câmara se une a diretor escolar por licenciaturas presenciais na Unifei
Foto: Reprodução/ DeFato on line
O professor Fabrício Batista, diretor da escola estadual Antônio Linhares Guerra, alerta para a escassez de docentes e propõe à Unifei a criação de cursos presenciais de licenciatura em Itabira, com apoio unânime dos vereadores
Carlos Cruz
A cidade do poeta Carlos Drummond de Andrade, que teve curso de licenciatura em Letras, hoje não tem mais, Itabira já sente os efeitos do “apagão” de novos professores que ameaça a qualidade da educação no Brasil. “A escassez de novos docentes para a educação básica, prevista para se agravar até 2040 com um déficit estimado de 235 mil profissionais, já é realidade nas escolas de Itabira”.
A constatação é do professor Fabrício Batista de Oliveira, diretor da escola estadual Antônio Linhares Guerra, durante pronunciamento na Câmara Municipal de Itabira, nessa terça-feira (3), a convite do vereador Reinaldo Soares de Lacerda (PSB).
Fazendo uso da tribuna no legislativo itabirano, Batista convocou os vereadores a pressionarem a Universidade Federal de Itajubá (Unifei) pela abertura de cursos presenciais de licenciatura no campus de Itabira, localizado no Distrito Industrial Maria Casemira Andrade Lage.
“Hoje, nas nossas escolas, já vivenciamos a falta de docentes. Temos professores se aposentando e não há quem os substitua. A escola não existe sem estudantes, mas também não existe sem professores”, afirmou o diretor.
Segundo Fabrício, a situação se agravou com a ausência de cursos presenciais de formação docente em Itabira. Após o encerramento das licenciaturas na Funcesi, que sucedeu a antiga Fachi, responsável por formar grande parte dos professores locais, muitos já próximos da aposentadoria, a cidade e toda a região ficaram sem alternativas públicas ou privadas para quem deseja seguir carreira no magistério.
EAD não supre a demanda e evasão é alta

O diretor destacou que os cursos à distância, embora importantes, apresentam altos índices de evasão e menor eficácia na formação de professores.
“Não é demonizar o EAD, mas é preciso reconhecer que a formação presencial oferece mais qualidade e menos desistência. Precisamos garantir que quem deseja ser professor tenha contato com os melhores docentes, em sala de aula, para que esteja preparado para enfrentar os desafios da educação básica”, defendeu.
O professor também mencionou o investimento de mais de R$ 60 milhões da mineradora Vale para a conclusão dos prédios da Unifei, que, segundo ele, precisam ser melhor ocupados e expandido.
“Por que não começar com um curso de Pedagogia e, a partir da demanda, ampliar a oferta? A Unifei é pública, gratuita, patrimônio do povo brasileiro e do itabirano. Precisa cumprir seu papel de universidade, oferecendo formação universal”, pontuou.
Vila de Utopia já havia levantado a pauta
A cobrança por licenciaturas presenciais na Unifei não é nova. Este site, Vila de Utopia, já havia levantado essa pauta em coletiva de imprensa com o reitor da universidade, Marcel Fernando da Costa Parentoni, em 17 de agosto, após a solenidade de assinatura de novo convênio de repactuação dos valores a serem repassados pela mineradora Vale para a conclusão dos três novos prédios do campus da Unifei no município.
Na ocasião, a reportagem questionou diretamente o reitor sobre a ausência de cursos voltados à formação docente no campus local. Parentoni desconversou, sem apresentar propostas para atender à demanda da comunidade itabirana.
Na matéria publicada sob o título “Itabira quer mais do que Exatas na Unifei”, foi criticado o foco quase exclusivo da universidade em cursos tecnológicos, como engenharias e ciência da computação.
A reportagem defendeu a ampliação da grade acadêmica, com a inclusão de licenciaturas e outras áreas do conhecimento, para que o campus de Itabira se torne, de fato, uma universidade plena, capaz de formar profissionais diversos e atender às necessidades educacionais da região.
O pronunciamento do professor Fabrício Batista na tribuna da Câmara reforça essa cobrança – e necessidade.
Ao apontar o “apagão” docente já em curso nas escolas do município, o professor destacou que a formação de professores é estratégica para Itabira e região.
Isso não apenas para garantir o funcionamento da educação básica, mas também para preparar bons profissionais, e empreendedores, que possam contribuir com o projeto de diversificação da economia itabirana, historicamente dependente da mineração.
Câmara apoia proposta e cobra valorização
A proposta recebeu apoio imediato dos vereadores. Reinaldo Lacerda, presidente da Comissão de Educação, reforçou o compromisso da Casa com a pauta. “Você não é uma voz solitária, Fabrício. Os 17 vereadores estão com você. Precisamos dividir essa responsabilidade com o Executivo, a Funcesi, a Unifei e as escolas privadas.”
O presidente da Câmara, Carlinhos “Sacolão” Henrique Silva Filho (Solidariedade), também manifestou seu apoio. “A educação é a base de qualquer profissão. Pena que nosso país valoriza muito pouco. Aqui em Itabira, ao menos, conseguimos garantir o piso salarial dos professores da rede municipal, mas ainda é pouco.”
O vereador Heraldo Noronha Rodrigues (PRB) endossou, mas criticou a desvalorização do professor no país. “Vivemos um tempo de desrespeito tão grande que muitos estão tirando do coração o desejo de ser professor. O professor dá amor, mas também quer ser amado.”
Marcelino Guedes (PSB) disse que a chave da libertação do ser humano é a educação – e ela passa pelo professor. “Valorizá-los é essencial para atrair novos profissionais.”
Por seu lado, o vereador Luiz Carlos de Souza (MDB) elogiou o trabalho de Fabrício à frente da escola Antônio Linhares. “Você trabalha por amor. É um diretor jovem, respeitado pelos alunos e colegas. Tem muito a somar com a comunidade.”
Já Ronaldo “Capoeira” Meireles de Sena (PRB) fez uma crítica direta ao Governo de Minas Gerais. “O Estado tem pecado com Itabira, não só na educação, mas também na saúde. Precisamos ser referência em educação no Médio Piracicaba.”
Um alerta que precisa repercutir e gerar resultados
A exposição do professor Fabrício Batista encerrou com uma metáfora provocativa. “Assim como a ausência de abelhas colapsa o ecossistema, a falta de professores pode colapsar a nossa civilização.”
A reflexão ecoou entre os vereadores, que se comprometeram a transformar o apelo em ação concreta. A pauta agora segue como prioridade na Comissão de Educação da Câmara, com articulações previstas junto à Unifei, ao Executivo municipal e aos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia.