A poesia naïf de Tãozinho Lopes – II
Fotos: Reprodução/ Acervo pessoal
Quando não está contemplando estrelas, observando pássaros ou contactando com discos voadores, o minerador e poeta Sebastião “Tãozinho” Antônio da Silva Lopes se arrisca a escrever poemas em seu celular.
São poemas que versam sobre mulheres e suas eternas paixões – e decepções –, mas também falam da natureza, e claro, de discos voadores. Ele garante que já foi abduzido e que voltou incólume para afirmar, com toda convicção, que existe vida inteligente muito além da Terra. Aqui, nem tanto.
Tãozinho é minerador. Tem lavra de alexandrita, esmeraldas e águas marinhas em local que pede para não revelar para não despertar a cobiça de “curiangos”.
Tem longa história no ramo. “Estive em todos os acontecimentos de garimpos com alexandrita no Tatu, Capoeira, Santa Terezinha do Goiás, Córrego das Pedras, Nossa Chapada”, ele segue enumerando uma lista interminável que não caberia em poucas linhas.
Disse que já bamburrou, mas também perdeu dinheiro em Capoeirana, Nova Era, um garimpo que vive em eterno conflito, com muitas histórias já registradas pela imprensa.
“Não é tarefa fácil, corremos muitas vezes riscos de perder a nossa vida. Mas é nossa sina ser minerador”, diz ele, que não gosta de ser chamado de garimpeiro, pois acha pejorativo, carregado de preconceito em um país ainda cheio de preconceitos.
“No garimpo descobri muitos mistérios da natureza que vão além do nosso sistema solar. Ovnis estão nos observando, sei onde encontrá-los, estão atrás do material do pegmatito que é radioativo. E revelam em nossos sonhos onde está o precioso minério”, assegura, com tanta convicção que é difícil não acreditar.
“Já encontrei com eles na realidade e também em sonhos várias vezes. Eles sabem pra quem aparecem. Certa vez apareceu uma mulher pequena, cabeça redonda, cantando uma melodia pra mim. Era noite. No dia seguinte fiquei cantando essa melodia sem parar, uma coisa inexplicável”, conta.
“Eles me inspiram a escrever também sobre essa mecânica celestial”, devaneia o poeta/minerador/garimpeiro, enquanto segue fazendo poesia sem parar. “Já escrevi mais de 110 poemas.”
Com a sua poesia naïf, Tãozinho Lopes expressa a sua visão de mundo, uma expressão artística autodidata com sentimento do mundo, ingênuo e simples como a sua própria pessoa.
É uma poesia sem rebuscamento, com temas do universo popular, das coisas tangíveis e intangíveis que observa no seu dia a dia.
Confira mais alguns de seus poemas. Outros, já publicados neste site, podem ser conferidos aqui.
(Carlos Cruz)
Mistérios da Natureza
Quem é predestinado a mexer nos mistérios da natureza,
Tem quer ser blindado com muita nobreza.
Para achar as riquezas é predestinado a passar por muitos fios dos desafios.
A fé e a persistência andam juntas pela conquista da sua resistência,
para a sua benevolência, nesta vida de tanta vivência.
Suposição
Senhor faça eu aceitar a velhice.
Pois levei a vida como uma tolice, agora sei que o que vale é a velhice!
O tempo passa, vira fumaça e não acaba.
Volta na praça e começa a fazer graça pra quem entra de graça nesta galáxia que supõem ser inexplicável supor.
Vivência
Você tem que acompanhar a onda para conhecer a praia.
Fica ligado que a vida é uma batalha.
Enfrente-a com foco, senão você se avacalha.
Vira fogo de palha, vive no fio de uma navalha e só se atrapalha na sua jornada.
O tempo passa e você fica pra trás.
Todos correm de você como se você fosse uma Tiririca.
Perde sua gravata nesta vida que você fala que é ingrata!
Conheço todas as lagartixas do meu quintal,
pois elas também me tiram da solidão,
neste mundo de tantas dissoluções.
O tempo passa e você não ingressa nesta vida,
que você não precisa ter pressa, pois a vida não regressa.
O bom é viver à beça!
ÁFrico mineiro
Meu nome é ÁFrico!
Cidadão do fundo das matas de Minas Gerais.
Que nunca largarei jamais.
Cidadão do fundo da grota.
De onde ele brota,
Como um patriota que nunca largou a sua bota.
E nunca ficou na encosta, desta cidade que é tão amorosa!
E que tanto a gente gosta.
Hospedeira como se fosse uma cavalheira.
E as nossas ladeiras que em nós espalha a felicidade de ser Itabirano profano!
Madalena
Madalena não teima,
Você sempre foi a minha fêmea.
Quando íamos no mato buscar lenha,
Você queria que eu a tenha.
Agora você diz que não me quer.
Mas sabe que por toda vida,
Você vai ser a minha mulher,
Nesta vida do bem me quer.
A fé
Passei por vários degraus podres pela vida.
Alguns até de cabeça pra baixo, mas nunca reclamei.
A fé é a manifestação do Espírito Santo dando o maior encanto,
neste Universo de tanto desencanto.
Mulher
A mulher tanto te leva para o pedestal quanto ao temporal.
Isso é normal.
Sem ela você não estaria neste carnaval.
Ela que te fez racional neste mundo fenomenal.
Simplicidade
Mulher sem perfume é igual ao homem sem dinheiro.
É um pesadelo, é o mesmo que ficar no deserto sem camelo.
O perfume te leva à beleza da natureza, com muita pureza.
Aí você fica mais que uma beleza e cheia de nobreza,
Nesta simplicidade de uma flor sem beija flor.
Amor Eterno
Aceito você sem carruagem e sem maquiagem.
Você é minha vida e a minha coragem.
Não estou de sacanagem.
Meu amor por você não foi uma miragem.
De coração, te asseguro:
Tudo que vivemos foi de verdade!
Vou te buscar, que não te esqueço como uma vadiagem.
O nosso amor vai virar uma coragem.
nesta nossa passagem para um amor de verdade e de liberdade.
A Roxa de Rosa Choque
Lá estava a Roxa do outro lado da avenida,
estava a roxa de cor de rosa choque.
Aí que me deu um choque, trazia mais um pro roque.
Roque que a vida te leva como uma fada,
que não te contou a emboscada nessa sua parada.
Mas é vida que se segue neste mundo que nada te impede.
Viver é viver a verdade que possa ser realidade.
Vitória
Tem hora que você dá uma de magnata, mas é pura lata.
Vê se você desata e sai pra carreata, pois ganhamos a parada!
Pois agora vem a minha amada com um coro de passarada, nesta vitória tão desejada.
Indiana Thones
Tô fora.
Já vem caindo a aurora.
Chega de esmola,
Você não me enrola.
Tô fora.
Agora chegou a hora.
Você me implora.
Vou sair de sua dimensão.
Vou arrumar outra paixão.
O nosso amor foi uma aluvião.
Que só deixou ingratidão no meu coração.
Comprei leite moça, cerveja e vinho pra você me dar carinho.
Mas você só joga espinho.
Não adianta querer te agradar, você só sabe me decepcionar.
Deixa disso, mulher, eu só quero te amar.
Igual a mim você pode procurar,
que não vai encontrar.
Não venha dizer que a solidão quer te pegar.
Não tenho nada com isso, foi você que armou seu precipício.
Agora vem me dizer que se eu não voltar, você vai pro hospício.
Já te esqueci, não tenho nada com isso.
Tenho outro compromisso.
Hospício
Se você quiser voltar, não vou deixar de perdoar.
E a nossa vida vai firmar e o amor reiniciará.
Como se fosse uma flor no deserto sustentada por uma brisa.
E o nosso amor se estabiliza.
Como uma mansidão de uma árvore na floresta,
é o que nos resta nesta festa.
Era o sol despindo-se na madrugada.
Mecânica celestial
É alvorada.
Anuncia a passarada.
Surge mais uma aventura nesta jornada,
nesta mecânica celestial.
Tudo é divino.
Tudo é especial.
Viver é o primordial.
Cai a noite, passarinho corre pro ninho.
Volte amor, com carinho.
Eu não aguento ficar sozinho.
Dá mais uma chance pro seu amorzinho.
Tô tão carente que viro um pássaro e vou morar no espaço.
Para o amor nunca me pegar no laço.
Agora não se queixe se for embora, o amor arrumar outra gueixa e descobrir o paraíso.
Paraíso não é pra qualquer um que esteja sem gueixa.
Agora é tarde, deixe dessa queixa.
Felicidade
Talvez o paraíso é questão de perceber,
Que a felicidade não tem lugar para nascer.
Eu sou feliz, porque tenho um enxame de jataí.
E daí?
Felicidade é porcaria num coração de alegorias.
A felicidade é tão simples, que não enxerga maldade.
Garimpeiro do universo inteiro eu sou
Não dê palpites em minha vida.
Sou eu quem curo as minhas feridas.
Garimpeiro do universo inteiro eu sou.
Sou eu que sei das minhas saídas.
Eu não tenho compromisso, eu sou garimpeiro.
Levo a vida na natureza, pra mim já é uma nobreza.
Garimpeiro da natureza inteira eu sou.
No celestial cada dia mais lindo.
Vejo o inexplicável surgindo.
Garimpeiro do universo inteiro eu sou.
A minha vida é uma plenitude, não tô nem aí pra sociedade.
Faço o que me dá vontade.
Garimpeiro da liberdade inteira eu sou.
Você sabia que o nosso caso era só orgia.
Agora vem me falar que pegou a gostar.
Sendo que tenho compromisso e não posso descartar.
E você não consegue também me largar.
Como é como vamos ficar?
Ó meu Deus acabei de me enrolar.
Acho que comecei a amar.
*Sebastião “Tãozinho” Antônio da Silva Lopes é minerador, poeta, observador de pássaros e de OVNIs
Tiaozinho, que lindo é você. Li, aqui alguns de seus poemas, os outros lerei na cama, na madrugada. Você é um grande poeta e hoje deu vida ao meu dia que começou sob a tensão das ruas cobertas de miserabilidade. Que a Nossa Senhora Aparecida continue iluminando as suas células cinzentas.
Publique um livro.
Parabéns Tãozinho,sobrinho de peixe peixinho é.Não sabia desta sua vocação para a poesia,fiquei encantada .Continue escrevendo e puplicando,para o encantamento de todos.Beijos da tia .