A idade, os achaques, o bom humor. E sempre a comida e a bebida

Rafael Jasovich*

A tal de “melhor idade” ataca de repente, e não vejo nenhum motivo de assim ser chamada. Um dia você está sadio (ou pelo menos acha), no outro dia você descobre que tem uma série de doenças crônicas descobertas numa visita ao médico, às vezes algumas mais graves.

Montes de remédios na prateleira com horários diferentes para ingeri-los, exames de todo tipo e o pior: restrições alimentares e de bebidas.

Ou você leva na boa e aceita as imposições da idade ou pira.

Andava cozinhando tudo o que não podia comer e induzindo amigos mais jovens a comer o que no futuro podia ser uma bomba na saúde deles.

Parei!!

Uma amiga me ligou e me convidou para fazer uma janta só com comidas que eu posso comer, reunião de vários amigos na casa dela e cada um levaria um prato. Aceitei de pronto.

Fui fumar um cigarrinho (esse vício não vou largar) enquanto pensava que ia fazer. Lembrei nessa hora do genocídio perpetrado por uma empresa assassina em conluio com o capitão e os asseclas. Pavoroso.

Decidi fazer uma pasta de berinjela. A berinjela faz bem para muitas doenças crônicas.

Comprei oito unidades grandes, o preço parecia que eu estava comprando algum metal precioso. É a inflação que está matando de fome uma grande fatia da população, o projeto neoliberal só pensa em lucros exorbitantes.

Assei as berinjelas diretamente no fogo das bocas do fogão. Bem assadas as retirei do fogo e as abri para tirar as cascas e separar a parte interna num coador, elas soltam muita água.

Escorri e cortei com a faca em pedaços pequenos. Depois amassei bem com um garfo até ficar uma pasta homogênea. Temperei com sal e azeite e pronto estava pronta para comer.

Cheguei à casa de minha amiga lá pelas oito da noite. Ela juntou umas seis pessoas todos amigos de longa data.

Cada um trouxe um prato, homus, outra umas lentilhas bem feitinhas, tinha também ervilhas numa salada com cenoura ralada e tomate e assim por diante.

Começamos a beber. Eles a cerveja, eu um pouco de vodka que me deram de presente (polonesa).

Na conversa alguém perguntou quem tinha dinheiro guardado no exterior, em algum offshore. Rimos muito e lembramos do Guedes e o presidente do Banco Central. Delitos graves por eles cometidos. Ah, também o velho da Havan só tem grana no exterior e não paga os impostos.

Bebi e comi muito esquecendo as doenças que me acometem e até acabei que não tomei os remédios na hora certa. Mas o melhor remédio foi a alegria e o companheirismo dos amigos.

Lembrei no final de uma frase de autor famoso: “Por quem dobram os sinos, eles dobram por você”.

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional.

 

 

 

 

 

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2 Comentários

  1. muito bem, Rafael.

    parafraseando canção brega romântica (gosto bem dessas músicas) sucesso com Cláudia Barroso:
    – ‘a vida é mesmo assim alguém, ops alguns pratos têm que perder pra outros entrarem no jogo’

    mas de vez em quando a gente finge que não é você que está ali, e cai em tentação.

    Ah, a palavra certa e mais bela pressa tempos, depois de muita vida muito vivida, é velho mesmo.

    e não faz mal nenhum a sequência:
    velho velhinho ancião

    {o tempo com o vento leva até onde puder}

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