Itabira precisa ser pautada dramaticamente, e mundialmente, para resgatar os seus direitos, defende Marco Antônio Lage
Pré-candidato a prefeito de Itabira, o jornalista e empresário Marco Antônio Lage, 56 anos, pela coligação Novo Marco (PSB, PL, PDT e Patriota), disse em entrevista à Vila de Utopia que pretende discutir ideias e propostas com a sociedade itabirana para tirar o município da permanente angústia de não saber como será o seu futuro sem a mineração.
Para isso, disse que irá apresentar várias propostas em seu programa de governo, assim que a sua candidatura for homologada pela Justiça Eleitoral. A ideia é repercutir a realidade de Itabira nacionalmente e também no exterior.
Afinal, o seu principal produto de exportação, o minério de ferro, riqueza não renovável, historicamente contribuiu para pôr fim à grande guerra mundial, ajudando a derrotar o nazifascismo, assim como tem servido como insumo imprescindível para o desenvolvimento mundial.
Portanto, para ele a dívida histórica não é só da União e da mineradora com o município onde ela nasceu e se tornou a multinacional que é hoje. É também do mundo.
Mas o pré-candidato salienta que o protagonismo deve ser da sociedade itabirana e não da mineradora ou de políticos de fora, pois esses ainda não têm o compromisso com a proposta e nem o conhecimento exato do que ocorre no município.
Sem nada prometer, Marco Antônio Lage concedeu a presente entrevista, que será dividida em duas partes, a primeira postada nesta sexta-feira (18) e parte final no sábado. Ambas abordam temas relevantes para o presente e o futuro do município. Confira:
Como o senhor vê a questão da exaustão mineral e como é possível reverter uma provável estagnação e encolhimento da economia municipal com a exaustão de suas minas?
Essa é uma tarefa complexa em que toda a sociedade itabirana deve se engajar, mas para isso ela precisa ser mobilizada. A Vale e a Prefeitura devem ser facilitadores desse processo, mas é preciso que todas as instituições participem.
Em diferentes momentos, participando de palestras na Acita, procurei sempre frisar esse aspecto: o protagonismo tem que ser da sociedade civil itabirana.
A Acita, que tem interesse em fazer a economia girar, deveria liderar esse processo, como fez no início da década de 90, com o lançamento do projeto Itabira 2025, e, pela sua liderança, envolver as outras instituições e organizações sociais.
Sempre achei que a Acita deveria liderar isso, muito mais até que o prefeito.
Concorda que a Vale tem uma dívida histórica com Itabira, assim como o Brasil e o mundo?
Concordo. Embora a Vale seja uma boa empregadora e pague seus impostos, o que tem ficado dessa riqueza, extraída há 78 anos, é praticamente nada. Após todos esses anos, fica claro que essa riqueza não foi distribuída e retribuída como deveria ter sido. Portanto, precisamos nos mobilizar localmente e mostrar para o Brasil e ao mundo o tamanho dessa dívida. Temos pouco tempo para resgatá-la, antes que o minério acabe.
Trata-se de um drama histórico que até recentemente o município praticamente sofria sozinho com os impactos da mineração.
E que ganhou o sentido de tragédia em Minas Gerais, sequencialmente com o desastre de Mariana e depois em Brumadinho. São tragédias de grande impacto humano e ambiental que mancharam a imagem da Vale. Só que o impacto em Itabira é dentro da cidade e é permanente e continuado.
Itabira embora sofra há anos com esses impactos, tem sido muito servil e cordial com a mineradora. E o itabirano pouco participa do debate em torno de um novo modelo para a mineração. Como reverter esse quadro?
Sim, sem dúvida, participa muito pouco, há um alheamento que muito preocupa. Sabemos que a mineração é importante, faz parte do próprio nome de Minas.
O problema da exaustão do minério em Itabira não é só do município. Precisamos nacionalizar essa discussão e até mesmo levá-la para o mundo. Esses acidentes que viraram tragédia mancharam a reputação da Vale e da própria mineração. Vai ser preciso um trabalho de longo prazo para amenizar essa mancha e recuperar a sua reputação.
Em Mariana e Brumadinho tivemos centenas de mortes de pessoas, aqui estamos falando da possibilidade da morte de uma cidade inteira, o que demanda um outro olhar pelo seu significado. Não estamos falando de morte de vidas humanas com a exaustão, mas da vida de uma cidade, que é a história e as relações efetivas das pessoas que aqui vivem.
Quando se transporta isso para além do tema ambiental, que é muito rico e importante ser discutido, e se volta para a questão econômica, da exaustão mineral, vem o fantasma do esvaziamento, do empobrecimento. Daí que estamos falando na possibilidade real, se nada for feito para reverter o quadro, da morte de uma cidade.
Essa pode ter sido a sua principal motivação para se candidatar?
É uma motivação que venho acompanhando há décadas. E o tempo passou e essa realidade não foi alterada. Itabira precisa deste choque de realidade, trazer essa discussão com a sociedade, com a própria Vale e com os governos estadual e federal. Isso no sentido de redirecionar e manter a cidade vida no pós mineração. Isso pode ser, inclusive, uma tarefa importante até para a Vale recuperar a sua imagem.
Se Itabira, após a exaustão, virar algo próximo de uma cidade fantasma, isso irá aumentar ainda mais o seu desgaste como empresa global. Concorda?
Entendo que para a Vale começar a recuperar a sua reputação de empresa séria e socialmente responsável, é muito importante ela apresentar um case de como agir, um exemplo de reconstrução para manter a cidade viva após a mineração.
Acredito até que pode ser um ponto estratégico na recuperação da imagem da Vale, sem esquecer de seus compromissos com as sucessivas tragédias humanas, sociais, econômicas e ambientais para as populações atingidas em Mariana e Brumadinho.
Para isso é preciso que se tenha uma cidade minerada e que após a exaustão continua viva, respirando bem. E que tenha sustentabilidade, com uma economia circulante com base em novas alternativas e com justiça social.
É um legado que a mineração precisa deixar para Itabira. Eu venho de uma grande empresa e tenho certeza que, ao fazer isso, o seu case de sucesso em Itabira pode ser capa de seu relatório de sustentabilidade a ser apresentado para o mundo.
Casos de sucesso de cidades mineradas já temos no mundo, é só seguir os exemplos (leia aqui o caso da própria Vale em Sudbury, no Canadá. E também aqui, da mineradora que foi homenageada pelas suas ações no Vale do Ruhr, na Alemanha).
São exemplos que realmente podem ser seguidos. Já se Itabira virar um caso de insucesso, será outro grande desastre na história da empresa. Itabira vive uma urgência, uma situação de emergência. E estou com tempo disponível para me dedicar a um projeto dessa envergadura, que é um grande desafio.
Mas para isso acontecer precisamos da mobilização da sociedade, de pressão política, além de projetos com cronograma de execução, com agenda técnica e planejamento estratégico. Temos que recuperar já agora o tempo perdido.
O senhor disse que Itabira tem recursos suficientes, mas sabemos que boa parte já está comprometida com educação, saúde, folha de pagamento. O que fazer?
O que eu tenho dito é que Itabira dispõe de recursos suficientes, mais de R$ 600 milhões no orçamento anual, para investir na questão social, para fazer os serviços públicos funcionarem com qualidade.
Quando digo isso é no sentido de melhorar os serviços de saúde, investir na educação e no esporte para cuidar bem de nossas crianças, da juventude, dos idosos, para transformar a cidade em polo macrorregional em saúde e educação. Para isso o orçamento é suficiente.
Acha então que esses recursos não estão sendo bem investidos? Pelo menos percentualmente, a Prefeitura tem aplicado valores expressivos nas áreas de educação e saúde. É isso?
O que ocorre é que a cidade não tem projetos sociais. Tenho visitado as associações comunitárias e elas não têm apoio. O servidor público não é valorizado no seu trabalho, não tem um plano de cargos e salários.
Na saúde pública temos uma série de problemas, seja na atenção primária que acaba congestionando as redes secundária e terciária. Falta investir melhor esses recursos para aprimorar os serviços públicos. Para isso, repito, não faltam recursos.
Dizem que Itabira é uma cidade rica por ter uma empresa poderosa, mas a sua população é pobre. Concorda?
Sim. Itabira tem um PIB que é o oitavo do estado de Minas Gerais e tem um orçamento mais que suficiente. Percorrendo a cidade, vejo que essa riqueza não é bem distribuída entre os seus mais de 120 mil habitantes.
Mas aplicando os recursos para servir bem à população, o prefeito pode tornar a alocação desses recursos em políticas públicas revertidas no interesse da maioria e não de uma minoria. Os serviços públicos devem ser de qualidade e para todos. Com isso, a cidade se transforma também em cartão-postal para atrair novos investimentos.
É sabido que o investidor vai para o município onde obtém vantagens comparativas. Itabira ainda, pelo visto, não ofereceu essas condições atrativas.
É isso. O investidor não vai para onde a falta de água é constante, onde existem problemas de segurança pública e o distrito industrial não está preparado para receber uma moderna planta industrial, onde não se tem ainda a Unifei conectada com esse projeto de desenvolvimento econômico.
Temos que ter serviços públicos de qualidade não só para servir bem a população, mas também para atrair grandes empresas. Se isso não ocorrer, o empresário leva o seu empreendimento para Varginha, para Juiz de Fora, enfim, para outros municípios mais bem preparadas que Itabira.
A solução para a água, ao que parece, está bem encaminhada com o termo de ajustamento de conduta firmado com o Ministério Público. O senhor empregaria, como foi feito no passado, recursos dos royalties do minério para atrair novas indústrias?
O empresário precisa de ambiente apropriado para os seus negócios. Para isso temos que ter um distrito industrial bem equipado. Itabira está preparada para receber grandes investimentos privados? Eu acho que não, mas precisamos criar essas condições.
Não precisamos usar os recursos municipais para atrair novos empreendimentos, mas para tornar atrativas as condições aqui existentes. Precisamos arrumar a nossa casa.
Isso significa dar uma infraestrutura adequada, com redes de esgoto, água e energia suficientes e com facilidades de instalações. É dispor de mão de obra qualificada, ter uma universidade como a Unifei presente, com um parque tecnológico de ponta, que deve ser desenhado para receber os segmentos industriais que queremos atrair para aqui se instalarem.
O que Itabira pode oferecer para esses investidores em termos de infraestrutura, é o que devemos pensar e propor. Com infraestrutura adequada o investidor terá menor custo para a implantação de seu negócio. Fazendo isso, não é preciso dar dinheiro para atrair novas indústrias.
Como avalia a Unifei, tem cumprido o seu papel?
A premissa da Unifei está correta, que é ter aqui uma universidade federal que usufrui de boa reputação, conhecimento científico, além da qualidade de seus cursos.
Mas é preciso ter o parque tecnológico para suprir as empresas que podem ser atraídas e também à própria mineração. A Unifei pode ser um grande parceiro desse projeto, desenvolvendo profissionais que irão trabalhar nos projetos de desenvolvimento tecnológico, em pesquisas e desenvolvimento.
Itabira pode virar um grande centro tecnológico, de referência em vários setores, inclusive aprimorando a mineração. Podemos ter, quem sabe, até mesmo a oportunidade de trazer para Itabira o Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Vale, ou parte dele, que hoje está no Km-14, em Sabará.
E que ficaria acoplado ao parque tecnológico junto com a Unifei, gerando novas tecnologias e novos empregos. São conexões que precisamos desenvolver para atrair novas empresas e gerar mais empregos.
As plantas industriais da Vale, que são os seus maiores ativos em Minas Gerais, irão continuar operando após a exaustão das minas. É ótimo para a empresa, mas para a cidade nem tanto, pois não irão gerar nem 20% dos empregos que hoje estão ocupados nas minas, usinas, oficinas e escritório. Como o senhor vê isso?
Mas é importante que seja assim. São plantas modernas, mantém um nível de emprego razoável. Além disso, pode agregar outras possibilidades, como pesquisa e desenvolvimento.
A partir dessas atividades, que terão continuidade mesmo após a exaustão das minas, juntamente com o centro universitário de conhecimento, se tudo isso estiver acoplado a um projeto de pesquisa e desenvolvimento da própria mineração, de Itabira podem sair novas tecnologias e soluções, como já ocorreu no passado.
O campus de Itabira da Unifei, juntamente com o parque tecnológico, pode desempenhar bem esse papel. Com isso teremos não só os 10 mil estudantes que virão para cá com a expansão de seu campus universitário, transformando Itabira em uma cidade universitária, mas também criando as condições de fomentar novas tecnologias e processos, com um parque tecnológico de ponta.
Leia na segunda e última parte da entrevista com Marco Antônio Lage, a ser postada neste sábado (19):
– Como foi a decisão de se candidatar a prefeito de Itabira.
– A questão partidária, o socialismo e o social-liberalismo e como a questão ideológica interfere na privatização, ou não, da Itaurb e do Saae.
– Como desenvolver a produção rural nas pequenas propriedades de forma sustentável.
– Restaurante popular ou cantinas populares, uma proposta a ser discutida.
– Auditoria nas dívidas e nas licitações municipais. A questão da transparência dos gastos públicos.
– E muito mais das ideias do pré-candidato Marco Antônio Lage para o caso de ser eleito prefeito desta urbe.
É o único que tem competência para levar Itabira para uma cidade com sustentabilidade e colocar a mesma com melhor IDH do Brasil.
Precisamos mudar urgente não precisa ser um itabirano tem que ser pessoa com personalidade e coragem de lutar pelos projetos de Itabira. A começar pelas faculdades e universidades que seria um grande investimento em nossos jovens, porque quando terminam o segundo grau existem poucas opções de estudo.