“A Vale está saindo de Itabira à francesa”, diz vereador
O relatório anual Form20 (F20), registrado em 13 de abril deste ano na Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos pela Vale, relativo ao exercício encerrado em 31 de dezembro de 2017, como não poderia deixar de ser, repercutiu na Câmara de Vereadores (leia mais aqui e também aqui).

“A Vale está saindo de Itabira à francesa”, disse o vereador André Viana (Podemos), que é também empregado da mineradora. “Precisamos ter um posicionamento muito forte em relação à empresa, que pode sair de Itabira deixando só buracos”, alertou o vereador na reunião dessa terça-feira (5).
Segundo o relatório da Vale, 2028 é a data prevista para o minério de Itabira acabar. Entretanto, em resposta a este site, a empresa assegura que tem buscado alternativas para estender o tempo da atividade mineradora no município.
“O relatório Form 20-F apresenta panoramas de cada negócio da Vale, com base em estimativas que levam em consideração fatores como expectativas de aproveitamento das reservas minerais economicamente viáveis e o comportamento de mercado”, pondera a empresa.
De fato, pelos números apresentados no próprio F20, e se for considerar que os recursos disponíveis nas minas de Itabira serão viabilizados economicamente, o horizonte de exaustão pode ser superior aos escassos dez anos cravados pela mineradora. Com reservas e recursos da ordem de 1.010,3 Mt, e com a empresa produzindo em sua capacidade máxima anual de 50 Mt, esse horizonte de exaustão pode se estender por mais de 20 anos.
Desemprego

De qualquer forma, resta pouco tempo para se obter as alternativas econômicas à mineração e assim assegurar a sustentabilidade econômica e social do município. Segundo o sindicalista e vereador Paulo Soares (PRB), a Vale gera 7 mil empregos em Itabira, sendo 4 mil diretos e mais 3 mil contratados de empresas terceirizadas.
“Para cada emprego gerado na mineração, são mais 3,8 empregos indiretos criados”, contabiliza o sindicalista, que vislumbra um quadro com mais 26 mil trabalhadores engrossando o exército de mão de obra desempregada no município com a exaustão das minas.

“São 76 anos ganhando dinheiro em Itabira e a empresa terá mais dez, pelo menos, para continuar explorando. E simplesmente vai embora?”, questiona o vereador sindicalista, para quem as novas gerações cobram um posicionamento firme das lideranças políticas nas negociações com a mineradora.
“Espero que não aconteça com esses jovens o que ocorreu com sete dos meus irmãos, que tiveram de sair de Itabira para conseguir emprego. Há 30 anos, vi a minha mãe chorando despedindo de meus irmãos na rodoviária”, relembra Paulo Soares.
Alternativas
Segundo o vereador Rodrigo “Diguerê” Assis Silva (PRTB), essa previsão de exaustão já se ouvia na cidade, mas que agora é oficial. Para ele, é preciso que a empresa abra esses números e seus projetos para Itabira com transparência e objetividade. “É importante consolidar a Unifei bem antes de a Vale sair de Itabira e investir na economia criativa”, defende.
“Precisamos também apresentar projetos audaciosos e parar de pedir migalhas como viaturas para a polícia”, critica, citando esse exemplo de apoio como sendo importante, mas que não resolve a questão crucial que é a abertura de novas oportunidades de empreendimentos econômicos no município. “Temos que criar uma agenda com a Vale a partir de agora para obter êxito nas negociações”, propõe.
Prefeito vai se encontrar com a Vale no Rio
Procurado pela reportagem, por meio de sua assessoria de imprensa o prefeito Ronaldo Magalhães (PTB) informa que irá se reunir na terça-feira (12), em Belo Horizonte, com o diretor de Sustentabilidade da Vale, Alberto Ninio.
“Nesse encontro, o prefeito irá iniciar uma discussão sobre esse prazo para a exaustão das minas”, respondeu a assessoria de imprensa, prometendo agendar uma entrevista assim que ele retornar dessa reunião.
E bem a francesa.
Cada dia deixa de promover algo ou empurra para depois.