Por que Lula ainda não foi substituído por Haddad na eleição

Rafael Jasovich*

Nos últimos dias, voltaram a ganhar força especulações sobre o momento em que a troca seria realizada, tornando o “plano B”, enfim, “plano A”. Mas decisão de Lula frustrou novamente as expectativas de uma ala do petismo que prega mais pragmatismo

A pouco mais de um mês do primeiro turno, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) negou o pedido de registro de candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a disputa pelo Palácio do Planalto e deu um prazo de dez dias, a contar do último sábado (1), para que o PT apresentasse um substituto, caso queira ter um representante na corrida presidencial.

O partido também foi impedido de apresentar Lula como candidato, mas conseguiu manter o acesso ao horário de propaganda eleitoral no rádio e na televisão.

Nos últimos dias, voltaram a ganhar força especulações sobre o momento em que seria realizada oficialmente a substituição de Lula por seu vice, Fernando Haddad, tornando o “plano B”, enfim, “plano A”.

Com o indeferimento do pedido de registro, muitos imaginavam que o processo seria catalisado, mas, ao que parece, Lula deverá usar o tempo que ainda dispõe para desenhar a estratégia que lhe parece mais adequada. A decisão frustrou aliados e uma ala do petismo.

O episódio evidenciou novamente a divisão interna que se formou no partido, entre aqueles que defendem a resistência em torno do nome de Lula e os que pedem uma postura mais pragmática, temendo que a falta de tempo afete o desempenho de Haddad na disputa.

Nos bastidores, aliados do ex-prefeito paulistano mostram-se contrariados. Para eles, o momento ideal para a substituição seria logo após a negativa do TSE. Mas, por que isso não aconteceu?

Uma das razões para a manutenção da candidatura de Lula e a apresentação de recursos junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) e à ONU (Organização das Nações Unidas) seria a atual baixa transferência de votos ao “plano B”, Fernando Haddad, que hoje ocupa a vice na chapa.

A transferência de votos ainda é muito pequena. A própria alteração das regras eleitorais também atrapalha, com o candidato tendo que aparecer em 75% da propaganda e com a prisão de Lula, que o impede de percorrer o país para fazer campanha. Na avaliação de Lula, pode ser que a substituição neste momento atrapalhe na transferência de votos.

Segundo pesquisa Datafolha, realizada nos dias 20 e 21 de agosto, Lula tem 39% das intenções de voto no cenário em que sua candidatura é considerada. Na sua ausência, Haddad recebe apoio de 4% dos eleitores.

O desempenho do ex-prefeito de São Paulo é menor em 18 pontos percentuais que o resultado apresentado pelo deputado Jair Bolsonaro (PSL), que lidera a corrida nesta simulação.

De acordo com levantamento XP/Ipespe, feito entre 27 e 29 de agosto, Haddad tem 13% das intenções de voto quando seu nome é associado à informação de que seria o candidato apoiado por Lula. O desempenho indica uma transferência de apenas 32% dos votos do ex-presidente.

Lula pode entender que, se sair de cena agora e lançar Haddad, talvez a transferência continue como está, muito frágil. Ele quer alimentar essa possibilidade para manter o eleitorado fiel e, no momento em que julgar mais propício, fazer a substituição.

Para ele, também pode haver uma preocupação com o perfil de Haddad, muito distinto ao do ex-presidente, o que pode dificultar na associação entre as duas imagens pelo eleitor lulista.

As dificuldades em ter Lula, preso há quase cinco meses após condenação em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, como parte da campanha podem elevar a sombra de adversários no mesmo espectro político.

Se a transferência seguir como está, tende a ocorrer uma disputa maior por parte das outras candidaturas por esse voto de Lula no Nordeste, principalmente Ciro Gomes.

É um eleitor que ficará sem candidato. Segundo o Datafolha, o percentual de brancos, nulos e indecisos salta de 14%, quando Lula aparece como candidato, para 28% na sua ausência.

Outro obstáculo ao crescimento de Haddad nas pesquisas é seu elevado nível de desconhecimento entre os eleitores, sobretudo aqueles localizados fora da região Sudeste. A tabela abaixo mostra uma comparação com outros candidatos:

cenários mais prováveis hoje são os que consideram o PT respeitando o prazo de 10 dias dado para a substituição de candidato, mesmo que ainda entre com recursos na Justiça contra o indeferimento do pedido de registro de Lula.

A vitória nos acréscimos que o partido conquistou no julgamento da última sexta-feira, quando teve mantido seu horário para propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, foi importante, embora o ex-presidente não possa mais ser apresentado como candidato.

Não vejo esse arrastar [da substituição de Lula] como sendo muito traumático ao PT. Seria se o partido não tivesse propaganda na televisão até a substituição.

No fundo, é uma ótima forma de Haddad conseguir a transferência de votos. Ele é muito desconhecido mas tem potencial considerável.

É muito improvável que o PT não faça a substituição no dia 11 de setembro pois arriscaria ficar sem candidato.

O partido conta com sólida estrutura, sobretudo no Nordeste, onde mantém candidaturas fortes ou aliou-se a nomes fortes na disputa por governos estaduais – caso de Rui Costa, na Bahia; Wellington Dias, no Piauí; Camilo Santana, no Ceará; Fátima Bezerra, no Rio Grande do Norte; e Flávio Dino, no Maranhão, por exemplo.

Quando o PT definir seu candidato, acho muito pouco provável que eles [outros candidatos da esquerda] ocupem esse espaço.

O fato de ser apenas uma região na qual Marina Silva e Ciro Gomes vão bem é insuficiente. É preciso considerar a estrutura e o potencial que o PT tem na região.

*Rafael Jasovich é jornalista, advogado, secretário e fundador da Associação Gremial de Advogados da Capital Federal, membro da Anistia Internacional

 

 

 

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