Chove pó de minério em Itabira

Fotos: Reprodução

Carlos Cruz

Por incrível que pareça, a forte ventania que antecedeu a tempestade que caiu em Itabira no início da tarde de sábado (29), encobrindo a cidade com partículas de minério de ferro e areia (sílica) em suspensão, não fez ultrapassar a média geométrica das Partículas Totais em Suspensão (PTS), calculada com base nas 24 medições diárias pela rede automática de monitoramento da qualidade do ar.

É o que se pode verificar pelos dados divulgados no portal ItabirAR, inaugurado em 21 de setembro do ano passado pela Prefeitura, com base nos índices disponibilizados pela rede, que é implementada e mantida pela mineradora Vale, principal agente poluidor da cidade.

De acordo com as medições realizadas nas quatro estações (EAMA11 – Chacrinha/Pará; EAMA21-Praça do Areão; EAMA31-João XXIII; EAMA41-escola Premen), a média geométrica da poeira medida em Itabira neste sábado ficou abaixo de 61 microgramas por metro cúbico (μg/m³).

Resultado bem abaixo do que é estabelecido pela resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que admite até 240 μg/m³, conforme pode ser constatado no quadro abaixo:

Fonte: ItabiraAr/SMMA/PMI

 

Diluição

Ocorre que os dados horários desse monitoramento não são divulgados no portal, ainda que cheguem, simultaneamente, aos computadores da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e à Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam).

Além disso, o que é divulgado tem de passar por validações pela própria empresa poluidora. Com a média geométrica, a poluição em uma determinada hora do dia, como foi nesse sábado, acaba sendo diluída, uma vez que antes da ventania e depois, com o início da chuva, a poluição diminui, fazendo cair também a média geométrica.

Mas para quem sofre com a poeira em suspensão, a população itabirana, esses índices divulgados nada representam. O que importa é constatar que a cidade foi encoberta pela poeira vinda das minas, afetando a saúde das pessoas com doenças respiratórias (rinite, sinusite, amigdalite, laringite entre outras infecções), com fortes agravos à saúde de pessoas mais suscetíveis.

Mitigações

Poeira com partículas de minério em suspensao invariavelmente encobre toda a cidade sempre que ocorrem ventos fortes

A resposta padrão da Vale, sempre que ocorre a forte poluição do ar na cidade, é que tem adotado as medidas preventivas e mitigadoras cabíveis. Invariavelmente atribui as ocorrências às condições meteorológicas com elevada velocidade dos ventos.

Assegura, ainda, que sempre que isso ocorre, imediatamente paralisa as atividades de extração e transporte nas minas, que diz ser para garantir a segurança dos operadores e reduzir a emissão de poeira.

Diz ainda que são mantidas as ações de aspersão de água nas frentes de lavras, pilhas de homogeneização e de produto, além de aspersão nas vias das minas com caminhões-pipa.

É fato facilmente constatável que essas medidas não têm sido suficientes. Já não se vê, como ocorria no passado, o sistema de aspersão fixa e permanente ao longo dos mais de 15 quilômetros entre a mina Cauê e Conceição.

Esses aspersores, além de manter as vias de acesso irrigadas para diminuir a poeira, aspergiam também sobre os taludes – o que podia ser visto da cidade sempre que entravam em operação. Esses aspersores fixos já não existem mais.

Além disso, a forte emissão de poeira é resultado da ação dos ventos sobre áreas mineradas descobertas. Falta, portanto, ampliar as áreas revegetadas, além da aplicação de polímeros (cal/cimento) nas áreas sem vegetação e que ainda serão mineradas.

É preciso também adensar o cinturão verde entre as minas e a cidade, que hoje está bastante raquítico, sem que houvesse recomposição das perdas ao longo dos anos.

Fiscalização

Cabe aos órgãos ambientais, inclusive ao Codema, fiscalizar e acompanhar a execução dessas medidas. E cobrar novas ações mitigadoras.

Sem isso, a população vai continuar sofrendo com a poeira de minério em suspensão, com o absurdo de se ter de ouvir da empresa, e das autoridades ambientais, que está tudo dentro dos parâmetros legais.

Se assim estão, é preciso então redefinir esses parâmetros, como ocorreu com a resolução Codema, que “caducou” com a nova edição da resolução Conama de 2018 – e que apresentava parâmetros mais restritivos.

É preciso também redefinir a administração e o gerenciamento das estações automáticas de monitoramento, hoje a cargo da mineradora Vale, que faz a validação dos índices divulgados.

Uma contradição que, pelo visto, está longe de ser equacionada. Isso enquanto a rede automática for mantida e operada pelo principal agente poluidor da cidade.

 

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