Esse inesgotável Drummond…

Imagem: Memória, de Ricardo Tamm

Graça Lima

Só mesmo Drummond e seus 80 anos seriam capazes de atrair as atenções do país em pleno outubro de um conturbado e político 82.

As homenagens a ele prestadas pelos admiradores evidenciam o  prestígio do poeta e a certeza de que, à margem dos  complicados e pouco líricos tempos modernos, a poesia encontra ressonância na vida de muita gente.

Itabira viveu um mês de festa e muita emoção. É que o poeta e sua terra estiveram envolvidos no mais profundo e desinteressado diálogo: o nosso gauche esteve nos campos de futebol como troféu, foi lido, relido, declamado e dramatizado nas escolas, esteve exposto em partituras, foi tema de conferências, prêmio do I Salão Nacional de Humor de Itabira e, ainda, chuva de poesia, chovendo na tarde azul e ensolarada do dia 31.

O Ciclo de Conferências realizado no Centro Cultural de 25 a 30 de outubro trouxe a Itabira pessoas que, como nós, têm por Carlos Drummond uma paixão especial. Durante toda a semana, a obra do poeta foi submetida a mais diversas leituras e focalizada a partir de perspectivas interessantes, o que demonstrou,  mais uma vez, a plurissignificação e abertura da arte literária.

O professor Orlando Bianchini trouxe-nos a face metafísica do poema Os bens e o sangue em que o eu lírico  viaja num esforço contínuo de resgatar o tempo, o clã, a perdida infância e Itabira.

Ronald Claver, o poeta, falou da influência de Drummond na poesia mineira, realçando principalmente aquela lição do silêncio e da gestação do poema constantes em Procura da Poesia como em todo o projeto literário do autor.

Maria Helena Campos desenvolveu o tema Drummond e a vida moderna, tomando como suporte para a sua análise textos publicados inicialmente em jornais pelo poeta que, como ser social, coloca-se criticamente frente à realidade e tematiza aspectos da sociedade contemporânea.

Antônio Sérgio Bueno tratou do Erotismo e das relações com o Poder na poesia drummondiana. Ao situar  o poeta na família patriarcal do início do século, o professor Sérgio procurou mostrar como é agônico o erotismo e envergonhada a sexualidade na poesia de nosso autor.

O Ciclo de Conferências encerrou-se na sexta-feira com a presença de Arp Procópio – ex-aluno e amigo do macunaímico Carlos Drummond – que traçou o perfil do poeta, contou fatos e passagens de sua vida em Itabira e no Rio.

Os participantes do Ciclo de Conferências ressaltaram a importância da iniciativa e elogiaram o desempenho dos conferencistas e, o que é mais importante, deram mais um passo em direção a Drummond.

Agora, os agradecimentos à Prefeitura Municipal, ao Cometa Itabirano, à FIDE, a Antonieta Antunes Cunha (sempre presente), aos conferencistas e a Carlos Drummond de Andrade, que não tem culpa de ter nascido em Itabira, de ter 80 anos e de ser o Poeta Maior que vem dizendo a vida da gente em poesia e escrevendo a história do nosso tempo, inesgotavelmente…

(O Cometa Itabirano, 1982.11.10)

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