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    Galinhas

    viladeutopiaBy viladeutopia28 de maio de 2022Updated:23 de julho de 20232 Comentários
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    Foto: Reprodução

    Rafael Barrett*

    Enquanto não possuía nada além da minha cama e dos meus livros, eu estava feliz. Agora eu possuo nove galinhas e um galo, e minha alma está perturbada. A propriedade me tornou cruel.

    Sempre que comprava uma galinha amarrava-a dois dias a uma árvore, para impor a minha morada, destruindo em sua memória frágil o amor à sua antiga residência. Remendei a cerca do meu quintal, a fim de evitar a evasão dos meus pássaros, e a invasão de raposas de quatro e dois pés.

    Eu me isolei, fortifiquei a fronteira, tracei uma linha diabólica entre mim e meu vizinho. Dividi a humanidade em duas categorias; eu, dono das minhas galinhas, e os outros que podiam tirá-las de mim.

    Eu defini o crime. O mundo encheu-se para mim de alegados ladrões, e pela primeira vez eu lancei do outro lado da cerca um olhar hostil.

    Meu galo era muito jovem. O galo do vizinho pulou a cerca e começou a corte das minhas galinhas e a amargar a existência do meu galo.

    Despedi o intruso a pedrada, mas eles pularam a cerca e avoaram para a casa do vizinho. Eu reclamei os ovos e meu vizinho me odeia.

    Desde então vi a cara dele na cerca, o seu olhar inquisidor e hostil, idêntico ao meu. Suas galinhas passavam a cerca, e devoravam o milho molhado que consagrava aos meus. As galinhas e o frango dos outros me pareciam criminosos.

    Persegui-os e cego pela raiva matei um. O vizinho atribuiu grande importância ao atentado.

    Ele não aceitou uma indemnização pecuniária. Retirou gravemente o corpo do seu frango, e em vez de comê-lo, mostrou-o aos seus amigos, o que começou a circular pela aldeia a lenda da minha brutalidade imperialista.

    Tive que reforçar a cerca, aumentar a vigilância, aumentar, em suma, meu orçamento de guerra. O vizinho tem um cão determinado a tudo; eu pretendo comprar uma arma.

    Onde está minha antiga tranquilidade? Estou envenenado pela desconfiança e pelo ódio. O espírito do mal tomou conta de mim.

    Eu era um homem.

    Agora eu sou um dono.

    *Galinhas”, do anarquista Rafael Barrett, Paraguai, 1910.

    ** Texto e foto extraídos de Filosofando.

     

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    2 Comentários

    1. Tita Lage on 3 de junho de 2022 08:19

      Delicioso conto

      Reply
    2. Antonio Barreto on 5 de maio de 2023 10:49

      Que belo conto! E tão atual… Onde poderia encontrar mais textos de Rafael Barrett?

      Reply

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