Cine Serra apresenta a primeira sessão de cinema nos Alves com debate sobre água e saneamento básico

Um dos povoados mais badalados no município de Itabira para os que curtem a natureza sem dela nada tirar, Serra dos Alves está vivendo momentos de descobertas e pertencimento com muita animação e empolgação com os resultados que já estão surgindo.

O guia e líder comunitário Geraldo Raul expõe algumas prioridades (Fotos: Carlos Cabeça, Carlos Cruz e Divulgação)

Com a proposta de valorizar o sentimento de pertencimento, valorizando o protagonismo comunitário, surge a ideia já colocada em prática de reunir moradores e visitantes para debater a realidade local por meio de sessões pipoca.

Com uma ideia na cabeça e um projetor, melhor um computador com uma tela que pode ser qualquer fundo branco, surge o Cine Serra com o propósito de periodicamente exibir filmes temáticos e provocar debates entre moradores e visitantes.

A exibição pode acontecer na praça, no centro comunitário, ou em qualquer outro lugar onde se possa projetar a película, quer dizer, o filme na telona do computador, um pano branco na parede ou estendido em um varal ou trave de futebol.

A primeira sessão exibida pelo Cine Serra foi no dia 24 de novembro, um sábado à noite, no centro comunitário de Serra dos Alves, no distrito de Senhora do Carmo, Itabira, MG.

Motivação

Comunidade de Serra dos Alves tem se organizado para reivindicar direitos, definir prioridades e diretrizes para uma vida comunitária e turística sustentável

“A proposta do cineclube foi motivada pelo desejo dos moradores por uma ação coletiva. Foi assim que surgiu a ideia de exibir um filme em um local público, com acesso livre e gratuito”, conta uma das mentoras do cineclube, a terapeuta ocupacional Nathalia Gontijo.

O sentimento de pertencimento é cada vez maior no povoado

Nessa boa ideia foram se juntando moradores que veem na proposta uma oportunidade para a comunidade se reunir e trocar ideias em torno das temáticas apresentadas em cada sessão de cinema. A artesã e moradora Anna Luiza Drummond Cabral é outra entusiasta da ideia de mobilização comunitária por meio da sétima arte.

“Esperamos com o cinema agregar valores como cidadania, saúde, responsabilidade social e ambiental”, diz ela, que acompanha também as reuniões dos moradores, que estão se organizando em associação para reivindicar os direitos dos moradores da Serra dos Alves.

Na forma de colegiado, a comunidade vem estabelecendo diretrizes de boa convivência, busca implementar oportunidades de melhorias que sejam boas para todos. O Cine Serra é exemplo de iniciativa comunitária que tem tudo para dar certo, incorporando-se ao calendário cultural do povoado.

Preservação

Nathalia Gontijo e Paulo Therezo: saneamento básico em pauta

Na primeira sessão de cinema a comunidade ofereceu ao público suco e pipoca, que não pode faltar. A oferenda tornou a mostra de cinema mais atraente, descontraída e festiva. Foi uma sessão dupla.

A primeira exibição foi do curta Abuela Grillo, uma animação que de forma lúdica apresenta o valor da água como um bem natural e universal. A exibição possibilitou uma discussão sobre o seu uso correto, assim como formas de organização popular já existentes contra a privatização desse bem natural.

A animação Abuela Grillo é também exemplo de produção coletiva bem-sucedida. Foi produzida na Dinamarca pela Comunidade de Animadores Bolivianos em parceria com coletivo dinamarquês The Animation Workshop.

Após a exibição, moradores e visitantes concluíram que só a mobilização popular faz avançar as conquistas comunitárias, assim como assegura a permanência dos direitos já alcançados – e valores que são caros à comunidade.

Mobilização

Mesa redonda debate a necessidade de saneamento básico e uso correto da água

Na segunda mostra o tema não foi menos importante – e está relacionado ao primeiro. Foi exibido o longa Saneamento Básico, do diretor Jorge Furtado, com Fernanda Tôrres, Wagner Moura, Camila Pitanga, Tonico Pereira, Lázaro Ramos.

A temática do filme é bastante oportuna para o povoado, que começa a sofrer com os efeitos da falta de saneamento básico adequado. No filme, moradores de Linha Cristal, uma fictícia e pequena vila de descendentes de colonos italianos, na serra gaúcha, se reúnem para construir uma fossa há muito prometida e sempre adiada pela administração municipal.

Comunidade reunida em associação apresenta desafios e responsabilidades

Descobrem que a Prefeitura dispõe de R$ 10 mil para a produção de um vídeo, um recurso disponibilizado pelo governo federal para esse fim. E que se não for usado, teria que ser devolvido. Os moradores vislumbram na produção do vídeo um modo de obter recurso para a construção da fossa sem a qual o esgoto mal cheirava todo o povoado.

O documentário teria de ser uma ficção – e assim criaram o Monstro da fossa, representando os entraves que a comunidade enfrenta para conquistar seus direitos.

O filme também reforça a certeza de que só a mobilização popular é capaz de mudar o rumo da história até então marcado pelo descaso e abandono pelas autoridades municipais.

Saneamento

E projeta ações para o futuro

Após a exibição do filme, o engenheiro sanitarista Paulo Therezo apresentou alguns aspectos que considera importante do Plano Municipal de Saneamento Básico, documento aprovado em 2016 pela Câmara Municipal de Itabira e já sancionado pelo prefeito. No plano estão contidos os objetivos e as metas para complementar o saneamento básico em todo o município, com prazos de execução.

Para o povoado de Serra dos Alves estão previstas várias medidas, entre elas a construção de fossas sépticas nas residências que ainda não dispõem dessa medida de controle ambiental, assim como as adequações e manutenção das existentes.

Saneamento básico é direito humano, uma garantia de saúde, defende Paulo Therezo

“Esse plano foi muito pouco discutido com as comunidades, mas é importante conhecê-lo para saber o que reivindicar da Prefeitura”, propôs o engenheiro ambientalista aos moradores.

“O projeto Cine Serra pretende organizar outras sessões de cinema e também promover ações recorrentes com o objetivo fortalecer as iniciativas locais por meio de uma abordagem conjunta, para que todos possam contribuir com o que dispõem”, conta Anna Luiza Cabral.

A ideia de produzir um documentário local com participação de moradores e convidados não está descartada. E já é grande no povoado a expectativa para a próxima sessão pipoca.

Posts Similares

3 Comentários

  1. Que iniciativa maravilhosa, o povo merece esse estímulo. Tomara que continuem o projeto e promovam também uma ação para orientação quando ao cuidado com o lixo. Acho a Serra muito suja e o lixo é jogado em qualquer lugar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *