Ataques a jornalistas são contra toda a sociedade civil, diz Bachelet
A chefe de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, exortou todos os países a fazerem mais para proteger os jornalistas, especialmente durante a crise de COVID-19, já que seu trabalho ajuda a salvar vidas.
Falando em um evento em apoio à liberdade de imprensa em Genebra, a chefe do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) observou que cerca de 1 mil jornalistas foram mortos na última década — e que nove em cada dez casos “não foram solucionados”.
Seus comentários, na véspera do julgamento de supostos cúmplices de extremistas que mataram 12 pessoas no semanário satírico francês Charlie Hebdo em 2015, foram ecoados pelo cartunista político Patrick Chappatte.
“Vivemos em um mundo aberto com mentes fechadas”, disse ele aos participantes do evento paralelo à Assembleia Geral da ONU para a liberdade de imprensa e de expressão.
“Vimos cinco anos atrás uma linha sendo cruzada com sangue, e essa é a linha depois da qual você pode ser morto em Paris, Europa, em qualquer lugar, você pode ser morto por sua opinião. E esse foi um novo limite.”
“Em meio à pandemia de coronavírus em curso, o trabalho da mídia é primordial”, disse Bachelet, já que as notícias são “uma ferramenta essencial para que autoridades saibam rapidamente onde medidas inadequadas estão sendo aplicadas” e quais são as preocupações das pessoas”.
Sem nomeá-los, ela disse que vários países viram “a crescente politização da pandemia e os esforços para culpar oponentes políticos, levando a ameaças, prisões e campanhas de difamação contra jornalistas que mantêm informações baseadas em fatos sobre a disseminação da COVID- 19 e a adequação das medidas de prevenção”.
Ela acrescentou: “quando os jornalistas são alvo de protestos e críticas, esses ataques têm como objetivo silenciar toda a sociedade civil e isso é uma grande preocupação”. “O jornalismo enriquece nossa compreensão de todo tipo de questão política, econômica e social; fornece informações cruciais — e, no contexto desta pandemia — que salvam vidas; e ajuda a manter a governança em todos os níveis, de forma transparente e responsável.”
Em uma coletiva de imprensa após o evento, a presidente suíça, Simonetta Sommaruga, ecoou as preocupações da alta-comissária da ONU sobre as ameaças à liberdade de expressão.
Mesmo na Suíça, onde as pessoas têm a oportunidade de votar várias vezes por ano, o conceito não deve ser tomado como certo, explicou Sommaruga, em resposta a uma pergunta de um jornalista e comentários anteriores sobre a redução do espaço e ameaças à imprensa vindo “nem sempre de ditadores, (mas) também de modelos de negócios”.
“A liberdade de imprensa não é algo que você apenas tem, é algo que você deve defender e continuar a defender”, afirmou a presidente suíça.
“Em nosso país, a situação econômica da imprensa é muito, muito difícil, então nós (governo suíço) estamos procurando maneiras de apoiá-la melhor, porque pensamos que a imprensa, a mídia, fornecem a infraestrutura para a democracia”, disse. “Se quisermos que essa infraestrutura exista, também precisamos apoiá-la, ao mesmo tempo que garantimos sua independência.”
Mais cedo, Chappatte havia descrito como “turbas moralistas” aqueles que usam as mídias sociais para intimidar os demais de forma a conseguir o que desejam.
“Eles se reúnem como uma tempestade. Arranjam um problema, denunciam a expressão, denunciam as culturas, vão atrás dos cartunistas”. Já não é a repressão “do Estado ou dos poderes religiosos, mas da própria sociedade”, insistiu.