Morte de Marielle é crime político que intervenção militar não soube impedir
Por Marcelo Procopio
Assassinato como execução é igual a crime político. Assim morreu Marielle Franco em plena intervenção militar no Rio de Janeiro. Marielle ativista política e social, negra, lésbica, casada, mãe de uma garota de 19 anos e vereadora eleita pelo PSOL com mais de 46 mil votos, destes apenas 1.800 vindos da ‘sua’ favela da Maré. De onde as fakes news dizem que ela era ligada ao CV – Comando Vermelho: mentira. Entre tantas mentiras nas redes sociais e com colaboração da mídia (leia mais aqui).
Era uma lutadora pelos direitos humanos, pela transformação social do Rio e do Brasil. Se posicionava publica e consistentemente, desde sempre, contra a intervenção militar no Rio.
E quem matou Marielle? Não foram só as três pessoas que perseguiram o carro da vereadora, após ela participar de um debate, sendo executada com cinco tiros (mais o seu motorista e amigo).
Foi assassinada, em crime político, não por decisão apenas desses três. Mas pelo sistema político/policial em que vive o país. É bom relembrar sempre. A tal intervenção militar (chamada por eufemismo de intervenção federal) foi instalada para primeiro limpar as polícias militar e civil dos corruptos, bandidos, que chefiam as milícias nas periferias cariocas.
E não para intervir fisicamente nas favelas, agora chamadas de comunidades. Soldados do Exército exercem o mesmo modus operandi da PM: invadir armados e, intimidar, ameaçar os mais pobres e abandonados pelos governos, onde atuam as milícias e onde a polícia mata negro e pobre de graça, sem culpas. Sem punição.
Isto acontece há anos. Desde 1994 quando, ainda no governo Itamar Franco, deu-se início a este tipo de intervenção militar. Quais os resultados? Nenhum. Sem políticas públicas de educação, saúde, moradia, infraestrutura, com violência contra essa população abandonada, repete-se: nenhum. São 24 anos de intervenções que, na verdade nunca pararam, nunca deixaram de matar, reprimir, intimidar, amedrontar trabalhadores e trabalhadoras, mulheres, aposentados, estudantes e crianças de favelas.
Era por isso que Mariellle lutava. Inclusive pela criação de uma Comissão da Verdade, que parte dos generais já tinha dito que não poderia haver nova comissão neste sentido. Como não, se nada mudou?
O general Souza Braga Neto, comandante da tal Intervenção não começou mudar em nada as duas polícias estaduais. Assim os delinquentes policiais mantiveram suas ações ilegais: suas organizações criminosas, grande parte associada aos bandidos “comuns”, para não escrever “civis delinquentes”.
Veio daí a execução de Marielle. Veio também desse crime político a renovação dos levantes das ruas. Não só as mulheres foram às praças públicas em manifestação. Mas eram muitas. Pela memória da mulher Marielle e também por sua luta e ideologia de pessoa política.
Em todo o país, manifestações. Era o Brasil nas ruas de novo, pelas mesmas causas de antes, mas com um ingrediente a mais: um crime político cravado em nossa mente.
Afinal, o golpe midiático, empresarial, político consumado em 2016, deixou o Brasil sob uma democracia tão fragilizada que mais caminha para ditadura disfarçada (de quê mesmo?). Destruiu-se a economia, as políticas públicas, a cultura da transformação que víamos, felizes, nos primeiros anos do século 21. Como reverter este quadro? Diga-nos, Marielle. Digamos nós, se por Marielle, por todos nós.
Noutro tempo foi necessário levar para a masmorra, para silenciar aqueles que se revoltaram e insatisfeitos com o sistema, foram a público repudiar o sistema ditatorial à época. Morreram sob um silêncio, ante um olhar de cinismo do “status quo” da polícia brasileira. Marielle, diferente dos revolucionários que partiram em nome é luta por um país mais igual, foi fuzilada a céu aberto, para servir de exemplo deste falso poder, acobertado pela justiça que a tudo maquiavelicamente assiste e assina embaixo, no intuito de perdurar esse desmando que interessa apenas a essa “casta” .
Norberto querido, bom te ver aqui porque aqui é seu lugar, lugar pra gritar aas injustiças e sua militância no Movimento Negro em Itabira lhe dá autoridade pra falar mais e mais. Beijoca e vamo simbora pra luta contra a ditadura.
Sr. Procópio, acrescento ao seu ótimo artigo a ideia absurda do dominador usurpar o nome Favela pra comunidade. Um mineiro, aposentado da CVRD e morador da Lagoa me disse preferir comunidade a Favela, então eu expliquei pra ele a origem da palavra e o que ao longo destes séculos a ela foi acrescido de valores. As favelas são territórios empobrecidos de coisas mas não de pessoas. E posso te garantir, que daqui uns anos a favela vai ser patrão da Lagoa.
A intervenção militar foi embora e o de sempre continua: polícia matando pobre.