Mineração do futuro, com IA e robótica, pode viabilizar extração de hematita remanescente em Itabira por mina subterrânea
Robô modulares e reconfigurável para exploração mineral em mina subterrânea. Conheça o projeto Robominers
Foto: Reprodução/ Robominers
Carlos Cruz
Como a Vale não é boba de abandonar os seus ativos industriais de processamento de itabiritos, instalados em Itabira nas décadas de 1970 e 80, e ampliados na década passada para processar itabiritos mais pobres em ferro (os compactos, ou duros), ela vai fazer de tudo para prolongar a vida últil das minas locais.
Isso para não virar sucata metálica toda essa infraestrutura de processamento de minério de ferro, já que momentaneamente a alternativa de trazer minérios in situ de Conceição do Mato Dentro para concentrar em Itabira, foi descartada. A saída, portanto, é ampliar as cavas das minas Conceição e Dois Córregos, que é para esticar o horizonte de exaustão até 2041, pelo menos, em um primeiro momento.
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Antes, a própria mineradora havia divulgado a possibilidade de trazer itabiritos da mina de Serpentina para serem processado em Itabira.
Entretanto, a partir da parceria com a Anglo, que detém o complexo Minas-Rio com o mineroduto, e com a Vale cedendo os recursos da serra Serpentina, e assim adquirindo 15% desse complexo minerador, com pagamento adicional de US$ 157,5 milhões, a possibilidade de transpor e concentrar esses itabiritos nas usinas de Itabira já não mais existe.
Como consequência, a Vale passou a investir valores mais vultosos nas prospecções geológicas em Itabira, visando expandir as suas operações para além do pit das minas atuais, conforme este site já divulgou aqui: Vale está para expandir o pit de suas minas para além da via férrea e deixa moradores de Itabira preocupados
Essa busca quase frenética, com prospecções geológicas em vários pontos da cidade, é para que se tenha, com o horizonte de exaustão mais alongado, a alimentação das plantas industriais com recursos minerais que podem ser transformados em reservas lavráveis em Itabira.
Foi o que se observou na década passada com o próprio desenvolvimento dos processos para moer e concentrar os itabiritos duros, atualmente o principal produto itabirano de exportação, com isenção do pagamento de ICMS pela Lei Kandir.
Hematita remanescente
Mas há outros recursos que podem ser lavrados no futuro. Um desses recursos é o veio de hematita remanescente, minério com mais de 60% de ferro e que, segundo informações obtidas por este site, se estende abaixo dos itabiritos da mina Conceição até Chacrinha.
A informação, que a Vale não desmente nem confirma, é de um geólogo que já trabalhou na mineradora – e que por muitos anos acompanhou a prospecção desse veio ainda intacto no subsolo itabirano.
“Eu tenho absoluta certeza que corpos de hematita, que começam em Conceição, onde está o silo, e descem em direção à mina Periquito e Chacrinha, até próximo da passagem de nível da Vila Paciência, ficaram para trás por debaixo de itabiritos, sem serem explorados”, contou a reportagem esse geólogo, na condição do anonimado.
“Nas pesquisas anteriores, os furos de sonda que eram feitos em Itabira não chegavam até o final desses corpos. Se eram suficientes para se ter um planejamento de lavra por um longo tempo, paravam”, recorda.
Já um outro geólogo ouvido pela reportagem, que não trabalhou na Vale, mas conhece e acompanha a evolução das minas de Itabira, acredita que pelo surgimento de novas tecnologias e com a Inteligência Artificial (IA), e dependendo das condições favoráveis de mercado, ser bem possível a exploração desse veio por mina subterrânea.
“No caso da hematita, essa exploração seria por lavra subterrânea em larga escala, em salões e pilares ou grandes galerias. Equipamentos de robótica muito mais possantes e complexos já vem sendo desenvolvido para cavar tuneis em rochas duras, no diâmetro de oito metros, com larga escala de escavação”, observa esse geólogo.
“Em Kiruna, na Suécia, existe extração de minério em mina subterrânea com teor de ferro de 60,4% e alto fósforo 0,35%. A cidade está sendo deslocada para a ampliação da mina”, ele conta.
Ainda segundo esse geólogo, a Vale certamente tem adequada prospecção e pesquisa mineral da reserva e alternativas de aproveitamento.
“É regra que quando o cabeamento estéril e a lateral para desenvolver a cava em bancada da mina é superior a dez vezes o volume ou altura do minério, em vez de lavra a céu aberto, a subterrânea pode ser mais adequada e economicamente mais viável”, acrescenta.
Segundo ele, no Brasil já existem minas subterrâneas, a exemplo de mina de calcário para a indústria de cimento, da Votorantim. “Projeto pioneiro de lavra subterrânea foi implantado em Sorocaba, São Paulo, há 40 anos”, ele recorda.
“No Mato Grosso do Sul, em Corumbá, há uma imensa jazida de ferro e de manganês, sendo que esse é lavrado em camadas subterrâneas, em salões e pilhas. Essa mina era do grupo Chamas e foi arrendada para a Companhia Meridional, que descobriu Carajás e foi embora quando a Vale tomou aquela gigante reserva de ferro.”
Máquinas do futuro
Segundo conta esse geólogo, já está em teste na Escola Técnica Superior de Engenheiros Industriais e do Centro de Automação e Robótica (CAR) da Universidade Politécnica de Madrid (UPM), onde vem sendo desenvolvido, desde 2018, um projeto futurista de escavadeira modular, um robô bioinspirado, capaz de minerar depósitos minerais de forma autônoma em todos os tipos de minas subterrâneas e submersas em água.
Trata-se do projeto Robominers, financiado pelo programa de Pesquisa e Inovação Horizon 2020, da União Europeia, por meio de acordo de subvenção, com o objetivo de facilitar o acesso desses países a minerais estratégicos para a transição energética.
O principal objetivo do projeto Robominers é facilitar a extração de recursos minerais nos países da União Europeia em locais de difícil acesso, por meio de minas subterrâneas e aquáticas.
As primeiras experiências com esses robôs já foram realizadas em minas abandonadas na Estônia e Eslovênia, quando algumas de suas funções-chave foram testadas com sucesso.
O projeto é parte de um consórcio, que conta com a participação de diferentes instituições e entidades de pesquisas, com 14 parceiros de 11 países europeus.
Desenvolvimento
“Os primeiros protótipos podem operar em ambientes de um a três metros de largura e são capazes de realizar escavações precisas e reduzir resíduos”, conta Claudio Rossi, pesquisador líder e responsável por coordenar o projeto Robominers, em reportagem ao portal Click Petróleo & Gás, que pode ser lida aqui.
O projeto dos robôs mineradores prevê que eles possam ser transportados por módulos até a área-alvo, abrindo-se um poço de grande diâmetro, perfurado da superfície até o depósito mineral.
“Uma vez que todas as peças tenham sido enviadas para o subsolo, o robô se auto montará para formar um dispositivo totalmente funcional, capaz de detectar minerais através de sensores especializados e um software de inteligência artificial para tomada de decisões sem supervisão humana”, explica o líder do projeto.
“Esses robôs serão capazes de produzir uma mistura de água e minerais, que será bombeada e processada na superfície. Se necessário, as peças do robô podem ser reconfiguradas durante a operação e até mesmo se autorreparar em caso de falha ou mau funcionamento”, entusiasma o pesquisador.
Ainda não há uma data fechada, ou mesmo projetada, para início da operação com esses futuristas equipamentos, mas a União Europeia tem pressa. E a Vale em Itabira, com certeza, tem todo interesse no desenvolvimento do projeto.
É que, viabilizando-o, pode ser empregado na exploração futura desse bloco de hematita por mina subterrânea entre as minas Conceição e Chacrinha.
Fato ou ficção?
Entretanto, com relação a esse recurso de hematita ainda inexplorado, disposto em camada abaixo dos itabiritos, o geólogo ouvido pela reportagem disse não ter conhecimento de publicações técnicas e científicas sobre a ocorrência.
“Não li artigo científico de técnicos da Vale que apresente essa situação de uma formação ferrífera em situação invertida de tal dimensão e importância econômica”, afirma.
De acordo com ele, há muita especulação quando não se têm informações, como é o caso de uma laje de ouro que a lâmina de um trator arrancou um pedaço e pararam o serviço imediatamente por ordem superior. Fato ou ficção, não se sabe, mas a rádio Peão, que aumenta, mas não inventa, registrou esse episódio.
“Mudaram imediatamente a equipe e não se sabe o destino do ouro, se sobrou alguma coisa. Isso eu ouvi de mais de uma fonte. É possível? Sim, é possível. Afinal, o ouro foi o início da mineração em Itabira exatamente no morro Itabiruçu, atual Mina da Conceição”, observa.
Se é fato ou ficção, só a Vale pode confirmar, mas isso ela não faz, mantendo-se o mistério e as lendas urbanas minerais, no caso de Itabira, desde sempre.
“No Manifesto de Mina do processo ANM 000577/1936 havia registro das substâncias ouro e ferro e foi feita uma exigência há poucos anos para que a Vale reavaliasse as reservas de ferro e ouro e informasse se queria manter o ouro como mineral a ser explorado”, revela esse mesmo geólogo.
Ele se refere ao novo plano econômico de exploração das minas de Itabira, já aprovado pela Agência Nacional de Mineração, sobre o qual Itabira não foi informado oficialmente, apenas por reportagem deste site. Daí que não se sabe qual foi a resposta da Vale com relação a um possível retorno da exploração de ouro em suas minas ou mesmo do que ainda pode existir do metal na grota do Minervino.
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“O ouro é comumente associado ao ferro em alguns depósitos tipo camadas bandadas igual o itabirito, com alternância de camada de ferro e sílica ou areia. É de origem sedimentar marinha pela alternância de deposição ora de ferro ora de sílica na teoria transformista pela pulsação. O ouro tanto em um caso como em outro veio junto e pode ter sido concentrado em veios de quartzo ou ficar disseminado no minério de ferro”, explica o geólogo.
Isso é tão real que, mesmo depois de inicialmente negar a existência de ouro incrustado ao itabirito, acabou criando o Projeto Ouro, no início da década de 1980, depois que eclodiu o garimpo na grota do Minervino. E por muitos anos explorou esse metal precioso, chegando a extrair mais de 500 quilos de ouro em Itabira, o mesmo produto mineral que antes “não tinha valor econômico” e era lançado na grota do Minervino, no Pontal.
“O folclore diz que no Japão as siderúrgicas faziam a recuperação do ouro do minério de Itabira comprado da Vale e lucraram muito. Na fusão é difícil separar ouro do ferro, mas essa história anda solta por aí”, conta esse geólogo, repetindo uma lenda urbana minerária que muito se ouve ainda hoje em Itabira – e que nunca foi desmentida pela mineradora Vale.
“Tudo que se faz em segredo, a curiosidade e a especulação aumentam. As mineradoras deveriam abrir os seus processos industriais para evitar especulações”, defende esse geólogo.
Avanços tecnológicos
Mas isso a Vale não faz. Em resposta a este site, a mineradora diz que não comenta especulações ou rumores. Mas, admite:
“Com relação ao plano de exaustão das minas, o planejamento é ajustado em função da revisão dos planos estratégicos de lavra e de produção da empresa. Importante esclarecer, ainda, que premissas econômicas, demandas de mercado e avanços tecnológicos podem interferir na estimativa da exaustão mineral.”
Que cada um tire as suas conclusões, que podem ser otimistas ou pessimistas.
Afinal, muitos em Itabira torcem para a mineração terminar logo, abrindo perspectivas de o município voltar a diversificar a sua economia, passando para um novo ciclo de desenvolvimento sustentável, sem poeira e detonações que provocam vibrações nas residências,
A população de Itabira sofre também com os ruídos que provocam poluição sonora sentida no bairro Campestre, vizinho da usina Cauê com os seus moinhos de triturar itabiritos duros, como também em outros bairros próximos das plantas industriais de Conceição, além do barulho dos equipamentos em operação nas minas, ouvido por toda a cidade.
E bom que dá mais serviço para os itabiranos