A Acita acerta em parte: 2025 não vai ser o fim do minério em Itabira, mas o começo com a parada temporária da usina Cauê
E quando essas luzes se apagarem de vez, o que será de Itabira, a prostituta do capitalismo selvagem?
Foto: Geraldo Andrade
Foi sem surpresa para este site a informação de que a usina Cauê vai ter a sua produção de pellet-feed suspensa em 2025 no período chuvoso, tanto que a reportagem fez esse questionamento à empresa por e-mail enviado em 5 de setembro.
A resposta veio evasiva, sem mencionar essa parada para “manutenção”, agora informada por meio de nota enviada à imprensa local.
A pergunta deste site foi motivada pela queda substancial do nível da água represada na barragem de Santana, que é por onde a Vale capta em boa parte esse insumo imprescindível para concentrar o itabirito compacto, transformando-o em pellet-feed, uma commodity primária com pouco valor agregado e grande procura pelas siderúrgicas mundiais, principalmente as chinesas.
A resposta da Vale a este site ignorou a pergunta, mas agora, sete dias depois, solta nota dizendo que vai mesmo paralisar a produção na histórica usina, a primeira planta de concentração de itabiritos instalada no país.
A justificativa, pelo menos a que foi explicitada, é de que a parada é necessária para se adaptar a um novo ciclo tecnológico, com disposição a seco de rejeitos e material estéril das minas na cava Cauê, cuja mina exauriu no início deste século.
Sem se referir a essa situação específica da falta de água na barragem Santana para a concentração de minério, em nota distribuída à imprensa a mineradora confirma que a histórica usina será paralisada em dois momentos em 2025, nos dois períodos chuvosos, entre janeiro e fevereiro – e de outubro a dezembro.
A justificativa apresentada para a parada da usina é para “a otimização de sua produção local, considerando o ramp-up (aumento progressivo da operação) da planta de filtragem de rejeito da cava Cauê”.
Portanto, a paralisação temporária da usina não será por falta do insumo imprescindível à mineração, em decorrência do esvaziamento da barragem Santana.
Pelo que se despreende, água é o que não falta para a mineração em Itabira, que detém o quase monopólio das outorgas, enquanto ficam as sobras para o consumo da população itabirana.
Coincidência
A paralisação da produção na histórica usina, coincidentemente ocorre no ano em que a Associação Comercial de Itabira (Acita) anunciou, com base em informações da Vale na época, em 1992, que em 2025 ocorreria o fim da mineração em Itabira.
Sob a presidência do então empresário Li Guerra (depois prefeito de Itabira, já falecido), foi lançado o projeto Itabira 2025, que teria como objetivo diversificar a economia local.
Resultado: após mais de três décadas nem a economia foi diversificada, como também a mineração em Itabira não vai exaurir no próximo ano – a nova data para o fim inexorável agora está projetada para 2041, mas pode ocorrer antes, como também muito tempo depois.
Enquanto isso, a usina Cauê vai ter, mais uma vez, a sua produção interrompida para se adequar a um novo ciclo tecnológico da mineração em Itabira, que vem a ser o novo processo de filtragem a seco de rejeito na cava Cauê, mina histórica exaurida no início deste século.
A Vale nada diz sobre uma possível demissão de empregados diretos ou de terceiros. Mas é o mais provável que ocorra, além do turnover, que é a taxa de rotatividade de mão de obra, a diferença entre os empregados que entram e saem de uma empresa.
Confira íntegra da nota enviada pela Vale à imprensa itabirana
“A Vale continua investindo em alternativas para manter as suas operações em Itabira competitivas, seguras, sustentáveis e alinhadas ao cenário mundial da mineração.
A empresa estuda uma otimização da sua produção local, considerando o ramp-up (aumento progressivo da operação) da planta de filtragem de rejeito da cava Cauê.
Essa otimização será restrita ao período chuvoso de 2025, considerando os meses de janeiro a fevereiro e de outubro a dezembro. Nesse período, a produção de Itabira ficará concentrada nas usinas da mina Conceição.
Os trabalhos de manutenção da usina de Cauê serão executados, assim como as atividades de treinamento e de capacitação para os empregados durante a eventual parada.
Após regularizada a produção, Cauê seguirá operando conforme vida útil da mina. A Vale reforça a sua disponibilidade para o diálogo aberto e transparente com seus empregados, sindicato, fornecedores, poder público e comunidades”.
Como diz um amigo 👦 meu, o último a sair apaga a luz. Estou esperando o “Estudo Fechamento” de Minas em Itabira. Trabalho esse feito por técnicos e professores de uma faculdade de São Paulo, contratado pelo governo Lula, para ter uma realidade de fechamento de mina no Brasil, e usando Itabira como modelo de experiência.