A democracia vence a distopia e Lula é eleito pela terceira vez presidente do povo brasileiro
Foto: Ricardo Stuckert
Carlos Cruz
Na tarde desse histórico domingo (30), por volta de 14h30 em um conhecido restaurante de Itabira, uma senhora paramentada da cabeça aos pés com roupas e adornos verde-amarelos se dirigia ao caixa para pagar a conta, quando viu sentado com a família um homem vestindo camisa vermelha.
Ato contínuo, mesmo sem se dirigir à essa pessoa de vermelho, a senhora que fez campanha acirrada para o ainda deputado Bernardo Mucida, que não se reelegeu, volta-se e dirige à mesa ao lado, onde almoçavam funcionárias da casa numa abordagem que pode ser tipificada como assédio eleitoral, raivoso e intimidatório.
Com um discurso maniqueísta, vocifera contra Lula, defendendo o voto no candidato da extrema-direita derrotado nas urnas pela segunda vez neste ano eleitoral.
“Pobre do bem, vota em Bolsonaro, enquanto o podre do mal vota em Lula. É assim também com os ricos. Os que são do bem estão com o presidente e os que não prestam apoiam Lulaladrão”, ela aumenta o tom de voz
Dá-se por satisfeita e bate os pés em retirada não sem antes lançar um olhar fulminante para a pessoa que vestia camisa vermelha, que sorriu, achando graça na tresloucada cena.
Após a proprietária do restaurante se desculpar pelo assédio eleitoral ocorrido em seu estabelecimento, alguém comenta sobre o bloqueio que ocorria em Pernambuco, com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) impedindo que eleitores, supostamente majoritariamente petistas, seguissem para as seções eleitorais – uma manobra eleitoreira que pode ser tipificada como ato de terrorismo de Estado, executado para atrapalhar a votação do candidato petista.
A pessoa com camisa vermelha, fazendeiro de Santo Antônio do Rio Abaixo, sem ligar para o discurso da mulher bolsonarista, sarcasticamente comenta sobre o criminoso bloqueio da PRF em Pernambuco. “Não vai adiantar. Eles (os pernambucanos) vão de jegue, mas não deixam de votar em Lula,”
Foi o que ocorreu. Com ampla maioria de votos no Nordeste, e com expressiva votação nas demais regiões do país, Lula impôs derrota incontestável ao ainda presidente, com o endosso de 60.345.999 brasileiros (50,9% dos votos válidos) que deram um retumbante basta à política genocida do ex-capitão.
Bolsonaro passa à história como o único presidente no exercício do cargo que não se reelegeu depois do retorno das eleições diretas para presidente, com a Constituição de 1988.
Vitória histórica
A diferença de 1,43% pró-Lula não foi insignificante, mas histórica. Lula era o único político brasileiro capaz de vencer a máquina governamental que se utilizou da estrutura do Estado – até aqui impunemente – para comprar votos com dinheiro público, um golpe que estava em curso em plena campanha e que ainda não se sabe se terminou.
Lula não enfrentou um presidente que buscava a reeleição. Como ele bem disse em discurso após a vitória, teve contra si o próprio Estado a serviço do governo – um crime eleitoral sem precedente histórico que não pode passar impune, para que não se repita.
Foi uma vitória da civilização e da democracia contra a distopia que o país ainda vive até 31 de dezembro. E que só Lula podia vencer, pela sua história e envergadura política, enfrentando a desavergonhada política eleitoreira do toma lá dá cá com os milhões de reais distribuídos por meio do escandaloso orçamento secreto.
Lula enfrentou a compra de votos com o Auxílio Brasil, criado à véspera da eleição, assim como as mentiras terroristas do fechamento das igrejas, dos banheiros unissex, do comunismo que ainda assusta parte da população evangélica, ingênua e crédula, que acredita na palavra vil de pastores inescrupulosas, mercadores vendilhões de templos.
Portanto, foi uma vitória de importância incomparável contra a continuidade de um governo de extrema-direita que ameaça a paz e a tranquilidade – e que muito mais danos faria ao povo brasileiro caso saísse vitorioso, com reflexo em todo o mundo.
O ainda ocupante do Palácio do Planalto foi derrotado por Lula e por 58.206.999 votos de brasileiros que deram um retumbante basta à polícia necrófila do falso Messias que, por um tremendo erro histórico, levou o país a viver uma distopia que só agora está prestes a terminar.
Municipais
Repetindo o que ocorreu no primeiro turno, Bolsonaro foi mais uma vez derrotado pela maioria do povo itabirano. Lula garimpou 38.302 (53,77%) votos no segundo turno, somando 3.277 votos a mais ao que obteve no primeiro turno – 35.025 (50,16%).
Mas se dependesse da maioria dos políticos itabiranos, a eleição presidencial mais polarizada da história política recente brasileira teria passado despercebida, como se ocorresse em alhures. Os candidatos a deputados nada manifestaram acerca da eleição presidencial, para não perderem votos à esquerda e à direita.
Foram penalizados pela derrota, não apenas por esse motivo, mas também pela omissão que o povo não perdoa, vide os tucanos que veem o PSDB, eterno murista, definhar-se em quase todo o país.
Exceções ficaram com o prefeito e o vice-prefeito que, mesmo timidamente, manifestaram apoio aos seus respectivos candidatos. O vice-prefeito Marco Antônio Gomes (PL) gravou vídeo postado na rede social com o reacionário discurso bolsonarista, maniqueísta do bem contra o mal, propagando o medo por meio de mentiras que assombram o público evangélico, do qual ele é pastor.
Já o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) foi a Ipatinga, durante a campanha, para abraçar e levar o seu apoio pessoal ao candidato petista. Em entrevista a este site explicou as razões políticas para declarar voto a Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República Federativa do Brasil.
Leia aqui:
E mais aqui:
“Meu apoio à candidatura de Lula é pessoal e por coerência partidária”, diz Marco Antônio Lage
Legislativo
Na Câmara Municipal, o único vereador que durante as sessões legislativas manifestou o apoio à Lula foi Heraldo Noronha, que, mesmo sendo correligionário de Roberto Jefferson no PTB, ex-sparring do presidente derrotado, declarou desde o início da campanha o seu apoio à candidatura do ex-presidente, inclusive fazendo propaganda para Lula pela rede social.
A vereadora Rosilene Félix (MDB), que é evangélica, também não se omitiu: apoiou o presidente derrotado.
Fora do campo político tradicional, a esquerda itabirana fez campanha para Lula, integrando a frente ampla democrática municipal para formar um novo bloco histórico hegemônico para derrotar o já quase ex-presidente nas urnas.
Unidos nessa frente ampla democrática municipal, PSOL, PSB, PDT, PT, DC e PCB fizeram campanha com manifestações no centro histórico e nos bairros da cidade, levando a proposta de Lula por uma política humanista, civilizatória contra o atraso e o retrocesso que viria caso o ainda presidente fosse reeleito.
Esses militantes partidários e ativistas sociais são, até aqui, a garantia de que a mobilização popular contra o neonazifascismo continua, para que não volte a distopia para ameaçar a paz, a liberdade e a vida das pessoas que aqui vivem e trabalham.
Que essa nefasta história não se repita nem mesmo como farsa.
Mato Dentro
Na região, Lula só não venceu em João Monlevade, cidade operária administrada pelo prefeito petista Laercio Ribeiro e que teve participação ativa nas históricas greves dos metalúrgicos que ajudaram a derrotar a ditadura militar, restabelecendo a democracia no país: Bolsonaro teve 23,348 votos (50,44%), enquanto Lula ficou com 22.945 votos (49,56%)
Em todas as outras cidades desta região matodentrense Bolsonaro foi seguidamente derrotado.
Lula ganhou em Santa Maria (67,28% a 32,72%), São Gonçalo do Rio Abaixo (59,66% a 40,34%), Bom Jesus do Amparo (62,49% a 37,51%), Itambé do Mato Dentro (68,39% a 31,61%), Passabém (62,71% a 37,29%), São Sebastião do Rio Preto (55,55% a 44,45%), Santo Antônio do Rio Abaixo (62,96% a 37,04%) e Ferros (68,31% a 31,69%).
O caso da vereadora Rosilene foi um vexame, ela não sabe definir democracia. Ela não sabe o que é fazer política. E não tem atuação significativa na Câmara, eu a observo pelo fato de ser mulher, que pra ela não tem o significado, a impressão que faço das imagens da senhora vereadora é de quem quer aparecer no retrato que se vê na mídia. Espero que seja derrotada nas proximas eleições dado que é o nada para o nada na Câmara.
O prefeito Marco Antonio, tem números de votos pra conversar com o presidente Lula no planalto. Cobrar o que o Estado deve a itabira.