Coligações na Bahia mostram o rumo para as eleições nacionais com o PT abrindo mão de candidatura própria ao governo do estado
Palácio de Ondina (Foto: Reprodução)
Rafael Jasovich*
A sucessão estadual na Bahia tem ao menos dois ingredientes que a deixam entre as mais interessantes deste ano.
Primeiro, colocará à prova os quase dezesseis anos de governos petistas no estado, a segunda maior hegemonia partidária no país.
Segundo, testará o cacife eleitoral de seu principal adversário, o ex-prefeito de Salvador Antônio Carlos Magalhães Neto (União Brasil), o ACM Neto, herdeiro político de Antônio Carlos Magalhães que por anos comandou com mão de ferro a política local.
Sua campanha vai se apoiar em um tripé: as referências ao avô, as críticas ao PT e propostas de governo. “É no exemplo de ACM que eu encontro a certeza de que a Bahia pode muito mais”, disse ele já no lançamento de sua candidatura, no fim de 2021.
Apesar de liderar as pesquisas com taxas em torno de 50%, ACM Neto terá uma dura disputa pela frente porque o carlismo vive raro momento de sua história: no tabuleiro das alianças, está em inferioridade diante da ampla coalizão governista comandada pelo PT (ela inclui 14 partidos, num arco que vai até o Centrão).
E mais ainda sendo obrigado a manter distância da outra corrente majoritária da corrida eleitoral nacional, o bolsonarismo. Vai ser difícil se equilibrar nessa corda bamba.
O grupo que está no poder estadual terá o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem o voto de 50,4% dos baianos, segundo o instituto Paraná Pesquisas.
Por uma questão eleitoral, ACM Neto, cacique do recém-criado União Brasil, rechaça aproximar-se de Bolsonaro, figura tóxica no estado, onde 66% desaprovam a sua gestão.
Além disso, o bolsonarismo mantém na manga a candidatura do ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos).
Com o objetivo de evitar um total isolamento, ACM Neto procura desnacionalizar a campanha na Bahia.
Dentro do União Brasil, ACM Neto está no grupo defensor de que os palanques estaduais devem ser formados independentemente das decisões do partido relacionadas à corrida ao Palácio do Planalto.
O presidente do partido, o deputado Luciano Bivar fala em abrir mão de uma candidatura própria ao Palácio do Planalto para preencher o espaço da terceira via na hipótese de um acerto entre União, MDB, PSDB e Podemos.
Interessaria a ACM Neto o surgimento de um candidato competitivo na terceira via, mas isso não tem ocorrido e o deixa em desvantagem. O que resta a ele é transformar o limão em limonada, com uma candidatura solteira para não se indispor com eleitores do campo adversário.
O principal risco da estratégia é que a polarização nacional acabe dragando as disputas estaduais, deixando a pé aqueles que não estiverem identificados com Bolsonaro ou Lula.
Do lado adversário, à esquerda, também há ajustes a serem feitos no quebra-cabeça que permita acomodar PT, PSD e PP na chapa majoritária (governador, vice e senador).
O caminho foi facilitado após o senador e ex-governador Jaques Wagner (PT), que derrotou o carlismo em 2006, desistir de ser candidato para, ao que tudo indica dar lugar ao senador Otto Alencar (PSD), atual vice governador do estado
O movimento também contempla um esforço de Lula para costurar uma aliança nacional com o partido de Gilberto Kassab.
Alencar pode tirar votos de ACM Neto, já que é egresso do carlismo, e contaria com um exército: o PSD é a sigla que mais elegeu prefeitos no estado em 2020 (108) – os aliados PT e PP elegeram, somados, 124 prefeitos, entre 417 municípios.
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, ativista da Anistia Internacional.