Márcio Passos diz que Vila de Utopia mente ao afirmar que ele declarou que vereadores são “sacos sem fundos”

Carlos Cruz

A entrevista que o secretário municipal de Governo, Márcio Passos, concedeu em 14 de julho à revista eletrônica De Fato levantou questões graves da política itabirana que precisam ser esclarecidas, para o bem da moralidade pública e do respeito à sociedade itabirana.

Secretário Márcio Passos quer agora minimizar a crítica aos vereadores. Mas as explicações ele deve à sociedade itabirana (Fotos: Reprodução PMI e CMI)

“Tem vereador que não tem limite. É um saco sem fundo”, disse genericamente na entrevista o secretário, responsável pela articulação política do governo com o legislativo itabirano, colocando todos os vereadores sob suspeição, inclusive os que não são “saco sem fundo” e que aderiram ao governo já no início dessa legislatura.

Na entrevista, o secretário fez revelações “bombásticas” mas foram ditas pela metade. Revelou o que a opinião pública já sabe, tem as evidências mas ainda sem ter as necessárias provas.

Como o secretário tem larga experiência na política itabirana, tendo sido responsável pela articulação política no governo do ex-prefeito Olímpio “Li” Pires Guerra (1993-96), que também se dizia técnico como o atual, Passos tem o dever de detalhar quais seriam os termos dessas negociações, que o prefeito não teria aceitado, e quais seriam os limites para que elas ocorram sem ferir a ética, a impessoalidade e o bom apreço pelo que é do público – e não do privado.

Sem fazer isso, o secretário de Governo colocou todos os vereadores sob suspeição.

“Cabe ao jornalista dar aos fatos a versão que lhe aprouver”

Ao publicar essa interpretação generalista das declarações do assessor direto do prefeito, e que foi também assim entendida pela maioria dos vereadores, inclusive pelos situacionistas, este repórter foi acusado pelo secretário Márcio Passos, numa página de compartilhamento no Facebook, de mentir.

“Tem jornalista que escreve, mas têm dificuldade de ler. Desafio Vila da Utopia (na realidade Carlos Cruz) a provar onde eu disse que ‘os vereadores não têm limites’ e que são uns ‘poços sem fundo’. Carlos Cruz está faltando com a verdade. E eu o desafio a provar o contrário!”

O assessor político de Marco Antônio Lage se apega ao fato de ele ter feito uma declaração genérica. “Volte pra escola, senhor Cruz. ‘Tem vereador que não tem limite. É um saco sem fundo’. Isso eu falei e está no singular. Não disse “fundo do poço” ou “garganta profunda.”

Ora, se tem vereador que é um saco sem fundo, ainda que seja apenas um “garganta profunda”, como o chamei, mesmo não sabendo ainda quem é esse vereador, ou quantos são os vereadores sem limites e quais são os que têm limites,  isso em nada altera a cobrança de mais esclarecimentos pelo secretário de Governo – e que este site continuará fazendo até que responda às indagações que continuam sem respostas.

Isso porque mesmo que seja um só vereador sem limite, um só “saco sem fundo”, que o seu nome seja revelado, até para se saber quem é esse poderoso parlamentar que, por não ter sido atendido pelo prefeito, decidiu derrubar por 11 votos contrários, incluindo o voto simbólico do presidente da Câmara, vereador Weverton “Vetão” Andrade (PSB), o projeto de empréstimo de R$ 70,1 milhões para investimentos diversos em obras de saneamento e infraestrutura urbana e rural.

Esse poder foi atribuído pelo próprio secretário em outro trecho da entrevista, concedida espontaneamente ao jornalista Fernando Silva, ex-assessor de imprensa de Ronaldo Magalhães, hoje editor da De Fato, cargo que ocupa a convite do seu proprietário, o empresário Emerson “Gui” de Alvarenga Barbosa.

É mais um trecho que confirma o teor da crítica genérica aos vereadores – e não apenas a um só poderoso vereador. Confira:

“Isso (a rejeição do empréstimo) não passa de pressão para o prefeito ceder. Ou o prefeito cede e vai ficar todo mundo sorrindo para ele, ou ele convence os vereadores de que é preciso ter maturidade.”

Portanto, também por essa declaração, é legítimo concluir que não se trata de apenas um vereador que não tem limite. Foi o que fez esse repórter, que mantém a íntegra do conteúdo de suas reportagens.

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Conte tudo, Márcio Passos

Mesmo que Márcio Passos tenha utilizado de uma figura de linguagem, como quis minimizar o prefeito, o que se sabe é que “em sociedade tudo se sabe”, como dizia Ibrahim Sued.

Mas no caso específico, sabe-se genericamente, sem conhecer os detalhes dessas práticas inconfessáveis e nada republicanas. Que as revele o secretário de Governo, que as torne públicas em seus detalhes, ainda que escabrosos, caso queira aqui mesmo na Vila de Utopia.

Se assim o fizer, estará prestando um grande serviço à moralização da política itabirana. E é o que se espera de um secretário que assessora politicamente um governo que tem compromisso com a transparência.

Sem isso, repito, todos os vereadores continuam sob suspeição, inclusive os que aderiram ao governo, que hoje conta com uma bancada ainda minoritária de seis vereadores.

São os três que se elegeram pela coligação do prefeito – Marcelino Freitas Guedes (PSB), Carlos Henrique de Oliveira (PDT) e Weverton “Vetão” (PSSB) – e mais o seu líder Júber Madeira (PSDB), o vice Bernardo Rosa (Avante) e Júlio do “Combem” Rodrigues (PP).

É que sem revelar quais foram as bases do acordo para o apoio dos novos situacionistas, fica subentendido que esses parlamentares têm limites – e que por isso foram atendidos em seus pedidos (de empregos e o que mais?), passando por isso a apoiarem o governo, conforme desprende das declarações de Márcio Passos à revista eletrônica que ele procurou para dar a entrevista.

Que limites são os aceitáveis, senhor secretário?

Na reunião subsequente à entrevista na Câmara Municipal, todos os vereadores, opositores e situacionistas, cobraram explicações do secretário de Governo. Mas até aqui ficaram sem respostas, pelo menos públicas. Se ocorreram reservadamente, aumenta-se a suspeição.

 Base programática

Espera-se que as bases negociadas com os novos vereadores situacionistas tenham sido as que foram prescritas por Marco Antônio Lage em entrevista a este site após as eleições, em 24 de novembro.

Foi quando o prefeito disse que tentaria formar um bancada majoritária na Câmara Municipal de Itabira, mas sem precisar recorrer ao fisiologismo, ao tradicional toma lá dá cá, pois seria em torno de ideias e projetos.

“Estou ligando para os vereadores, os novos e os reeleitos, chamando atenção para a necessidade de se estabelecer consensos em torno de projetos. Sinto que eles estão com esse mesmo desejo de mudanças na forma de a Prefeitura relacionar com a Câmara. É o que o eleitor cobra e deixou claro nas urnas”, disse o prefeito à reportagem.

“O que eu disse na festa da vitória não é frase de efeito. Temos que fazer 40 anos em quatro. Precisamos ousar e para isso temos de construir uma unidade em torno de projetos que terão de passar pela aprovação da Câmara”, afirmou Marco Antônio Lage, que disse também não se preocupar pelo fato de ter a sua coligação eleito apenas três vereadores.

“Vamos discutir projeto a projeto e construir maioria em cima de propostas”, adiantou Marco Antônio Lage a este site na ocasião. Disse ainda que pretende expor e explicar os programas e projetos aos vereadores sem a pretensão de obter unanimidades. “O vereador que for contra irá apresentar os seus argumentos em plenário e à sociedade. Que seja com bons argumentos até para melhorar o que for proposto.”

O que é inadmissível, assegurou o prefeito, é continuar com a nefasta prática de vereadores negociarem apoio em troca de emprego de parentes e ou de cabos eleitorais – ou por outras formas fisiológicas e nada republicanas de barganhar políticas inconfessáveis.

Leia mais aqui: Diálogo com a Câmara é imprescindível na busca de consensos para Itabira alcançar a independência econômica, diz prefeito eleito

Ou seja, nada de governo de coalizão como se tem visto historicamente em Itabira e no país, que resulta no fisiologismo – e que o eleitor rechaçou nas urnas.

“Sinto nas conversas com os vereadores que eles também querem inaugurar uma nova forma de relacionamento, sem abrir mão do papel de fiscalizar o Executivo. Para isso temos que manter o diálogo sempre aberto.”

Diálogo ameaçado

Pois é justamente essa proposta de diálogo que está estremecida, se é que chegou a ser implementada, depois das declarações do secretário de Governo acerca desse já tumultuado relacionamento entre o Executivo e o Legislativo itabirano.

Se acaso, em um futuro próximo, for constituída uma maioria governista na Câmara sem que toda a base do acordo seja explicada em seus detalhes, e que tenha elementos suficientes para convencer a opinião pública, fica o dito pelo não dito.

Assim acontecendo estará formado um novo governo de coalizão, dando todos os motivos para se acreditar que voltou o toma lá dá cá do velho e manjado fisiologismo do empreguismo e de vantagens inconfessáveis.

Para que isso não ocorra, o próprio prefeito Marco Antônio Lage deveria assumir a coordenação política de seu governo, inclusive comparecendo pessoalmente à Câmara Municipal sempre que necessário, nas comissões temáticas e no plenário.

Isso para que se torne possível construir uma maioria parlamentar em torno de projetos, sem troca de favores, mas de ideias que se complementam e se divergem, como numa democracia direta, que pode ser contemporânea aqui em Itabira.

 

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2 Comentários

  1. Também estou aguardando uma resposta do secretário de governo do prefeito de Itabira desde o dia que a entrevista dele foi publicada.
    Isso tudo é muito estranho, faz uma ilação contra uma pessoa indeterminada e não denomina quem foi, mas no princípio republicano esse secretário de governo já deveria ter feito um comunicado à comunidade itabirana.
    Isto é urgente, para que todos os eleitores saibam quem é esse representante popular na Câmara de Vereadores que não merece mais este cargo por puro fisiologismo.
    Então, senhor secretário de governo, diga lá quem é ou quem são?

  2. Quando leio o nome “Márcio Passos”, penso logo no Novo….
    Márcio Passos é béociozinho provinciano da velha política e por isso deveria estar em casa fazendo palavras cruzadas com letras enormes…

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