Itabira amplia seu patrimônio histórico tombado, incluindo a Fazenda Conceição, da Vale
Foto: Reprodução/ Embaixada de Itabira
Carlos Cruz
Por meio do decreto municipal número 6.333, de 31 de dezembro de 2024, o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) procedeu ao tombamento de vários imóveis históricos de Itabira: os vestígios da forja de São José, a fazendinha da Conceição, o prédio do antigo Correios e a casa do quilombo do Capoeirão. As edificações se referem a períodos diferentes da história de Itabira, nos séculos XVIII, XIX e XX.
Com o decreto, a Prefeitura de Itabira visa restaurar e salvaguardar esses patrimônios históricos, como meio de preservar a memória de um município minerado ao longo desses séculos, que guardam momentos importantes da história do município que não podem ser esquecidos, para assim projetar o seu futuro ainda incerto após os sucessivos ciclos minerários em Itabira do Matto Dentro.
Pelo artigo 2º do decreto, “esses bens culturais ficam sujeitos às diretrizes estabelecidas na lei número 2.245/1984, não podendo ser destruídos, mutilados ou sofrer intervenções sem prévia autorização da Prefeitura e anuência do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Artístico de Itabira”.
Recursos para Restauro
Segundo o prefeito, com o tombamento é possível buscar recursos para a Prefeitura de Itabira restaurar os imóveis, aqueles cujos proprietários não têm condições de executar os serviços necessários. Isso enquanto será cobrado o restauro da fazenda Conceição, da mineradora Vale, sua atual proprietária.
“Com o decreto, estamos antecipando uma série de tombamentos, que inclui também a rua Major Paulo (que ainda conserva parte do calçamento com pedras de hematita, a outra é a rua Princesa Isabel, já tombada), que é para garantir a sua conservação e restauro. Para isso, queremos a participação da Vale na restauração e conservação da fazenda Conceição”, conta o prefeito.
“Quando o proprietário dispõe de recursos, ele é obrigado a restaurar e a conservar, o que esperamos que aconteça com esse tombamento”, ele acrescenta.
Fazenda Conceição
Dessa forma, a Vale passa a ter o dever legal de preservar e assegurar para as gerações atuais e futuras essa edificação, juntamente com o cemitério com as lápides, se é que elas ainda existem.
A fazenda Conceição foi construída pelos ingleses no início do século passado, no estilo colonial, com paredes de alvenaria de pedra e adobe, telhados de quatro águas e janelas com venezianas de madeira.
Era nessa fazenda onde em tantas noites pernoitaram Israel Pinheiro, Eliezer Batista, Raimundo Mascarenhas e todos os presidentes da Vale que tinham o hábito de vir e pernoitar em Itabira.
Infelizmente, mais recentemente esse patrimônio histórico de Itabira foi abandonado pela mineradora, degradado pela ação do tempo e também dos vândalos. Sem vigilância eficiente, tem sido recorrentemente invadida, com furtos de pertences e de tudo o que tem algum valor pecuniário, conta uma fonte que pede para não ter o seu nome revelado.
“Furtaram até a banheira de hidromassagem, retiraram as telhas e entraram pelo telhado, que, com goteiras, deixou o piso danificado. A Vale ofereceu a fazendinha ao clubinho, mas foi recusada”, conta essa mesma fonte.
Com o tombamento, em um aceno de boa vontade e de respeito à história da mineração em Itabira, a Vale bem que podia destinar a fazenda Conceição para virar um espaço de cultura e memória, quem sabe até um museu da Mineração, ainda que tendo acesso por um condomínio fechado que, mesmo nessa condição, conta com coleta de resíduos domiciliares, portanto, é espaço público, embora disponha de cancela.
Procurada pela reportagem, até o fechamento dessa reportagem, a Vale não se manifestou. O espaço permanece aberto.
Com o tombamento, em um aceno de boa vontade e de respeito à história da mineração em Itabira, a Vale bem que podia destinar a fazenda Conceição para virar um espaço de cultura e memória – quem sabe até um museu da Mineração, mesmo tendo o seu acesso por um condomínio fechado, que conta, mesmo nessa condição, com coleta de resíduos domiciliares pela Itaurb.
Procurada pela reportagem, até o fechamento dessa reportagem, a Vale não se manifestou. O espaço permanece aberto.
Forjas de São José
Itabira teve no passado, antes do advento da mineração em larga escala, uma economia diversificada, que chegou a ser comparada com a de Juiz de Fora, que na década de 1930 era chamada de a Manchester mineira.
Prova disso estão nos vestígios da antiga forjaria São José, localizada na zona rural de Itabira, onde eram produzidos implementos agrícolas diversos, tendo desempenhado um papel central na economia rural/industrial de Itabira.
Segundo a historiadora Maura Britto, autora da tese de doutorado que aborda inclusive a produção itabirana entre 1808 e 1888, a forjaria de São José teria sido construída por volta de 1821, por Joaquim Fernandes Antônio, cujos descendentes permaneceram no sítio, com a forja em atividade, até meados do século XX.
A tese encontra-se disponível online no Repositório Institucional da Universidade Federal de Ouro Preto, abordando as relações estabelecidas entre afrodescendentes e africanos nas atividades de produção e transformação do ferro em Minas Gerais, sobretudo nas localidades referentes ao Termo da Vila de Itabira do Mato Dentro.
De acordo com ela, o atual proprietário adquiriu o sítio por volta da década de 1970. “Alguns elementos já estão em processo de deterioração, em função da exposição às condições naturais. Por isso, a medida de proteção é importante e precisa vir acompanhada da restauração e contextualização do bem nesse período da história da cidade”, ela defende e propõe.
Reconstrução
Para a pesquisadora, a partir da documentação fotográfica referente às instalações, e considerando-se as definições que fundamentam os critérios de restauração e demais intervenções em bens móveis e imóveis, presentes nas Cartas Patrimoniais, é possível reconstituir essa forja, mantendo-se em evidência os elementos que datam do século XIX.
Para isso, ela defende que uma possibilidade para demonstrar a presença de épocas diferentes da forjaria, é utilizar materiais distintos nos elementos agregados, pois, assim, é possível “garantir a integridade do objeto restaurado, sem produzir falso histórico”.
Para a pesquisadora, a história das fábricas, forjas e tendas que se estenderam do Jirau ao Rio Peixe não é apenas um capítulo importante da história de Itabira, mas da própria siderurgia brasileira. “É uma história das técnicas de mineração, produção e transformação do ferro no Brasil, que precisa ser preservada e devidamente contada aos itabiranos, ao estado e ao país.”
Casarão de Capoeirana
No decreto municipal, foi reconhecido também como patrimônio histórico de Itabira o Casarão do Quilombo do Capoeirão.
Exemplo significativo da arquitetura tradicional quilombola no século XIX, o imóvel é um marco da história quilombola situado em uma comunidade formada por descendentes de escravizados que resistiram à opressão e buscaram a autonomia e a condição de libertos antes mesmo da Abolição da Escravatura, em 13 de maio de 1888.
Antigo prédio dos Correios
Já o antigo prédio dos Correios, situado na praça da Matriz, possui tipologia construtiva do movimento modernista que influenciou as edificações públicas brasileiras na década de 1950.
A edificação é diretamente ligada às memórias individuais e coletivas dos itabiranos, como símbolo da modernização dos serviços públicos e das transformações na dinâmica urbana da cidade.
Dentre os bens sob proteção, é um único imóvel de propriedade da Prefeitura de Itabira, adquirido recentemente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Após ser restaurado, deve abrigar o Arquivo Público de Itabira, de fundamental importância para se pesquisar, conhecer e entender a história de ocupação do município.
Está casa não tem nada com a cidade, é coisa da mineradora, eu cuspo quando passo em frente a vila dos engenheiros Conceição… Tô zonza
Ótimas notícias. Tudo faz parte da história de Itabira. Também foi tombado como Patrimônio Imaterial a Festa de Santa Cruz de Ipoema.
A respeito da mineração, é sempre uma longa história a ser contada e esta daí iniciou ainda em 1780, pouco ou mais, com os cunhados mineradores JOÃO FRANCISCO DE ANDRADE e FRANCISCO DA COSTA LAGE.
Tudo o mais nesta história tem de passar por eles e pelo sobrinho do primeiro e filho mais velho do segundo o Joaquim da Costa Lage, o nosso MAJOR LAGE.
E, prezada Cristina, dou-lhe toda razão pelo ato que faz quando passa por ali.
E este prédio horroroso onde era a sede dos Correios, anteriormente havia um sobrado que foi a moradia do minerador JOÃO FRANCISCO DE ANDRADE, depois passou ao Teatro da cidade e quando os Correios o comprou teve a capacidade de o demolir para construir essa baiúca horrenda.
Obviamente que a demolição foi com o beneplácito da Prefeitura, pois era o tal de jogar fora o antigo para construir o moderno, porém este moderno já decorrido umas cinco décadas ficou velho, decrépito e o antigo continua antigo.