Da pureza dos oceanos ao infinito antes que venha o fracasso incomparável
Foto: Divulgação/ONU
As Nações Unidas, com o apoio dos Governos de Portugal e do Quénia, acolhem a Conferência dos Oceanos, em Lisboa, de 27 de junho a 1 de julho de 2022
Veladimir Romano*
Durante a primeira conferência dos oceanos de Nova York em 2017, idênticas palavras foram escutadas e memória não falhe, houve altíssimo entusiasmo desenhando soluções promissoras na defesa dos nossos oceanos… não temos outros e, caso não se decidam na salvação destes, muita miséria irá ocorrer no planeta.
Na defesa da imensidão marinha, ela apenas ficou preservada em 2%, com pequenas nações de fracos recursos financeiros, sem orçamentos viáveis nem ciência capaz, devendo, facilmente, aceitar investimentos estrangeiros, caso na pesca, turismo sustentável, exploração piscícola ou outros trazendo lucros, dificilmente poderão estabelecer proveitos para suas populações.
O caso das ilhas de Cabo Verde é flagrante onde o seu território físico sendo inferior quatro vezes ao mar, difícil então ficará a tarefa; tanto como seu vizinho no continente, a Guiné-Bissau com suas oito dezenas de ilhas no arquipélago de Bijagós, complicado fica aplicar qualquer projeto.
Muito bom e bem-vindas mais conferências patrocinadas pelos países com interesses marítimos em parceria com a ONU. Mas será total desperdício quando milhares de agentes políticos, especialistas do planeta incluindo organizações ambientalistas, independentes, institutos e jornalistas, na sua maioria elevando fasquias depois no passar do tempo, despertar o fiasco.
O mesmo passará no ainda mais pequeno arquipélago de São Tomé e Príncipe com seus 220 mil habitantes, território com 1001 km2, onde igualmente se colocam problemas pelos cuidados e preparos científicos, financeiros, técnicos, que dificilmente terá solução.
Não vai esta nação toda uma vida depender do exterior para resolver problemas dentro da sua soberania. Aliás, foi desse tema relevante apontando análises mais corretas nas quais representantes cubanos e africanos afirmaram teses pertinentes.
Países ricos, poderosos e dominadores, fáceis discursos colocam na mesa sedutoras propostas, entretanto, cinco dias não foram suficientes para que, pela primeira vez, se pudesse também afirmar no debate da Conferência dos Oceanos de Lisboa, abertamente, a tenebrosa questão dos transportes marítimos internacionais nas mãos de companhias completamente irresponsáveis, praticantes de fraudes, corroborando ilegalidades, não cumprindo com seguros obrigatórios e causando a maioria dos desastres marítimos.
Atentos economistas afirmaram dos possíveis negócios existentes na potencial exploração oceânica em mais de 25 bilhões e 1/2 de euros, equivalente à sétima economia mundial.
No entanto, nada feito quando o nosso planeta desejando melhor, mas nações várias subsidiando pesca ilegal [junto ao Japão, EUA, Espanha e Coreia do Sul, péssimos exemplos deste problema], vêm conversando faz 21 anos com entidades internacionais, incluindo agências das Nações Unidas para dar um basta em ações pouco favoráveis ou na defesa da estabilidade das espécies marinhas.
Outro grande problema é a enorme quantidade de CO2 absorvido em excesso gradativo, fazendo aumentar também graus de acidez dos oceanos.
O debate deveria ter ido mais além sobre a descarbonização dos transportes marítimos quando ongues retiram dos mares diariamente 27 toneladas de plástico… pouco se falou da transição energética através da água.
Não interessa líderes governamentais e burocratas deitando semântica já bastante gasta dizendo que agora a proteção dos oceanos subirá para 30% e, pela expressão da maioria dos assistentes [ficaram assinalados 20 mil pessoas de 160 países, porém, apenas 7 mil participaram de 140 com 900 oradores], reparam na ausência de ambição, bom senso, coragem devida defendendo a natureza e boas soluções.
*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.