Entre a crise conservadora e a saída reformista no Reino Unido

Foto: EBC

Veladimir Romano*

Logo, logo, Boris Johnson virou mais incômodo do que nunca. No centro das atenções parlamentares, tem levado vários Conservadores a criticarem o seu líder e respectiva política. Frustrados, alguns deputados e até ministros, um, depois outro, foram abandonando o partido que detinha 365 parlamentares.

Primeiramente foram quatro ministros que deixaram a governança desde fevereiro. Entretanto, a bomba explodiu na semana em que 60 membros, entre deputados, secretários e mais dois ministros da confiança [Finanças e Saúde], puxaram forte o tapete do ex-primeiro-ministro britânico. E Boris Johnson caiu pesado.

Com tanta briga, parece que a oportunidade dos Trabalhistas chegou. Sem perderem a pitada do assunto, já se preparam para o caso de virem eleições antecipadas. Os resultados nas eleições locais do último mês de maio, mostraram isso mesmo com mudanças bruscas onde os Conservadores levavam vantagem de décadas ganhando tudo, perderam e feio.

Não esquecer que os Trabalhistas, durante 28 eleições locais, venceram apenas oito e, em 2019, sofreram derrota como não se via desde 1939. Simplificando, o Parlamento britânico recebe no máximo 650 membros, mantendo maioria quem consiga 326 deputados.

Na presente circunstância, estatísticas eleitorais já dão ao partido reformista vantagem de 10 pontos percentuais. Entretanto, outras sondagens da Savanta ComRes publicando diferenças, essas chegam com vantagens de até 14 pontos para os Trabalhistas hoje com 202 eleitos. Mas pode crescer como nunca, caso se antecipem eleições gerais. Se reconheça também graças a uma total falha de liderança dos pragmáticos Conservadores dando muito chute na Democracia. Eleições antecipadas iriam favorecer em larga escala aos reformistas.

Eventualmente, um outro dilema, com tanto entulho lançado no meio do caminho, desta vez não serão jornais, rádios, televisões ou comentaristas dando palpites aos eleitores os empecilhos. Esses saberão fazer suas escolhas acertadas, esclarecidos que ficaram ao longo das jornadas, incluindo a grande lição catastrófica que anda sendo o “Brexit” de péssima memória, quando 73% dos ingleses afirmaram que o ex-primeiro-ministro andava fazendo “mau serviço”, com aprovação de apenas 22%.

No horizonte, mantém-se a crise entre Conservadores, assim, dando espaço aberto aos reformistas [última vez dos Trabalhistas governando foi entre 1997-2010], que observam a boa e oportuna possível retorno ao poder depois de muitos anos fora.

Resta unicamente conhecer qual o próximo líder “torie” dando um chega para lá nas sombras inoportunas de Boris Johnson, antes que ele ainda consiga atrapalhar mais. O historial dos chefes de governos liderados pelos Conservadores sempre acaba mal, cada um empurrando o outro para fora da carroça…

É assim que não surpreende a frase final no discurso de Boris Johnson, parafraseando Winston Churchill quando no final da Grande Guerra, perdendo a eleição, disse: «Na frente, temos os nossos adversários, mas nas nossas costas, levamos os inimigos». Aqui, o “adversário” é mais confiável do que membros do próprio partido que, na hora incerta, viram “inimigos”.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.

 

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