A persistência da alta temperatura global em agosto de 2024

Foto: EBC/Reprodução

O Brasil que possui um litoral muito extenso é um país muito vulnerável à subida do nível dos mares. As cidades de Santos e Rio de Janeiro são particularmente vulneráveis

Por José Eustáquio Diniz Alves*

Agosto de 2024 foi o mês mais quente globalmente para este período do ano. O recorde foi equivalente ao que ocorreu em agosto de 2023, com uma temperatura média do ar na superfície de 16,82ºC, cerca de 0,71 °C acima da média de 1991-2020 para agosto.

O mês de agosto de 2024 foi 1,51ºC acima do nível pré-industrial e é o 13º mês em um período de 14 meses em que a temperatura média global do ar na superfície excedeu 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, conforme mostra o gráfico abaixo.

anomalias da temperatura do ar na superfície

A temperatura média global dos últimos 12 meses (setembro de 2023 – agosto de 2024) é a mais alta já registrada para qualquer período de 12 meses, 0,76ºC acima da média de 1991-2020 e 1,64ºC acima da média pré-industrial de 1850-1900 (considerado o período pré-industrial). Esses valores são idênticos aos registrados nos dois períodos anteriores de 12 meses, terminando em junho e julho de 2024.

A anomalia da temperatura média global do ano até o momento (janeiro a agosto de 2024) é 0,70ºC acima da média de 1991-2020, que é a mais alta já registrada para este período e 0,23ºC mais quente do que o mesmo período em 2023.

A anomalia média para os meses restantes deste ano precisaria cair em pelo menos 0,30ºC para que 2024 não fosse mais quente do que 2023. Isso nunca aconteceu em todo o conjunto de dados ERA5, tornando cada vez mais provável que 2024 seja o ano mais quente já registrado, conforme mostra o gráfico abaixo.

anomalias anuais da temperatura do ar na superfície

O climatologista Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa em Nova York, um dos principais cientistas climáticos do mundo, disse de forma sincera e preocupante que existe a possibilidade alarmante de que o aquecimento global pode estar se movendo além da capacidade dos especialistas de prever o que acontecerá a seguir.

Em um ensaio da revista Nature, em março de 2024, ele disse: “A anomalia da temperatura de 2023 surgiu do nada, revelando uma lacuna de conhecimento sem precedentes, talvez pela primeira vez desde cerca de 40 anos atrás, quando os dados de satélite começaram a oferecer aos modeladores uma visão incomparável e em tempo real do sistema climático da Terra”.

Se essa anomalia não se estabilizar até agosto, ele disse, isso pode implicar “que um planeta em aquecimento já está alterando fundamentalmente como o sistema climático opera, muito antes do que os cientistas previram”.

As consequências do aquecimento global são inquestionáveis. Um dos efeitos do aquecimento global é o derretimento do gelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares. O gráfico abaixo mostra que os anos de 2023 e 2024 apresentaram o maior montante de degelo desde que se começaram os registros por satélite. Nunca houve dois recordes consecutivos tão expressivos.

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, emitiu um alerta mundial por causa da rápida elevação do Oceano Pacífico. De acordo com o relatório apresentado pela Organização Meteorológica Mundial, em 27 de agosto, as temperaturas nos mares da região estão subindo muito mais rapidamente do que as médias globais. O relatório da revela que nível dos mares subiu 15 centímetros nos últimos 30 anos.

indicador anual da extensão da cobertura de gelo

O Brasil que possui um litoral muito extenso é um país muito vulnerável à subida do nível dos mares. As cidades de Santos e Rio de Janeiro são particularmente vulneráveis.

A capital fluminense é a maior aglomeração populacional do litoral nacional e já sofre com erosões e inundações nos momentos de ressaca. Se ocorrer o fim das praias do Rio de Janeiro e do sistema de transporte que margeia estas praias, a cidade teria um colapso do setor de transporte e ficaria, praticamente, inabitável.

Atualmente, os brasileiros já estão sentindo os efeitos da crise climática, com queimadas em várias regiões do país, seca, baixa umidade do ar, falta de água nos reservatórios.

O rio Madeira atingiu o nível mínimo histórico, apareceram os bancos de areia e as comunidades de agricultores não conseguem garantir o escoamento de produção e tem dificuldade inclusive de acessar as fontes de água potável. O Brasil e o mundo podem perder o Pantanal e a Amazônia, o que seria uma perda irrecuperável e o início de outras perdas mais amplas e mais danosas para a vida na Terra.

As inundações que ocorreram no Rio Grande do Sul em maio de 2024 foram um marco dos desastres climáticos no país com muita destruição de vidas humanas e com grandes prejuízos econômicos. As perspectivas dos cenários futuros são, cada vez, mais preocupantes e desafiadores.

José Eustáquio Diniz Alves é doutor em Demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referência:

ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, e5942, maio 2022 https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595

Copernicus. Summer, Hottest on record globally and for Europe August Climate Bulletins, 6th September 2024 https://climate.copernicus.eu/copernicus-summer-2024-hottest-record-globally-and-europe

 

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