Moradores da Vila Paciência temem a presença de Aedes Aegypti em lagoa da Vale, com risco de proliferação de doenças

Lagoa da Vale em lote vago é ameaça permanente a moradores vizinhos, um problema socioambiental que se arrasta há mais de dez anos

Foto: Carlos Cruz

Em Itabira, historicamente, um dos bairros mais impactados pela mineração é a Vila Paciência, que já teve a sua parte alta desapropriada pela ainda estatal Companhia Vale do Rio Doce no final da década de 1980.

E, já no início da década passada, perdeu outras dezenas de casas para a mineradora, adquiridas sob a alegação de que seria para  implantar uma zona de amortização entre o bairro e a mina Chacrinha, formando um horto florestal.

A aquisição das casas ocorreu depois que uma “chuva de pedras de minério” caiu sobre algumas casas, quebrando telhados, vidraças e assustando moradores, depois de uma forte detonação para o desmonte de uma rocha de minério de ferro.

Os moradores não acreditaram nessa história. Sempre desconfiaram que o verdadeiro interesse da empresa é expandir a lavra de minério para além da ferrovia, que vai mudar de lugar nesse trecho, ampliando o chamado “pitt” da mina. Essa dúvida persiste e vai continuar uma vez que a comunicação da mineradora com a sociedade itabirana não é transparente e objetiva.

As aquisições das outras residências foram inexplicavelmente suspensas, o horto florestal não foi implanto. E novos problemas surgiram com os lotes vagos, depois da demolição das casas adquiridas, com muito mato e proliferação de animais peçonhentos (cobras, escorpiões, aracnídeos).

Haja paciência

O mosquito da dengue pode ser encontrado em todo recipiente com água parada, limpa e mesmo contaminada com óleo e graxa (Foto? Ascom/PMI)

E o mais grave é que em um desses lotes vagos, da mineradora Vale, virou lagoa na avenida France de Paula Andrade, em frente à garagem da Cisne. E virou ameaça de de proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor  da dengue, chikungunya, zika e febre amarela urbana, doenças chamadas de arboviroses.

“Não bastasse essa ameaça, a água da lagoa está contaminada por graxa e óleo. E a lagoa pode não ter sido formada apenas pela água das chuvas”, desconfia um morador, que pede para não ter o seu nome revelado, temendo retaliações.

“Pode ser também consequência de infiltrações de água contaminada vinda da área da Vale ou mesmo da água subterrânea que está minando no lote, e que pode estar contaminada por efluentes industriais”, esse mesmo morador aciona o sinal de alerta.

“O mosquito da dengue já sobrevive em água salobra e com produtos químicos. Então, não podemos deixar a água parada em hipótese nenhuma”, diz a superintendente de Vigilância em Saúde, Natália Andrade, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), endossando a preocupação dos moradores.

Esse morador também suspeita que foi o acúmulo de água nessa lagoa que pode ter contribuído com as infiltrações no Pronto-Socorro Municipal, que fica abaixo, no bairro Penha. E também em residências na rua do Cascalho, abaixo dessa insurgente lagoa da Vale – um problema urbanístico-ambiental que se arrasta há mais de dez anos, além das fortes chuvas.

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Proliferação

Agentes de combate ao mosquito Aedes aegypti tem atuado em toda cidade. Os moradores também precisam engajar nesse mutirão para evitar um surto da doença na cidade (Foto: Ascom/PMI)

Enquanto Prefeitura, Vale, e Ministério Público de Minas Gerais, via Curadoria do Meio Ambiente, não entram em acordo para a imediata eliminação dessa lagoa, é plenamente justificável a preocupação dos moradores com a proliferação do sempre presente mosquito Aedes aegypti, uma ameaça não só aos que moram na Vila Paciência, mas em toda cidade.

Segundo o último Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (Liraa), realizado entre os dias 16 e 20 de janeiro, a infestação predial em Itabira está em nível assustador de 9%. Em outubro do ano passado, esse índice era de 5,6%, ou seja, um aumento de 60,71%.

Claro que essa situação de alerta-geral se deve à profusão de muita chuva, mas também à falta de cuidado dos próprios moradores, que deixam material inservível em lotes vagos e quintais, acumulando água e virando berçário do temível mosquito.

“Itabira está em situação de alto risco para um surto de contaminação pelas arboviroses”, alerta a superintendente de Vigilância em Saúde, com base no alto Índice de Infestação Predial (IIP).

Trata-se de um indicativo para os municípios conhecer a real situação de infestação nos bairros da cidade. O Ministério da Saúde (MS) classifica o IIP inferior a 1% como sendo de baixo risco (ideal), de 1% a 3,9%, médio risco, E acima de 4%, como é o caso de Itabira, de alto risco de proliferação das arboviroses.

Visitas domiciliares

Para fazer o levantamento, agentes de combate a endemias (ACE) vistoriaram 1.885 imóveis da área urbana. “Esses bairros são divididos em quatro estratos, 3/4 estão com risco de surto e 1/4 com sinal de alerta. Assim, todo o município de Itabira deve estar atento para a eliminação de focos”, afirma a superintendente Natália Andrade.

Segundo ela, cerca de 83% dos focos de dengue estão em domicílios e em áreas do entorno das residências. Daí que são necessárias medidas de profilaxia que devem ser imediatamente adotadas por todos os moradores como medida preventiva e protetiva individual e coletiva. Limpar os quintais e lotes vagos, eliminando toda situação que pode virar foco, deve ser tarefa de todos.

Foram encontrados focos do Aedes aegypti nos seguintes locais: 37,2% em recipientes possíveis de remoção (garrafas, plásticos, latas), 32,4% em bebedouros e vasos de plantas, 13% em pneus e 10,1% depósitos em nível de solo (caixas d’água e tambores).

“O que precisamos de fato é da compreensão dos itabiranos para monitorar a situação dentro de casa. O destino do lixo, dos inservíveis ou recicláveis, é de responsabilidade da população, tendo em vista que temos os dias e horários corretos para a coleta seletiva, orgânica e de apoio”, salienta Natália Andrade.

A SMS com os seus agentes de combate ao mosquito tem intensificado os trabalhos de tratamento da água parada, vistoria e eliminação de possíveis criadouros, além de orientar a população sobre os perigos das doenças causadas pelo Aedes aegypti.

Que todos na cidade façam a sua parte, inclusive a mineradora Vale, eliminando a lagoa da Vila Paciência.

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1 Comentário

  1. Denúncia gravíssima! E funcionaria Natália nao entendeu, ela não devia pedir ,”a compreensão da populaçao” mas exigir de quem ameaça a cidade, a mineradora estrangeira, que emn Itabira é dirigida por empregados indiferentes a cidade, os cafetinos de nariz empinado.

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