Itabira e o Brasil estão em chamas; incêndio florestal em área da Vale assusta moradores da Vila Amélia

Fotos: Carlos Cruz/
Reprodução

Não está sendo fácil respirar em Itabira neste mês de agosto que faz jus ao ditado de que é só desgosto, pelo menos quando se trata da forte emissão de poeira vinda das minas da Vale, carregada de sílica e minério de ferro, como também com as queimadas que se espalham por quase toda a cidade.

Não bastando isso, há cerca de 15 dias, um incêndio florestal consumiu boa parte da vegetação na área do Pontal, pertencente à Vale. Começou vindo da rodovia, num sábado – e até segunda-feira (12) ainda se viam as labaredas queimando na área, além de muita fumaça que se espalhou por toda a cidade.

Nessa quinta-feira (22), no começo da noite, outro incêndio florestal na área da Vale, dessa vez próximo da mina Periquito, deixa os moradores da Vila Amélia assustados com o avanço das labaredas, aproximando-se perigosamente das residências.

Pelo risco iminente, rapidamente foram mobilizados policiais do Corpo de Bombeiros Militar, como também brigadistas da Brigada Anti-incêndio da mineradora Vale para dar combate ao sinistro. Por volta das 20h conseguiram restringir o incêndio na área, impedindo que se propagasse para os bairros vizinhos.

Porém, talvez por não terem feito o rescaldo adequadamente, ainda nesta sexta-feira (23) pela manhã se viam alguns focos dentro da área coberta por eucaliptos, ainda gerando muita fumaça.

Lei prevê prisão

Ambos incêndios florestais não foram acidentes, não aconteceram por geração espontânea, foram provocados por piromaníacos criminosos e que permanecem impunes na cidade e na maior parte do país.

Incêndio florestal em área da Vale deixa moradores da Vila Amélia apreensivos até ser debelado (Foto: Francio Pena)

Isso mesmo havendo legislação rigorosa que prevê penas severas a esses criminosos ambientais. Segundo a legislação brasileira, quem provoca incêndios florestais e faz queimadas não autorizadas está sujeito a penalidades previstas na Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98).

Essa lei prevê prisão de três a seis anos, além de multas que podem ser de R$ 4.960 e chegar até a mais de R$ 50 milhões, dependendo da extensão dos danos ambientais.

Entretanto, em Itabira não se tem notícia de que algum desses piromaníacos tenha sido multado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente por colocar colocar fogo, por exemplo, em lotes vagos, cujos proprietários são facilmente identificáveis.

Como não são sequer indiciados criminalmente a partir de ocorrências lavradas pela Polícia Ambiental Militar e que devem ser encaminhadas ao Ministério Público de Minas Gerais, via Curadoria do Meio Ambiente, para que se tomem as medidas legais punitivas e coercitivas cabíveis.

No país, mais de 90% dos incêndios florestais são provocados pela ação humana, seja pelo piromaníaco que sente prazer doentio ao ver a mata pegando fogo, como também pelo agronegócio que avança as suas fronteiras para as poucas áreas ainda intocadas, no Cerrado e na Amazônia, para abrir novas pastagens para o gado de cortes.

Além disso, não há também em Itabira uma forte campanha educativa informando sobre os riscos das queimadas e dos incêndios florestais para a saúde humana, como também para o meio ambiente e a biodiversidade.

A Prefeitura não faz campanha, ou se faz ocorre por meios oficiais de pouco alcance, como também não faz a mineradora Vale, que deveria promover educação ambiental nesse sentido até por força de condicionante permanente da Licença de Operação Corretiva (LOC), que é de 2000 – e que se encontra vencida desde 2026.

Itabira está encoberta pela fumaça de queimadas e incêndios florestais

Malefícios à saúde

Essa situação grave e sinistra, ocorre mesmo com a mineradora Vale, que deveria cuidar melhor de suas áreas que deveriam ser protegidas, Ministério Público, poder público municipal cientes desses crimes ambientais, assim como dos malefícios das queimadas e dos incêndios florestais, com danos significativos à saúde humana e ao meio ambiente.

Com as queimadas e os incêndios florestais são liberadas partículas finas de fuligens, contendo poluentes que agravam as doenças respiratórias, assim como ocorre também com a poeira de minério, ambas incidências agravam as rinites, faringite, como também os casos de bronquite, asma e doença obstrutiva crônica.

Além disso, a fumaça irrita os olhos, a garganta e as vias respiratórias. Causam profundo mal-estar com o ar irrespirável. Doenças cardíacas pré-existentes também são agravadas, idosos e crianças são mais vulneráveis aos efeitos da fumaça.

Tudo isso pressiona os serviços públicos de saúde, aumenta as hospitalizações e pode até levar à morte.

Danos ao meio ambiente

Os piromaníacos agem também na rodovia provocando incêndios florestais

Para o meio ambiente, os estragos são também enormes, com a perda de biodiversidade. Incêndios florestais e queimadas destroem habitats naturais, queimam a vegetação, matam animais e insetos.

Além disso, a situação se torna ainda mais grave em tempo de mudanças climáticas. Isso porque a queima de biomassa libera dióxido de carbono (CO₂) e outros gases de efeito estufa.

As queimadas e os incêndios florestais agravam toda essa situação que já é dramática, com consequências previsíveis que já estão aí, com a seca prolongada diminuindo a vazão de rios e nascentes, que sofrem com as queimadas destruindo também as poucas matas ciliares que ainda restam.

O rio Tanque está secando e até 2027, corre-se o risco de ficar inviabilizada a transposição de sua água para resolver “em definitivo” a escassez hídrica que assola a cidade de Itabira, uma vez que as principais outorgas estão com a mineração.

É assim que as cinzas e os resíduos das queimadas podem contaminar rios e lagos, afetando a qualidade da água.

Outra consequência é a desertificação do solo, pois as queimadas e incêndios florestais matam os micro-organismos que nele habitam, tornando-o menos fértil e propenso à erosão.

Impactos no país

As consequências dessa impunidade no Brasil são drásticas. Só em janeiro deste ano, a área queimada no país cresceu 248% em comparação com o mesmo mês de 2023. O bioma mais afetado foi a Amazônia, seguido pelo Pantanal.

Nos primeiros quatro meses deste ano, o país registrou 17.182 focos de queimadas, o maior número para esse período desde 2003. E a situação se agravou ainda mais com a estiagem prolongada e que deve se estender até outubro.

São dados preocupantes, que demandam ações firmes, punitivas e coercitivas para inibir os piromaníacos que estão por toda a parte, em Itabira e em todo o país. Essa situação tende a agravar ainda mais, se nada for feito para preservar a saúde da população e proteger os ecossistemas.

Por isso, já passou da hora de as autoridades, em todos os níveis, tomarem medidas drásticas contra os piromaníacos que deliberadamente, por diversão e prazer de ver a mata pegar fogo, ou para avançar com as pastagens sobre áreas que deveriam ser protegidas, colocando fim à impunidade e que seja exemplar.

 

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