Casa Velha: lembranças de um tempo que quase se perde na história
José Norberto de Jesus*
Um bar memorável na vida noturna de Itabira, cúmplice de tantos casos e muitas lembranças que marcaram um tempo cultural da cidade, uma história
Entre um teatro e um trago a vida acontecia nos palcos e nas mesas do bar Casa Velha. O passado equivale-se a um livro subdividido em histórias a surpreender-nos.
Relação que advém da importância de cada caso, atribuída ao personagem principal: A Casa Velha é ainda palco de tantas recordações que, na medida que o tempo passa, seu valor memorial cresce e enriquece de conteúdo também.
São páginas que descrevem o cotidiano que remontam momentos de ótimos casos que relembram passagens, que marcaram a vida de muitos frequentadores da Casa, costumeiramente após a apresentação de espetáculos e outros eventos, contrários aos tempos atuais. Período que hoje, nos remete a um enorme vazio….
Casa Velha, uma questão de estilo
Uma viagem ocorrida naquele tempo, repleta de novidades, onde estilo ditava a moda. O tempo passa, os fatores inerentes à nossa vontade, transformaram a tudo e a todos. Nessa vida que segue, colhemos idades e muitos dos que protagonizaram essa época, se foram.
Quem ficou, surfa nessa onda da Covid-19, era do “novo normal”, quem diria? A Terra parou e não contávamos com o “tranca ruas”, menos ainda, que o governo optasse pela ‘Peste’ e deixasse o povo em penúria.
Os frequentadores assíduos das noites frenéticas da Casa Velha, sob o comando do Tito, um Garrucheiro, lembram e sabem de sua importância para as pessoas que conciliam arte de beber com Cultura? Pois é, descansa em paz também.
A Casa Velha foi um ponto de encontro reluzente de cada noite da moçada bonita, inveterada, cheia de mistérios e romantismo. Ou, quem sabe, a cena ousada de uma bela mulher imersa na banheira e de copo nas mãos, consagrando a juventude?
Eh! Saudades inseridas nas lembranças preservadas com carinho, cujas recordações cravadas em nossas memórias do livro da “Velha Casa”, revelem nesse tempo mórbido de agora, que o amor perdeu a vez e seu calor.
Os bares silenciaram, a poesia se distanciou, o povo emudeceu. O que era costumeiro e atual, foi substituído pelo reprise do passado remoto.
Os bate-papos intermináveis que se perdiam no apagar da noite, virou breu, de céu estrelado e enluarado que, ali, tínhamos “ponto” na carteira assinada, não existe mais, a cultura está em stand by, um fato terrível de consequências perigosas, o que significa que teremos muitas lutas “no por vir”.
Os habituais abraços e beijos de tempos recentes por ora, nem pensar, mudaram nossos hábitos, “Tutu Caramujo” de onde está, continua a cisma com a cidade… Recordo-me que muitas vezes éramos os primeiros a chegar e, sem pressa, os últimos a sair.
O vai e vem, o entre e sai das pessoas no interior do bar era divertido, atraente, o movimento sem igual não incomodava, combinava com o agito cultural tão natural, era usual, que dava gosto sair de casa àquela época. A vida pedia comemoração por sermos jovens cheios de expectativas, de utopias.
Diferente dos tempos atuais em todos os sentidos e circunstâncias, que ora vivemos. As nossas noites estão sem graça, sem tempero nem sabor, o brilho ficou opaco virtual.
Em tempos de Casa Velha, abraços e beijos de baton libidinosos sem limites eram permitidos, tudo era fora do “script” ou se diz, dentro do normal,
Hoje vivemos esse terror causado pela pandemia que entristece e mais parece ironia que traz melancolia.
A noite de lua cheia ficou sem graça, se não posso sair de casa com medo de apanhar o vírus assustador e ainda indomável, que a todos amedronta ou aterroriza.
O vírus ganha força, abala a paz de espírito do povo calado e triste, descontente inventa, reinventa. Mas nada substitui o prazer de sentar em um bar e poder amar, brincar e, quem sabe, até brigar pelas boas ideias.
Mas, se hoje nos falta a velha Casa Velha, o alento é rememorar as noitadas alegres que refletia a beleza e transbordava energia jovial, de tal modo que nos eram indiferentes à perturbação interminável dos barulhos da mineradora.
Essas lembranças furtivas de prazer nos traz alento. É certeza de que podemos vencer esta inesperada e não programada guerra.
Que sejamos fortes e gritemos de nossas janelas: Viva a Cultura!
*Colaborou Cristina Silveira
Foto: Reprodução
Bela memória: da banheira, da cultura, dos amores e tradições. Tudo se podia, ate lavar a alma. Mas era tempo aflorado, de contato, de beijo e carne. Foi uma casa da noite que se repetiu matutinamente tempos depois, aos sábados, com o mesmo garrucheiro Tito no saudoso Cinédia.
Adorava!! Lembro de noitadas alegres, divertidas e conversas inspiradoras!