Poeira itabirana de todos os dias

Foto: Mauro Moura

Nenhum desejo neste domingo

Carlos Drummond de Andrade

Nenhum desejo neste domingo

nenhum problema nesta vida

o mundo parou de repente

os homens ficaram calados

domingo sem fim nem começo.

A mão que escreve este poema

não sabe o que está escrevendo

mas é possível que se soubesse

nem ligasse.”

Por Mauro Andrade Moura

Em uma fatídica sexta-feira à tarde de alguma semana de algum mês de 1994 e até a segunda-feira seguinte e bem cedo, provavelmente entre agosto e setembro, não me recordo, a matinha da Camarinha lindeira à estradinha 105 foi posta toda abaixo a mando da mineradora Vale, que naqueles dias se valeu do final de semana a provocar esse desastre ambiental que assola Itabira todos os anos principalmente no período da seca.

Provavelmente essa mineradora Vale na época só levou uma pequena multa pelo desmatamento, se tanto, e na época não foi pensado ou mensurado o que adviria daí.

As ventanias ocorrem naturalmente entre os meses de julho e agosto com a entrada do vento sul e percorre todo aquele trecho da Serra do Esmeril, escalavrado que está para a retirada do minério de fero, levantando todo aquele material solto que cai como uma enorme nuvem de poeira por sobre a cidade, principalmente no centro de Itabira que está abaixo da Camarinha.

Atualmente a Vale vem sendo multada pelas nuvens de poeira que recaem sobre toda a cidade, não mais apenas sobre o Campestre, Penha, Vila Paciência, Pará, Moinho Velho. São multas milionárias que não são pagas, conforme balanço apresentado em recente reunião do Codema.

Há muita tibieza do governo municipal, no atual e nos anteriores. Afinal de contas, eles pensam, mesmo sendo essa mineradora depredadora do meio ambiente, ela é a maior pagadora de impostos e grande empregadora municipal e isso sempre pesa na balança na hora de cobrar esse tipo de conta.

Leia mais aqui:

Divino era o ar em Itabira do Mato Dentro. Hoje, Vale paga minério com doenças respiratórias

Itabira em 1940, antes do início da exploração de minério de ferro pela Vale, que desmatou toda a vegetação nativa existente do Cauê à Conceição, passando pela serra do Esmeril (Foto: acervo IBGE)

Já não bastasse a constante falta de água, monopolizada pela Vale, e que agora promete sabe-se lá quando fazer a transposição do rio Tanque, a população ainda sofre com essa poluição do ar pelo pó preto da Vale, consequência de uma mineração predatória como se fosse o mais reles garimpo.

Falta à população fazer um movimento contra isso tudo, exigir que se ponha um termo junto à administração pública municipal e estadual, ao Ministério Público. É preciso que se tenha uma ação conjunta, com repercussão nacional, que force a mineradora a adotar medidas mais impactantes para se pôr fim a esse grande dano que causa ao meio ambiente itabirano.

Se houvesse o pagamento das multas pela mineradora poluidora, a Prefeitura Municipal bem que poderia, no período de estiagem, oferecer descontos nas contas de água do Saae. Isso para compensar o aumento do consumo que ocorre para os moradores manterem suas casas, roupas e automóveis livres da pesada poeira que cai da mineração de ferro.

Se as multas fossem quitadas, deveria pegar o restante do dinheiro dessas milionárias multas e oferecer medicamentos aos moradores que sofrem de sinusite, bronquite, rinite e asma, bem como garantir atendimento médico com exames de imediato e indistintamente a todos os que sofrem dessas doenças provocadas pelo excesso de pó preto carregado de minério despejado no ar de Itabira.

 

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2 Comentários

  1. E o pior é a população acreditar que, se a mineradora criminosa (Brumadinho e Mariana) fechar a cancela, a cidade não terá nem o serviço de recolimento de lixo. Portanto que sofram todos com o assassinato lento e massivo da cidade. Os que a dirigem aí na mina são homens sem perspectiva de futuro e a Itabira e apenas um…..

    1. Pois é, Cristina, sabemos que desde sempre a população itabirana, a local e a que veio para trabalhar na mina, sempre abaixou a cabeça para os mandos e desmandos desta mineradora.
      Agora é pagar a conta com a própria saúde ou de familiares e amigos.

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