Na Casa da Cidadania, instalada na praça Acrísio de Alvarenga, o povo organizado é quem mais ordena

Fotos: Ascom/PMI

Carlos Cruz

Iniciativa do prefeito Marco Antônio Lage (PSB), que encaminhou projeto de lei aprovado pelos vereadores em 23 de maio do ano passado, a Prefeitura inaugurou, na noite de sexta-feira (12), a Casa da Cidadania Margarida Silva Costa, para abrigar e recepcionar as entidades da sociedade civil organizada, com as suas mobilizações populares por melhores condições de vida no município de Itabira.

“Mais do que uma estrutura física, a Casa da Cidadania representa a mudança na política de Itabira”, disse o prefeito na inauguração, para quem a escolha do local, onde antes estava instalado o Corpo de Bombeiros, que ganhou novo espaço no bairro Amazonas, tem também o seu significado.

“Está localizada estrategicamente entre a Prefeitura e a Câmara Municipal”, acentuou o prefeito, ressaltando a sua importância como novo espaço para se fazer política participativa no município. A Casa da Cidadania está instalada na praça Doutor Acrísio de Alvarenga.

A participação popular deve ocorrer por meio de suas entidades organizadas, a exemplo das associações de moradores dos bairros, pioneiras no país, organizadas na década de 1960, em plena ditadura milita.

Elas foram incentivadas pela igreja Católica, com as Comunidades Eclesiais de Base, conforme destacou o brasilianista Thomas C. Bruneau, em seu livro O catolicismo brasileiro em época de transição (Loyola, 1974), ao citar Itabira, juntamente com Cratéus (CE), como cidades vanguardas desse movimento inspirado na Teologia da Libertação.

Conforme relembra o ex-secretário de Obras Ronaldo Lott, no governo do petista Jackson Tavares (1997-2000), a ideia de se criar a Casa da Cidadania foi debatida, mas não foi para frente. “Todo mérito a quem faz”, ele aplaudiu a iniciativa, agora concretizada.

“Mas acho que vale uma lembrança. Essa ideia da Casa da Cidadania foi apresentada pela ex-vereadora Maria José Pandolfi, na época do governo Jackson. E seria instalada nesse mesmo local. Não lembro porque não vingou, mas em 2000 o projeto do Corpo de Bombeiros deu mais ibope. Talvez a ideia da Casa da Cidadania era muito evoluída para aquela época.”

A Casa da Cidadania foi instalada no antigo prédio do Corpo de Bombeiros, na praça Acrísio de Alvarenga, entre a Prefeitura e a Câmara Municipal

Pluralidade e representatividade

De acordo com o prefeito, a proposta é ter na Casa da Cidadania um espaço democrático, plural e representativo, voltado para a construção de uma sociedade mais organizada e participativa nas grandes decisões para o presente e futuro do município.

Para isso, está aberta à realização de reuniões e eventos promovidos pelos conselhos municipais, pelas lideranças comunitárias e entidades da sociedade civil organizada.

A sua instalação foi enaltecida pela presidente da Interassociação dos Amigos de Bairros de Itabira, Maria das Graças Lelis, para quem a inauguração da Casa da Cidadania é um evento histórico.

“Hoje começa um novo capítulo na história da nossa cidade. Nós ganhamos a Casa dos Conselhos com o nome de uma grande líder comunitária, a Dona Margarida”, salientou.

“Dona Margarida foi precursora da assistência social que protege e desenvolve uma comunidade. Deixou um legado vivo e inesquecível”, homenageou Marco Antônio Lage.

A Casa da Cidadania Margarida Silva Costa será mantida pela Prefeitura de Itabira, por meio da Secretaria Municipal de Governo (SMG).

“A Prefeitura estabelece um lugar de inclusão e efetiva participação popular nas políticas públicas”, afirmou o secretário de Governo, Danilo Alvarenga. Segundo ele, o espaço de cidadania vai possibilitar também a escuta ativa dos diferentes segmentos sociais organizados em Itabira.

“A participação da comunidade fortalece a democracia”, acentuou o secretário de Governo. Ele espera ver a participação da sociedade civil organizada contribuindo para a implementação de políticas públicas justas e necessárias, que beneficiem a maioria da população itabirana.

“Dona Margarida é o nosso espelho, pela dedicação (à causa social)”, enalteceu o secretário, justificando o nome da homenageada para a Casa da Cidadania. “Certamente, impulsionará outras pessoas a fazerem o bem, por meio do serviço voluntário.”

Centenário

Dona Margarida foi pioneira na assistência social voluntária em Itabira, sempre procurando ensinar a pescar ao invés de dar o peixe (Foto: álbum de família)

Em 18 de março de 2019, a Câmara Municipal de Itabira decidiu que 2020 seria o Ano Municipal do Centenário de Margarida Silva Costa, nascida em Itabira, em 10 de junho de 1920 – um reconhecimento do município por toda a sua dedicação aos mais vulneráveis socialmente.

Margarida Silva Costa foi também vanguardista no mundo do trabalho, tendo sido a primeira mulher a ingressar no quadro de empregados da então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), aos 25 anos, no primeiro dia de setembro de 1945.

Em sua longa vida, ela sempre preferiu ensinar a pescar a dar o peixe. Foi assim a sua atuação à frente do Combem, entidade que ajudou a fundar em Itabira, em 1976.

Para ela, o importante era capacitar o menor para que pudesse seguir em frente com as suas próprias pernas e conhecimento.

Daí que ela sempre lutou pela inclusão social. São vários os exemplos de jovens que por ela foram assistidos – e que ingressaram no mercado de trabalho com a profissão que aprenderam nas oficinas do Combem e com o estímulo para continuarem estudando.

Datilografia

Em entrevista a este repórter, dona Margarida contou que para ingressar nos quadros de empregados da Vale foi fundamental ter aprendido datilografia, um diferencial importante naquela época.

Por muitos anos ela foi a única mulher que sabia escrever à máquina na mineradora, uma técnica que até então só era dominada pelos homens.

Na entrevista ela contou que, naquela época em que o lugar de mulher não era onde ela quisesse estar, mas em casa cuidando dos filhos, foi criticada por pretender “abandonar” o lar para ingressar no mercado de trabalho.

Pois ela cumpriu a dupla jornada com total dedicação, na verdade uma tripla jornada, pela causa social também. Casada com Tomaz da Costa Filho, de quem ficou viúva por muitos anos, dessa união nasceram os seus seis filhos.

Trabalhou por 30 anos na Vale, passando pela Estrada de Ferro Vitória a Minas, pela administração do Hospital Carlos Chagas e, por último, na antiga Superintendência das Minas, onde se aposentou, em 1975.

Dona Margarida faleceu em 2 de agosto de 2021, aos 101 anos.

 

 

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