Com mais uma estrutura desativada no Pontal, é hora de começar a implementar o Plano Regional de Fechamento Integrado das Minas de Itabira

Foto: Reprodução/
Ascom/Vale

A mineradora Vale S.A informa que concluiu, neste mês, as obras de descaracterização de mais uma estrutura construída pelo método a montante. Trata-se do Dique 2 do Sistema Pontal, localizado no Complexo Cauê, em Itabira (MG). Esse dique não recebia rejeitos desde o fatídico ano de 2019, por força de cumprimento da nova legislação de barragens.

A eliminação pela Vale dessas estruturas ocorre por força da legislação pós Brumadinho, quando às 12h28min20s do dia 25 de janeiro ocorreu o rompimento da Barragem I (B 1), acarretando, em sequência, o rompimento das barragens B-IV e B-IV-A da mina de Córrego do Feijão, do Complexo Paraopeba II.

O desastre provocou a morte de 272 pessoas – entre elas, dois bebês, e duas grávidas – além de ter acarretado impactos com danos ambientais irreparáveis, com prejuízos socioeconômicos em mais de 20 municípios não só da bacia do rio Paraopeba, mas com reflexos na região metropolitana de Belo Horizonte e em outras regiões de Minas Gerais.

Em tom triunfal, a mineradora informa também que a eliminação do Dique 2 do Sistema Pontal é a 13ª estrutura desativada no país e a sexta estrutura descomissionada em Itabira com essa característica de alteamento a montante, método considerado menos seguro.

“Com isso, a empresa atinge a conclusão de mais de 40% das 30 estruturas previstas para serem eliminadas no Programa de Descaracterização, por terem sido construídas pelo mesmo método da barragem de Brumadinho”, informa a mineradora.

Plano de Fechamento de Minas

Projeto de Fechamento de Minas de Itabira prevê fazendas de macrófitas e cultivo de plantas medicinais para a atrair indústrias farmacêuticas ao município

O Dique 2 foi a sexta estrutura a montante eliminada em Itabira, de um total de dez barragens incluídas no Programa de Descaracterização. Anteriormente foram eliminadas, em setembro de 2022, a barragem Ipoema, na Mina do Meio, e do Dique 3, também do Sistema Pontal, além dos Diques 4 e 5 do Sistema Pontal e o Dique Rio do Peixe. Ainda faltam descaracterizar outros diques no Pontal, além de duas estruturas semelhantes na barragem Conceição (Zé Cabrito).

Com as descaracterizações dessas estruturas, está na hora de a mineradora começar a colocar em prática o que dispõe o Plano Regional de Fechamento Integrado das Minas de Itabira (PRFIMI), que a Tüv Süd Bureau de Projetos e Consultoria elaborou para a Vale, encaminhado em 2013 ao antigo Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM).

Por esse PRFMI, tornado público neste site notícias, consta a proposta do Ecoparque Cauê, cujo “driver indutor” deve ser “a produção de insumos terapêuticos para hospitais e indústria farmacêutica, com cultivo de plantas medicinais nas pilhas de estéril dispostas nas cavas exauridas – e também no platô da pilha Convap”.

Daí que cabe perfeitametne da início a implementação do PRFIMI, incluindo nesse tipo de reabilitação produtiva tanto os diques desativados, como também outras áreas já mineradas e que ainda estão descobertas, gerando mais poeria na cidade.

O documento apresentado ao antigo DNPM faz referência à política já em curso de tornar o município polo macrorregional em saúde, com a diversificação e fortalecimento do setor de atendimento médico-hospitalar-farmacêutico. Inclui, inclusive, a construção de um novo hospital na cidade.

Para saber mais, acesse também aqui:

Cultivo de plantas medicinais e novo hospital constam, em 2013, do Plano de Descomissionamento das Minas de Itabira

“Procurou-se privilegiar, nesse ecoparque industrial, ênfase em áreas das ciências médicas que apresentem um alto potencial de retorno monetário, favorecendo, portanto, a reanimação da economia da cidade de Itabira após o encerramento das atividades de mineração”, frisa o documento, um calhamaço que Vila de Utopia compartilha para conhecimento geral aqui:

https://viladeutopia.com.br/wp-content/uploads/2022/01/Fechamento-Itabira-OS_16_RC-SP-046-13_R1_Vol_I-II-4.pdf

Cumprimento da legislação

A eliminação das barragens a montante da Vale no Brasil é uma das principais ações da empresa para evitar que rompimentos como o de Brumadinho voltem a acontecer, assegura a mineradora.

“As obras são complexas, trazem riscos e, por isso, as soluções são customizadas para cada estrutura. O processo é realizado de forma cautelosa, tendo como prioridade, sempre, a segurança das pessoas, a redução dos riscos e os cuidados com o meio ambiente”, é o que a empresa assegura.

Informa ainda que desde 2019 foram investidos cerca de R$ 6,2 bilhões no Programa de Descaracterização da Vale, sendo que somente em 2022, cinco estruturas foram completamente descaracterizadas.

Das 13 barragens a montante já eliminadas, dez ficavam em Minas Gerais (barragem 8B, Dique Rio do Peixe, barragem Fernandinho, Diques 2, 3, 4 e 5 da barragem Pontal, Dique Auxiliar da barragem 5 e as barragens Ipoema e Baixo João Pereira) e três no Estado do Pará (Diques 2 e 3 Kalunga e barragem Pondes de Rejeitos).

“Todas as barragens a montante da empresa no Brasil e as ações implementadas nessas estruturas são objeto de avaliação e acompanhamento pelas equipes técnicas independentes, que fazem parte de Termo de Compromisso firmado com os Ministérios Públicos Estadual e Federal e com o Estado de Minas Gerais, representado pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD). A eliminação de estruturas construídas a montante é um compromisso da Vale, além de ser uma exigência legal.”

Estrutura de contenção no Pontal

A empresa informa também que, para “aumentar a segurança e reduzir impactos em caso de emergência, foi construída preventivamente uma Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ) para a realização das obras de eliminação dos diques Minervino e Cordão Nova Vista, da barragem do Pontal”.

Diz ter utilizado na construção dessa estrutura tecnologia de tubos metálicos por um método que reduz a vibração, geração de poeira e ruído. Entretanto, toda essa movimentação tem gerado muitas reclamações entre os moradores pelos impactos de vizinhança e incertezas por ainda não saberem quantas e quais residências terão de ser removidas para a construção de uma segunda ECJ.

Saiba mais aqui:

Moradores dos bairros Bela Vista e Nova Vista relatam ao MPMG casos de violação de direitos pela Vale no Pontal

 

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2 Comentários

  1. É historicamente doloroso que o Pico do Cauê, agora é denominado de, Complexo do Cauê. Freud explica.
    Antes eu pensava que o buraco do Complexo do Cauê devia ser recomposto. Mudei de ideia, hoje penso que o BURACO deve ficar intacto. Um grande buraco como testemunho da derrota incomparável. E como dói! como lastimou o poeta Drummond. Itabira está sendo arrasada pelo neocapitalismo dos estrangeiros, e claro com apoio do Estado brasileiro. Olhai por nós Nossa Senhora Aparecida!

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