Casa da Elke Maravilha vai ser soterrada por rejeitos de minério?

Por Roneijober Andrade*

Texto e fotos

Em 16 de agosto completou nove anos da morte da icônica e enigmática artista popular, Elke Maravilha, que cresceu na comunidade do Cubango em Ipoema. Agora, o distrito itabirano luta para que a casa onde ela morou não vire pó sobre o pó da mineradora Vale que vai transformar a região do Cubango numa enorme pilha de estéril (depósito de rejeitos da mineração).

Já se passaram seis meses que o Diário de Itabira fez uma edição especial sobre o assunto, publicado no dia do aniversário da artista: 22 de fevereiro, e até hoje, a Vale (mineradora multimilionária) nem a prefeitura (que tem o dever de zelar pelo patrimônio histórico) deram uma resposta concreta para a comunidade que reivindica que a casa seja desmontada no Cubango e remontada no perímetro urbano de Ipoema para uso cultural ou de fomento ao turismo.

Elke, em entrevista, afirmou: “eu nasci brasileira em Ipoema”

Não é aceitável que, em nome da exploração mineral, o município continue perdendo suas referências afetivas e culturais. Se a Vale insiste em olhar apenas para o minério, cabe ao prefeito e às lideranças políticas exigirem que a empresa olhe também para a vida que pulsa em Itabira. Elke Maravilha, com sua ousadia e autenticidade, merece ser lembrada — e sua memória não pode ser soterrada por uma pilha de rejeitos.

Elke Maravilha não foi apenas uma figura do entretenimento nacional. Foi ícone de liberdade, de transgressão e de coragem, uma mulher que deixou marcas profundas na televisão, no teatro e na vida pública. Sua casa em Ipoema, em vez de virar pó, poderia e deveria se tornar um espaço cultural, um memorial, capaz de atrair turistas e reforçar o orgulho do município. O que se discute não é apenas patrimônio arquitetônico, mas o reconhecimento de uma história que pertence à comunidade.

Elke participa de evento cultural no distrito de Ipoema

Certa vez Elke, em entrevista, afirmou: “eu nasci brasileira em Ipoema”, mas, parece que a Vale trata com desdém a história dela com a nossa cidade. Tanto é que em 2022, durante seis meses, a mineradora promoveu uma exposição sobre Elke Maravilha no Centro Cultural Vale Maranhão, ao invés de fazer em Itabira. Com curadoria de Gabriel Gutierrez e Ubiratã Trindade, a exposição mostrou o universo de Elke Maravilha com  indumentárias, perucas, entrevistas, shows, acessórios, além de centenas de fotografias da carreira da artista e itens de seu acervo pessoal.

Salvar este patrimônio histórico e transformá-lo num espaço cultural plural bem que poderia ser uma bandeira da primeira dama de Itabira, Raquell Guimarães já que ela é estilista e, além da moda tem outras coisas em comum com a Elke Maravilha, como a luta pelo empoderamento das mulheres, a arte, e as lutas de gênero e das minorias.

A Vale ao investir em transformar a “Casa da Elke” num espaço cultural ou memorial, capaz de fomentar o turismo, é mostrar que a mineradora está preocupada e contribui com a diversificação econômica do município, perante a exaustão das nossas jazidas.

Elke Maravilha merece mais. Itabira merece mais. Ipoema merece mais.

*Publicado originalmente no Diário de Itabira, sábado, 30 de agosto de 2025.

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