Bate-boca na Câmara tem ameaça de conselho de ética e acusação de cercear as liberdades democráticas da oposição

Se for levado ao pé da letra tudo aquilo que os vereadores dizem em plenário, a Câmara Municipal de Itabira terá mesmo que instaurar uma comissão permanente de Ética para apurar e punir eventuais destemperos verbais e acusações mútuas sem provas.

Foi o que ocorreu na sessão ordinária dessa terça-feira (11), marcada por um tremendo arranca-rabo entre os vereadores Neidson Dias Freitas (PP), presidente da Casa, e Weverton “Vetão” Leandro Santos Andrade (PSB), da oposição.

Neidson Freitas (centro) acusou a oposição de falsear a realidade para denegrir a imagem do governo municipal (Fotos: Carlos Cruz)

O entrevero parlamentar teve início com o plenário discutindo se aprova ou não um empréstimo da Prefeitura de R$ 5,9 milhões junto à Caixa Econômica Federal para construir um anel hidráulico.

Esse anel irá interligar os sistemas de abastecimento de água na cidade – e mesmo com toda controvérsia, a autorização de empréstimo acabou sendo aprovada com apenas o voto contrário do vereador Vetão.

Mas para que o projeto fosse aprovado, muita saliva foi necessária e acusações mútuas foram distribuídas para gáudio do público presente e dos ouvintes das emissoras de rádio que transmitem a sessão plenária.

Por diversas vezes os dois vereadores falaram ao mesmo tempo, ao ponto de o público, que geralmente é repreendido pela conversação, pedir silêncio aos edis ensandecidos.

Entrevero

Tudo começou quando o presidente da Câmara, já exercitando o papel de futuro líder do governo, saiu em defesa da administração municipal, que havia sido defenestrada pelos vereadores da oposição.

As críticas partiram também dos edis que já vem ensaiando rebeldia, mas que ainda votam com a situação em decisões “cruciais”, principalmente em matérias financeiras de interesse do governo municipal.

“Não podemos ficar calados diante das inverdades que escutamos contra o governo”, assim o vereador Neidson iniciou a sua intervenção. “Estão usando o plenário para induzir a população a achar que Itabira é a cidade do caos”, acusou.

Já o vereador Vetão acusa a presidência de cercear as críticas da oposição

Para Neidson, o único propósito da oposição é denegrir a imagem da administração municipal. “Estão dizendo que a avenida Machado de Assis é uma obra mirabolante”, citou o vereador situacionista. “Não foi medido um metro sequer da obra e já se fala que o prefeito gastou esse dinheiro.”

O vereador Vetão pede um aparte, mas é prontamente rechaçado. “Por favor, o seu show vossa excelência guarda para a sua hora”, negou o presidente da Câmara.

“Temos que ter bom senso. A oposição não pode ficar criticando por criticar. Querem enganar o povo a qualquer custo e podem ter a credibilidade arranhada, como já tem ocorrido com alguns aqui.”

O vereador Vetão tenta mais uma vez retornar a palavra após ser, indiretamente, acusado de fazer falsas denúncias. E é novamente impedido. Outros vereadores fazem uso da palavra, seja defendendo o governo ou defenestrando a atual administração.

Dívidas

O vereador André Viana Madeira (Podemos) votou a favor do empréstimo, mas com ressalva. “A Vale deve mais R$ 151 milhões a Itabira, o que daria para construir 25 anéis hidráulicos, além de ter rebaixado o lençol freático. Essa dívida deveria ter sido cobrada na reunião pública, que era para ser uma audiência, mas o governo não teve coragem”, afirmou.

De acordo com o vereador sindicalista, os débitos da mineradora já deveriam figurar na dívida ativa do município – e o seu nome inscrito no Serasa, que é a empresa privada de caráter público responsável por reunir informações sobre as pessoas físicas e jurídicas que estão com dívidas financeiras.

Reginaldo Mercês endossou a crítica, mas votou favorável ao anel hidraúlico

Da mesma forma, o vereador oposicionista Reginaldo das Mercês Santos (PTB), votou a favor do empréstimo para o anel hidráulico, mas também fez críticas ao governo e à presidência da Câmara.

“Vossa excelência (o vereador Neidson) está faltando com o respeito quando diz que estamos fazendo trampolim político”, protestou e emendou de bate-pronto. “Quem faz isso é vossa excelência que é pré-candidato a prefeito. E por favor, não me interrompa”, pediu o vereador.

“Estamos cumprindo o nosso papel quando cobramos a UTI móvel. O itabirano sabe porque não temos uma UTI móvel. Tem gente ficando rico às custas da miséria do pobre”, acusou o edil, sem, porém, citar nomes de quem está locupletando com o erário municipal.

Microfone cortado

Esbravejando muito, o vereador Vetão tenta novamente obter um aparte e é impedido pelo presidente da Câmara. “Corte o microfone do desequilibrado vereador Weverton “Vetão’”, ordenou o presidente Neidson Freitas ao operador da mesa de som. “Se vossa excelência continuar com o show, vou encaminhar para o conselho de ética”, ameaçou.

Após ter o seu microfone religado, o vereador oposicionista voltou à carga. “Quem precisa ser levado ao conselho de ética é vossa excelência”, contestou Vetão, partindo novamente para o ataque. “Se estou gritando é porque o presidente, que defende esse governo de coalizão, a todo custo cerceia o nosso direito de fazer oposição”, esbravejou.

Neidson rebateu: “A intervenção que fiz tem por base o regimento interno que alguns vereadores desconhecem”, afirmou. “Estamos deixando claro que falta maturidade para uma discussão sadia nesta Casa”, reconheceu o presidente, para quem é preciso abaixar o tom das discussões. “Precisamos nos pautar no campo das ideias para se ter um debate saudável.”

O vereador Vetão concordou que o parlamento é o espaço legítimo para que ocorra o confronto democrático entre situação e oposição. Mas para isso, disse, a liberdade de expressão e as prerrogativas do vereador devem sempre prevalecer.

“O inadmissível é o presidente ficar rasgando a todo instante o regimento interno desta Casa, impedindo que o vereador faça uso da palavra quando é em oposição ao governo”, criticou.

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