Madalena arrasta multidão de foliões e revive bons momentos do carnaval itabirano

Carlos Cruz*

Com mais de dois mil foliões, segundo estimativa da Polícia Militar, o bloco pré-carnavalesco Madalena não Gosta de Poema arrastou essa multidão em um cortejo, partindo no início da noite desse sábado (27/01) da praça do Centenário, no centro histórico, até o boteco do Raimundinho, no bairro Pará.

Madalena chega triunfalmente conduzida por Herbert Rosa para o primeiro cortejo pela cidade (Fotos: Carlos Cruz)

Foram mais de três horas animadas pela chegada triunfal da Madalena, uma boneca gigante com 3,2 metros, vinda de Olinda (PE). Os animados foliões seguiram ao ritmo de marchinhas e frevos, com a banda Mistura e Manda, formada por músicos itabiranos e de cidades vizinhas, sob o comando do maestro Nonoca.

“Madalena chegou para fixar residência em Itabira. E adorou a cidade e o seu povo alegre e divertido”, conta o seu porta-voz, Herbert Rosa, um dos fundadores e coordenador do bloco pré-carnavalesco. Na edição deste ano, o bloco homenageou Nilo Almeida, dono do até hoje mais badalado boteco da cidade, que revelou grandes talentos artísticos e etílicos de Itabira nas décadas de 1970 a 1990.

Ariella com o filho Miguel: energia de sobra

Apesar de representar mais a figura do boêmio, e não ser um carnavalesco, a escolha do Nilo como homenageado foi bem aceita, com o reconhecimento de seu papel no desenvolvimento cultural de Itabira.

Cantor notívago, ele interpreta muito bem clássicos gravados por Nelson Gonçalves, de quem é admirador. “Niloca irradia também alegria e bom humor, que é o que desejamos para o nosso carnaval”, acrescenta Herbert Rosa.

Democratização

Luiz Citti levou a neta e a filha para conhecer Madalena

O bloco da Madalena traz de volta à Itabira a boa dose de ironia, irreverência e deboche dos históricos carnavais de rua pelo centro histórico. “Estou vendo aqui, nesse cortejo da Madalena, o retorno da alegria dos antigos carnavais”, festeja o carnavalesco Luiz Carlos de Almeida, o Lulu, que por muitos anos comandou os animados carnavais do Valério – e é também um dos responsáveis pela organização do já tradicional carnaval da pracinha do Campestre.

Encontro de carnavalescos: Herbert e Lulu

Segundo ele, essa alegria e descontração advém da ausência, ou do apoio mínimo do poder público municipal aos carnavais de bairro.

“Isso (a ausência da Prefeitura) é que faz um carnaval mais democrático e participativo”, diz Lulu, que abomina a realização de megas eventos “carnavalescos”, como os que aconteciam na avenida Mauro Ribeiro. Trata-se de uma lembrança que é melhor se esquecer de lembrar.

Não podia faltar o indefectível Fora Temer

Com Lulu concorda Herbert Rosa: “É a carência social que faz surgir essa nefasta cultura de carro de som a toda altura”, explica o criador do bloco, que nasceu de uma caixa de isopor que acompanhava o grupo de amigos com bebidas para os poucos eventos culturais ao ar livre que aconteciam na cidade.

Otimista, o mais novo carnavalesco itabirano também vê com entusiasmo o renascimento espontâneo do carnaval no município, a partir de iniciativas de antigos carnavalescos, a exemplo do recém-criado bloco República do Zé Bandarra da Rua de Baixo.

A banda Mistura e Manda não deixou o ritmo cair

“O pré-carnaval que fizemos hoje não deve nada aos que ocorrem em outras cidades”, diz ele, com a autoridade de quem participa há muitos anos do carnaval de Olinda (PE). “É um pré-carnaval alegre, autêntico, cada vez mais popular, como o de Olinda”, compara, nada modesto.

“Sem modismos importados, ganhamos em originalidade e espontaneidade”, diz Herbert, que aposta justamente nos exemplos dos carnavais das pracinhas do Campestre e do Pará como exemplos a ser seguidos por outros bairros. “É assim que a força do trabalho comunitário prevalece juntamente com arte e cultura popular.”

Coletivos

O grupo de dança Viravoltear quer ver os foliões dançando carimbó no carnaval da pracinha do Pará

Um outro exemplo de trabalho coletivo que surge na cidade é o grupo Viravoltear, formado por profissionais de diversas áreas, muitos ex-integrantes do grupo parafolclórico Tumbaitá, da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade.

“Somos um coletivo que desenvolve ações artísticas no segmento do teatro e da dança”, conta o coreógrafo Warley Ferreira. O carimbó é uma das vertentes que o coletivo desenvolve.

Trata-se de uma dança de roda de origem indígena que se miscigenou com a cultura negra, típica do estado do Pará. No carnaval da pracinha do Pará, o grupo fará uma intervenção artística e convida todo mundo para dançar carimbó.

Carol Ramos, porta-estandarte da Madalena: alegria e satisfação com esse grande acontecimento em Itabira

Outro que está entusiasmado com a organização da cultura popular em Itabira é o músico Ronatil dos Santos Belisário, que também atende pela alcunha de Nonoca.

Ele também vê com alegria o renascimento do carnaval itabirano a partir de organizações sociais. “Valoriza a criatividade das pessoas, principalmente dos músicos que são contratados.”

No carnaval, juntamente com o parceiro Romário, a dupla irá tocar em duas noites na pracinha do Pará, organizado há três anos pela Amapará. “É um carnaval gostoso e divertido. Estão todos convidados a ‘brincar’ com a gente.”

Naná Jabour, moradora do bairro Pará, com jovens carnavalescos

Com o carnaval ressurgindo espontaneamente, a expectativa é que organizem novos blocos na cidade. “Se a Prefeitura não atrapalhar, já é uma grande ajuda”, provoca Herbert Rosa.

Embora o carnavalesco descarte o apoio do poder público, há de se convir que a instalação de banheiros, palco e som – e até mesmo contratação das bandas, são apoios desejáveis e necessários.

Afinal, trata-se de uma demanda do público – e não do privado.

Madalena não fica em Itabira no carnaval

Madalena não irá passar o carnaval em Itabira. Ela parte com seu criador para o carnaval de Olinda (PE). Mas garante que será por apenas 15 dias, quando volta para fixar residência na terra de Drummond, observando os seus costumes e anseios de cultura.

Se Itabira não tem um grande rio, seu maior complexo, nada-se na piscina

“Madá já é itabirana, mas a cabeça dela é do mundo. Ela entende que culturas são feitas para que sejam usufruídas. Precisamos cortar a corda que tem impedido Itabira de abrir as suas fronteiras. Sem cultura, a sociedade se perde”, filosofa Herbert Rosa. “Madalena pode provocar novas propostas culturais, por meio de outros coletivos”, sugere.

Itabira 40 graus: pausa para uma parada técnica

Para o próximo ano, o bloco pré-carnavalesco promete mais novidades, quem sabe até com um grande encontro de blocos da cidade, em algum lugar que tenha espaço para tanta gente.

“O nosso pré-carnaval está atraindo muita gente de fora e isso só tende a crescer.” Já é, sem dúvida, uma contribuição importante para o incremento do turismo na cidade, tornando-a mais conhecida. “Que tenham todos um bom carnaval”, despede-se Herbert Rosa.

Agende-se

Público aguarda a chegada de Madalena vinda do cortejo

A folia pré-carnavalesca prossegue no sábado (3/2), com a estreia do bloco República do Zé Bandarra da Rua de Baixo, que convida o folião itabirano de todos os bairros, e também o turista incidental, para um grande cortejo pelo centro histórico.

A concentração será a partir de 16 horas no Largo do Zé Bandarra (rua dos Operários) – e dispersão com grande carnaval no Largo do Batistinha.

O cortejo será acompanhado por dois grandes bonecos que irão abrilhantar e alegrar a festa pré-momesca: um do Zé Bandarra e o outro representando um carnavalesco da Escola Mocidade Independente da Belinha, do bairro Bela Vista.

Os abadás (camisetas) da República de Zé Bandarra podem ser adquiridos por módicos R$ 30 com Marconi Ferreira, Terezinha Souza ou Margareth Duarte, A proposta é colorir o centro histórico de Itabira com as cores do carnaval com os abadás.

*Carlos Cruz é jornalista e editor deste site Vila de Utopia

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4 Comentários

  1. É o samba do crioulo doido: brasileiro prefere Folia à Democracia. E não percebem o sinistro antes e depois desta festa cafona que é Carnaval. Pelamordedeus quando vão perceber que estamos vivendo o fim da sexta república, que a ditadura de Toga tomou o país?????
    Que a madalena vá pros quintos dos infernos na folia, não é isso que se deseja no Carná, onde o proibido é escrachado sem culpa. Vá se fuder Madalena!!!!!!!

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