Dom Gubiotti, bispo de Itabira, disse em homenagem na Câmara que momento é de defender a democracia
Bispo diocesano enfatizou a necessidade de união para não haver retrocessos no país (Foto: Heitor Bragança)
Homenageado com moção honrosa pela Câmara Municipal de Itabira, nessa terça (5), pelo conjunto de seu trabalho pastoral e, em especial, pela realização do 27º Grito dos Excluídos em Itabira, no dia 7 de setembro, dom Marco Aurelio Gubiotti manifestou preocupação com o momento histórico que o país vive.
“É com o sentimento de responsabilidade em defesa da vida e daqueles que são menos favorecidos que a igreja Católica se sente no dever, neste momento histórico, de defender a democracia”, ressaltou dom Gubiotti, em seu breve pronunciamento na Tribuna da Câmara.
Ao agradecer a homenagem, o bispo diocesano ressaltou a importância de unir forças nessa luta pela vida, diginidade humana e democracia, bandeiras essas que devem ser da maioria do povo brasileiro. E salientou o significado da homenagem:
“Acho importante o legislativo do município de Itabira oferecer esse reconhecimento por algo que vem ocorrendo, somando forças”, disse ele, dirigindo-se aos parlamentares itabiranos.
“É preciso assumir posições coerentes com a proposta de Jesus de amor e fraternidade”, acrescentou o bispo, solidarizando-se com os moradores que estão para ser despejados de parte dos bairros Bela Vista e Nova Vista.
A remoção é para a mineradora Vale construir um grande muro de contenção de rejeitos em caso de ruptura de uma das estruturas do Pontal, que serão descaracterizadas.
A homenagem ao bispo foi iniciativa do vereador Júlio “Contador” César de Araújo (PTB) – e foi aprovada por unanimidade. “O Grito dos Excluídos não é da igreja, mas de grupos da sociedade civil. A igreja Católica é um desses grupos. Participa tendo papel de liderança, mas como membro da sociedade”, explicou o bispo de Itabira.
Solidariedade e apoio
Também em nome da Diocese, ao discorrer sobre como foi o 27º Grito dos Excluídos em Itabira, o secretário diocesano de pastoral, Vicente Bueno, lembrou as mortes ocorridas com a pandemia, muitas por omissão e negligência do governo federal.
“Em plena pandemia, sabemos quantos desafios teremos pela frente, sociais e humanitários, visando resgatar a dignidade de cada um. Feridas foram abertas por falta de vagas de leitos nos hospitais, pela falta de moradia, de trabalho e baixos salários, pela falta de renda, com pessoas endividadas, sem perspectivas de futuro, caindo no desespero.”
Conforme ele ressaltou, o grito foi também para dar um basta a todo preconceito, racismo, violência de gênero e discriminação com aqueles que lutam pela verdadeira independência que o país ainda não tem. “A cruz não deve ser sinal de rendição, mas de luta e redenção.”
Segundo Bueno, o grito em Itabira contou com 650 participantes, mobilizados por 48 entidades, entre sindicatos, ongs, pastorais, movimentos sociais e políticos.
Dentre as entidades, ele ressaltou a importância do Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração, “que luta contra o despejo nos bairros Bela Vista e Nova Vista”.
“Andamos (na passeada do Grito dos Excluídos) ouvindo as vozes dos moradores e sentindo o mau-cheiro do esgoto que corre a céu aberto.”
Saiba mais aqui: Itabira protesta contra Bolsonaro e Vale pela ameaça de remoção de moradores nos bairros Bela Vista e Nova Vista
Vídeo documentário resgata um pouco da memória da Vila 105
Com apoio da Misereor, uma organização católica da Alemanha, as Brigadas Populares e a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale lançaram, nessa terça-feira, a segunda edição da série Muito Além da Lama: Territórios Minerados.
Nesta edição foram ouvidos moradores itabiranos despejados no passado pela mineradora Vale com a destruição de territórios tradicionais.
Conta um pouco da história da família Aleixo, sua identidade e memória com a antiga Vila 105, como exemplo de pessoas que em Itabira historicamente vivem as consequências de ser um território minerado. A vila foi extinta com a desapropriação dos moradores pela então estatal Vale.
Assista aqui: https://youtu.be/RcaRRrTij4Q
Foi o que ocorreu também com moradores da parte alta da Vila Paciência e mais recentemente também da parte baixa. É história que repete o ocorrido com os moradores do Explosivo, do Rio de Peixe e Camarinha. Foram todos removidos para atender às demandas operacionais da mineração.
No total, a série promete produzir cinco curtas na cidade onde a Vale nasceu. O primeiro vídeo foi lançado em 18 de agosto.
“Retrata a realidade de Itabira e como um grupo múltiplo de pessoas se juntaram no Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração de Itabira e Região para a defesa de seus territórios e dos seus direitos”, ressaltam os seus organizadores.
A série já retratou a realidade de Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto, que fica abaixo de uma grande barragem de rejeitos da usina de Timbopeba.
Ficha técnica:
Direção, Roteiro e Produção: Ana Malaco
Imagens e Edição: Uriel Silva