Agricultoras itabiranas começam a contabilizar o que produzem nas comunidades quilombolas de Capoeirão e Morro de Santo Antônio
Fotos: Divulgação/Ascom/PMI
Ainda não é o incentivo ao incremento da produção agroecológica que se espera acontecer com pujança nas pequenas propriedades rurais de Itabira, mas já é um passo importante ao valorizar o labor da mulher no campo, com a contabilidade da produção campesina livre de agrotóxicos.
Com participação da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), campus de Itabira, Emater e da ONU Mulheres, a Prefeitura de Itabira lançou, nesse sábado (5), nas comunidades quilombolas do Capoeirão e Morro de Santo Antônio, a metodologia inovadora de controle da produção rural chamada de Cadernetas Agroecológicas.
Por meio das cadernetas, as produtoras rurais vão medir o peso e a importância de seus trabalhos no campo, valorizando a economia gerada dentro da propriedade como contribuição importante para a subsistência familiar e para a própria produção que é comercializada.
Nas cadernetas as participantes vão anotar tudo o que produzem, seja para o autoconsumo, troca, doação e venda, explica a diretora de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Itabira, Nyara Martins Crispim.
Com as anotações, espera-se dar visibilidade ao trabalho das mulheres quilombolas, reconhecendo o valor da mão de obra feminina nessas comunidades para a segurança e soberania alimentar das famílias.
As anotações serão feitas a partir do trabalho desenvolvido pelas mulheres no plantio e na colheita, como também da produção artesanal.
Faz parte do projeto também o intercâmbio entre as comunidades quilombolas do município. Trata-se de um projeto-piloto que se espera estender a outras comunidades rurais, como meio de dar visibilidade e valorizar a mão de obra feminina nesse importante segmento da economia municipal.
Para isso, a prefeitura busca formalizar um termo de parceria com o Centro de Tecnologias Alternativas (CTA/Viçosa/MG), responsável pela criação e que detém a patente das Cadernetas Agroecológicas.
Metodologia
Nas Cadernetas Agroecológicas são anotadas as diferentes categorias de produção e consumo, as trocas e as doações, como também as vendas em um período de 30 dias.
O objetivo é conhecer a economia gerada pelas mulheres no contexto da produção rural, tornando o trabalho feminino mais visível, valorizando-o pelo reconhecimento, incentivando-o.
O projeto será acompanhado e monitorado pela ONU Mulheres. Para isso serão capacitados agentes e técnicos para assessorar as mulheres nessas comunidades que recebem o projeto pioneiramente no município.
Além da valorização do labor feminino, o projeto busca incentivar a agroecologia e a economia solidária, que já são praticadas naturalmente nessas comunidades.
A diferença é que agora será conhecida a força e a importância da mão de obra feminina no campo, dando visibilidade ao trabalho dessas agricultoras.
História
A metodologia empregada nas Cadernetas Agroecológicas foi desenvolvida em 2011 pelo CTA de Viçosa. Foi adaptada às demandas das agricultoras, procurando preencher uma lacuna com a falta de conhecimento da importância do trabalho feminino no campo.
Com o incentivo à agroecologia, já praticada nessas comunidades desde seus antepassados, busca diferenciar o trabalho feminino na produção rural, reconhecendo a participação das mulheres não só no cultivo dos quintais produtivos, como também na segurança alimentar.
As Cadernetas Agroecológicas já foram adotadas com sucesso nos estados do Norte, Nordeste e em Minas Gerais, promovendo o empoderamento feminino e a redução das desigualdades de gênero no campo.
Que o projeto seja frutífero também em Itabira, onde ainda se fala muito em agronegócio (agrobusiness), modelo produtivo copiado dos Estados Unidos para grandes propriedades rurais, inexistentes no município.
É hora de Itabira fazer diferente no campo, incentivando com maior pujança a agroecologia nas pequenas propriedades rurais, além de valorizar a mão de obra feminina.
Tudo isso é fundamental para a fixação das pessoas no campo, reduzindo o êxodo rural e até mesmo permitindo um retorno com mais oportunidades de trabalho para as mulheres, como também para os homens.
Leia mais:
Estrutura fundiária de Itabira é propícia à agroecologia e não ao agronegócio tóxico
Ana Maria Primavesi, precursora da agroecologia no Brasil
Agroecologia ganha força em Itabira com a Apafi e comercialização de cestas entregues em domicílio
Isso é muito bão. E deveriam ouvir as mulheres do MST, elas sabem tudo… São inteligentes, guerreiras e belas.