COP30 e o papel estratégico do Brasil na governança climática e alimentar

Belém do Pará é uma porta de entrada para a Amazônia, onde tradição, fé e sabores únicos se unem em um cenário de rios e natureza exuberante

Foto: Raphael Luz/
Agência Pará/gov.br

Evento mundial será um teste de liderança para o Brasil e um termômetro para o futuro da governança ambiental global. O mundo espera avanços concretos, e o fracasso nas negociações não será apenas uma derrota diplomática, mas um risco real para o planeta

Por Thomas Law*

Em novembro, Belém do Pará será o palco da COP30, tornando-se o centro das discussões globais sobre mudanças climáticas. Além das questões ambientais, o evento também abrigará importantes negociações econômicas e geopolíticas.

O Brasil desempenhará um papel fundamental como articulador na busca por consenso dentro do BRICS – grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, com foco na promoção de cooperação em diversas áreas, como economia, comércio, políticas de desenvolvimento sustentável – e também no fortalecimento de sua influência na comunidade internacional.

O governo brasileiro estima que são necessários pelo menos US$ 1,3 trilhão para enfrentar as mudanças climáticas, mas o acordo fechado na COP29, ano passado, em Baku (Azerbaijão), garantiu apenas US$ 300 bilhões. Esse montante é considerado insuficiente, e a COP30 será um momento crucial para pressionar os países desenvolvidos a assumirem compromissos mais concretos.

O Brasil tem vantagens estratégicas que o colocam em posição de liderança nessas negociações. O economista Marcos Troyjo destaca que o país é uma superpotência alimentar e um dos maiores exportadores de sustentabilidade do mundo.

Com abundância de recursos hídricos e uma agricultura adaptável, o Brasil está preparado para atender à crescente demanda global por alimentos de forma sustentável. A tendência de queda populacional em 184 países nas próximas décadas reforça essa importância, já que poucos deles terão capacidade de aumentar a produção agrícola sem comprometer o meio ambiente.

A geopolítica também favorece o Brasil. A guerra tarifária entre Estados Unidos e China fez com que Pequim restringisse importações agrícolas americanas, consolidando o Brasil como principal fornecedor alternativo. Esse cenário reforça a necessidade de um esforço diplomático para que o país se posicione como referência em agro sustentável e consiga atrair investimentos para a preservação da Amazônia, que será um dos temas centrais da COP30.

O desafio, no entanto, não será apenas econômico. A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, sob a gestão Trump, enfraqueceu os esforços multilaterais, criando um vácuo de liderança. A China, maior produtora mundial de energia renovável, tem assumido um papel decisivo na transição energética e se coloca como uma peça-chave para impulsionar os debates na COP30.

O Brasil, como anfitrião da conferência e presidente do BRICS, terá a responsabilidade de unir interesses diversos e buscar um consenso. O sucesso dessa estratégia dependerá da capacidade do bloco de apresentar uma posição coesa e de pressionar os países desenvolvidos a cumprirem suas obrigações para amenizar as mudanças climáticas.

A COP30 será um teste de liderança para o Brasil e um termômetro para o futuro da governança ambiental global. O mundo espera avanços concretos, e o fracasso nas negociações não será apenas uma derrota diplomática, mas um risco real para o planeta.

*Thomas Law é advogado, doutor em Direito Comercial pela PUC/SP e presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Jurídicas (IBCJ) e do Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina)*

 

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