Itabira precisa deixar de ser uma Cidadezinha Qualquer e avançar com o seu projeto universitário

Fotos: Humberto Martins/
Divulgação

Carlos Cruz

Para muitos, causou espanto quando o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) disse que a Prefeitura de Itabira não investiria mais na expansão do campus da Unifei, além dos R$ 40 milhões que já foram alocados na construção dos três novos prédios, quando o pactuado com a Vale era de uma contrapartida municipal da metade desse valor. De um total de R$ 120 milhões previustos em investimentos, R$ 100 milhões sairiam dos cofres da mineradora.

Com a possível realinhamento de preços, requerida pelas construtoras que venceram licitações ainda na administração do ex-prefeito Ronaldo Magalhães (2017-20), o investimento total agora previsto para concluir essas obras pode ultrapassar a casa de R$ 200 milhões.

Marco Antônio negocia com a mineradora o aporte de mais recursos para a conclusão desses três prédios, que se encontram em ritmo desacelerado, em compasso de espera pela repactuação.

Ao decidir que a Prefeitura já fez a sua parte, isso não significa que o prefeito de Itabira abondou o projeto universitário de Itabira, que já poderia contar, inclusive, com campus da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), que o ex-bispo Marcos Noronha (1924-1998), responsável pela implantação da Faculdade de Ciências e Letras de Itabira (Fachi), em 1968, tentou trazer para a cidade. Em vão, pelo desinteresse na época das lideranças políticas e eclesiásticas da cidade.

Encontrou resistência nas idiossincrasias locais. Foi quando Prefeitura, Vale e Diocese decidiram pela instituição da Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira (Funcesi), desdenhando e abandonando o projeto do ex-bispo de trazer a UEMG para se instalar no escritório do Areão, que havia sido prometido pela Vale, como doação.

O prédio acabou sendo adquirido pelo ex-prefeito Olímpio Pires Guerra (1993-96) pela bagatela de R$ 1 milhão, em valor da época, algo em torno de R$ 5 milhões em valor atualizado. Hoje pertence ao UNIFuncesi e parte está ocupada pela Prefeitura, enquanto o paço municipal se encontra em obras de reforma.

Repactuação

Maquete com o projeto de expansão do campus Maria Casemira, da Unifei, em Itabira

O certo é que Itabira precisa manter os esforços para viabilizar o projeto universitário, também nos moldes idealizado pelo professor Renato Aquino Farias Nunes, ex-reitor da Unifei, como um centro irradiador de novas tecnologias e empreendedorismo.

Trata-se de um projeto que está longe de acontecer, com o ainda não instalado Parque Científico Tecnológico. O campus de Itabira, já com 15 anos de instalação, continua com praticamente o mesmo número de estudantes iniciais, não passando de 2 mil alunos, quando o projetado era de se ter mais de 10 mil.

Para alcançar esse objetivo, é preciso que ocorra uma nova pactuação da parceria público-privada, com participação maior da mineradora Vale. Essa repactuação não deve se limitar ao aspecto econômico, mas também reavaliando o próprio projeto universitário.

É o que se espera de fato, e não de ficção, para que Itabira tenha no campus Maria Casemira Andrade Lage (1828/1929), nome oficial do Distrito Industrial II, um conjunto de faculdades em todas as áreas, para se tornar uma universidade.

Para o prefeito. Itabira já tem feito a sua parte com a construção dos dois primeiros prédios e com os recursos já alocados na construção das três novas estruturas.

É preciso, portanto, que o governo federal e a Vale, que tem esse compromisso como parte do resgate da dívida histórica com o município que a tornou uma das maiores multinacionais no segmento mineral no mundo, com os recursos minerais extraídos das minas locais em larga escala por mais de 80 anos , participem dessa repactuação.

Antes, a Vale já havia investido R$ 38,5 milhões (valor da época) na aquisição dos laboratórios para os cursos iniciais de engenharia. Mas precisa investir muito mais para que seja concluído o projeto universitário de ensino público e gratuito em Itabira, com difusão de novas tecnologias e empreendedorismo.

Avanços necessários

Para a expansão do campus local, segundo o professor Paulo Sizuo Waki, chefe de Gabinete da universidade federal de Itabira, a Unifei tem pedido de instalação de uma faculdade de Medicina em Itabira, protocolado no Ministério da Educação desde 2014.

Além desse curso, tem também pedidos para instalar novos cursos, a saber: Ciências da Computação, Engenharias Eletrônica e Civil, Matemática e Administração.

Com a nova conjuntura política, com o novo governo federal que não tem ojeriza à educação, existe também a expectativa de se instalar, no campus de Itabira, cursos de licenciatura para formar novos professores.

“A proposta é fechar o tripé com os cursos de Engenharia, Direito (Humanas) e Medicina”, defende o chefe de Gabinete da Unifei, que vislumbra também a abertura de cursos de História, Geografia, Letras, que a cidade natal de Drummond já teve na antiga Fachi, encerrado com a criação da Funcesi.

Atualmente, passados todos esses anos, a Unifei oferece no campus de Itabira apenas os cursos de Engenharias Ambiental, Mobilidade, Computação, Controle e Automação, Materiais, Produção, Saúde e Segurança e Elétrica.

É preciso muito mais para se concluir o projeto universitário de Itabira, o que passa também pelas faculdades particulares já instaladas na cidade.

Reunião em Itajubá

Em Itajubá, o reitor Edson Bortoni mostra ao prefeito Marco Antônio Lage os projetos de implantação de novos cursos no campus de Itabira

Para discutir essa necessária repactuação, que não é apenas financeira, repito, mas de todo o projeto universitário, o prefeito Marco Antônio Lage e o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Vinicius Rocha, visitaram, neste fim de semana, a reitoria da Unifei, em Itajubá, no sul de Minas Gerais.

Foram recebidos pelo reitor Edson Bortoni e pelo vice-reitor Antônio Carlos Ancelotti Júnior, além da pró-reitora de Extensão, Giselle Queiroz, diretores e professores da Unifei. Na pauta foi discutida justamente essa repactuação geral, inclusive com a necessária maior participação do governo federal, por meio do Ministério da Educação.

Ficou acertado que é preciso não só concluir as obras dos três novos prédios, mas também instalar o parque científico tecnológico, que agora, dizem, será composto por um Centro de Empreendedorismo da Unifei (CEU), “com recursos já garantidos” – e por um Centro de Inovação Tecnológica.

Essas estruturas adicionais são consideradas imprescindíveis para, enfim, impulsionar a diversificação econômica de Itabira, um projeto que se arrasta, letargicamente, pelo menos desde quando a Prefeitura e a Acita lançaram, em 1992, o projeto Itabira 2025.

“A Unifei não pode ser apenas um projeto educacional”, insistiu o prefeito em Itajubá, reforçando a necessidade de se avançar com o projeto universitário original da Unifei para Itabira. “A missão da Unifei é contribuir para o desenvolvimento de nossa cidade, impulsionando a inovação tecnológica e o empreendedorismo.”

Para o reitor Edson Bortoni, a visita dos representantes de Itabira com as reuniões de alinhamento, abre boas expectativas. “A Unifei tem grandes projetos, junto com a Prefeitura de Itabira e a sociedade itabirana, para reformular toda a atuação da Unifei e impactar não só a cidade, mas toda região”, assegurou.

Isso, porém, só deve ocorrer com a repactuação dessa parceria tripartite público-privada, deixando as idiossincrasias de lado, para avançar com o projeto universitário de Itabira, que deu um grande salto com a aprovação do curso de Medicina do UNIFuncesi, com aulas previstas para ter início em agosto.

Reunião de alinhamento do prefeito com representantes da Unifei, em Itajubá, abre novas perspectivas para o campus de Itabira

Agendas unificadas

“Nós estamos atentos e buscando todas as oportunidades. O que precisamos é alinhar as nossas agendas para seguir em uma única direção. Para isso precisamos ter políticas públicas bem definidas em lei, para quando mudarem os gestores de qualquer das instituições, essas políticas não sofram interrupção”, defende a pró-reitora Giselle de Paula Queiroz Cunha, em entrevista a este site.

Que ocorra logo esse realinhamento. E que traga bons resultados, pois o tempo urge e Itabira já espera por demais, conforme Drummond já havia registrado, em 1932, na crônica Vila de Utopia:

“A cidade não avança nem recua. A cidade é paralítica. Mas, de sua paralisia provêm a sua força e a sua permanência. Os membros de ferro resistem à decomposição. Parece que um poder superior tocou esses membros, encantando-os.”

“Tudo aqui é inerte, indestrutível e silencioso. A cidade parece encantada. E de fato o é. Acordará algum dia? Os itabiranos afirmam peremptoriamente que sim. Enquanto isso, cruzam os braços e deixam a vida passar. A vida passa devagar em Itabira do Mato Dentro.”

Que esse cenário de letargia possa, enfim, virar página virada na história de Itabira, para que no futuro próximo não ocorra “a derrota incomparável”.

Para saber mais, leia:

Projeto universitário de Itabira avança com novos investimentos da Vale e Prefeitura na expansão do campus da Unifei

Marco Antônio Lage lamenta a inexistência do Parque Tecnológico, da Unifei, para atrair investimentos em visita que fará aos Estados Unidos

Itabira está perdendo a guerra da diversificação, diz ex-reitor da Unifei

 

 

 

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3 Comentários

  1. Com o dinheiro já investido pelo município de Itabira, considerando aí também o custo do terreno disponibilizado ao campus da UNIFEI, não se deve parar a instalação da universidade pela metade.
    A solução é a conclusão das obras e o prefeito municipal deve ampliar as conversas com a UNIFEI e com o Ministério da Educação.

  2. Querer que a mineradora predadora pague o que rouba insensantenente da Itabira é piada… E não se deve pedir nada à VALE. Ela tem é que pagar o que deve, em dinheiro
    Quem pede perde.

  3. Querer que a mineradora predadora pague o que rouba e destroi da Itabira é piada… E não se deve pedir nada à VALE. Ela tem é que pagar o que deve, em dinheiro
    Quem pede perde.

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