Candidatos do PL escondem Bolsonaro em campanha e partido ameaça com cortes de repasses do fundo eleitoral
Bolsonaro com Valdemar da Costa Neto: candidato do PL que esconder a candidatura de Bolsonaro não receberá recurso do fundo partidário
Foto: Reproduçã/YouTube
Rafael Jasovich
A vida do candidato Jair Bolsonaro à presidência pelo Partido Liberal (PL) tem sido difícil dentro do próprio partido
Líder do PL lança vídeo informando que só receberá dinheiro do fundo eleitoral os candidatos ao Senado e à Câmara dos Deputados os candidatos que atrelarem as suas campanhas à imagem do presidente da República.
Diante do resultado das pesquisas de intenção de votos, a candidatura à reeleição de Bolsonaro ainda se encontra com uma porcentagem abaixo da considerada boa por seus aliados, além do índice de rejeição bastante elevado.
Não bastando essa rejeição, o presidente ainda trava uma batalha com o Judiciário mesmo faltando menos de dois meses para o pleito deste ano.
Esse cenário estaria contribuindo para que os seus correligionários do PL “esconder” ou só mencionar “o mínimo que podem” o presidente em suas campanhas, principalmente no Nordeste, onde a rejeição é ainda maior.
Das 14 das principais candidaturas do PL aos governos estaduais e ao Senado, os perfis de cinco candidatos citaram Bolsonaro em menos de 10% das suas publicações nos últimos três meses no Facebook, principal plataforma digital no país.
Segundo a mídia, os que tentam se eleger governador pelo PL, como Cláudio Castro, no Rio de Janeiro, e Ronaldo Dimas, no Tocantins, são os que mais evitam compartilhar a imagem do presidente.
Já para o Senado, os candidatos Romário (RJ) e os ex-ministros Flávia Arruda (DF) e Rogério Marinho (RN) são os que mais evitam se ligar a Bolsonaro. O ex-jogador fez apenas duas citações ao mandatário nos últimos três meses.
Arruda, que lidera a disputa no Distrito Federal, economiza nas menções a seu antigo chefe: foram apenas sete desde o fim de maio. E nos perfis de Marinho, as postagens sobre o presidente se tornaram mais escassas em agosto, apenas duas e nenhuma delas após o início da campanha.
Ao perceber tal movimento, o PL de Valdemar Costa Neto vai usar como estratégia “fechar a torneira” do fundo eleitoral. O líder do partido teria baixado uma ordem para todos os diretórios da legenda condicionando o acesso ao fundão desde que façam compartilhamento de postagens com o presidente.
De acordo com a divisão feita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), O PL vai receber R$ 288,5 milhões do fundo eleitoral. Em um vídeo que gravou para ser distribuído no Rio, Valdemar afirmou que o dinheiro é pouco para o tamanho que o partido tomou.
“O PL hoje triplicou de tamanho e continuamos com o mesmo fundo. Então é o seguinte: nós vamos repassar o dinheiro só para quem estiver na campanha com o Bolsonaro, com o Cláudio [Castro] e com o Romário. Precisa ter na propaganda os três. Nós vamos passar o dinheiro em partes, e vamos ter esse controle. Isso é vida ou morte para nós”, afirmou Costa Neto.
Vai daí que as traições terão resposta financeira, mas se a vitória eleitoral dos “traidores” estiver garantida se afastando do presidente, eles o farão.
Em Minas Gerais essa “traição” se chama “cristianização” do candidato majoritário. De acordo com o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), a Escola de Ciências Sociais e História da Fundação Getulio Vargas (FGV), o neologismo passou a ser utilizado, a partir de 1951, para designar a traição de um partido político ao seu candidato a cargo eletivo.
A sua origem se deve à traição do Partido Social Democrático (PSD) ao então candidato à presidência, em 1950, de Cristiano Machado, cuja candidatura foi oficializada em 17 de maio de 1950.
Entretanto, pelo seu desgaste e rejeição nacional, o partido acabou apoiando a candidatura vitoriosa de Getúlio Vargas pelo PTB, deixando de fazer campanha para Cristiano Machado, que era o candidato oficial.
É o que já pode estar acontecendo com a candidatura de Jair Bolsonaro, que pode ser “cristianizado” em 2 de outubro. A conferir no decorrer da campanha.