A “linguagem de macaco”, falada em Itabira, ganha dissertação e sua versão em livro tem lançamento neste sábado, no Clube de Leitura
O secretário-executivo da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), campus de Itabira, mestre em Letras pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Geuderson Traspadini Marchiori, lança neste sábado (11), às 15h, na livraria Clube da Leitura, no Centro Cultural, o livro A Linguagem de Camaco – aquilombamento linguístico.
Publicado pela editora Letramento, o livro é resultado de suas pesquisas para a dissertação de mestrado, publicada em 7 de junho de 2021, no Repositório Institucional da UFOP). Em sua dissertação, o autor procura identificar e resgatar a memória da reexistência dessa peculiar linguagem de trabalhadores das minas, ainda no tempo em que os ingleses garimpavam em Itabira do Mato Dentro.
Segundo o autor, ao investigar os contextos de uso dessa linguagem sob a lente da insurgência decolonial e dos conceitos de língua/linguagem como ação e materialização de tensões e disputas sociais, o estudo aponta a Guinlagem de Camaco (Linguagem de Macaco) como espaço de resistência e de protagonismo negros, atribuindo-lhe o valor de aquilombamento linguístico.
A dissertação aponta também pontos de convergência entre a Linguagem de Camaco e outras línguas especiais, na Europa, no Brasil e em Minas Gerais. E propõe, ainda, reflexão sobre aspectos de memória e de identidade, contrapondo-os à ausência de registros da linguagem em espaços oficiais de guarda da memória.
Ao questionar a centenária existência da Linguagem e sua mudança ao longo dos tempos, o autor faz uso do conceito de reexistência que envolve “a necessidade de desestabilizar os discursos e as práticas sociais cristalizadas, reinventando práticas e desafiando os assujeitamentos impostos”.
Sobre a resistência dessa linguagem ao longo do século passado e início deste, o autor destaca que essa longevidade dessa linguagem peculiar está relacionada aos possíveis usos feitos pelos falantes ao longo de sua existência.
Trata-se, pois, de acordo com Marchiori, de “uma ferramenta irreverente e genial criada por aqueles cuja resistência significa sobrevivência, fazendo possível a proposta de reconhecer a linguagem como espaço linguístico de aquilombamento” – e de resistência cultural.
Para saber mais, acesse:
Linguagem de Camaco, aquilombamento linguístico: uma invenção de resistência dos itabiranos
E também aqui:
“Sovê basse lafar guinlagem do camaco?
O livro está lindo, para além da linguagem é uma aula de empatia, ensina a realmente olhar o outro e valorizar o que muitos julgam insignificante.