As ruínas do Brasil. E de resto, um copo de laranja mecânica adoçado com cloroquina
Macunaíma, o herói sem caráter.
Primeiramente, a todos, todas e todis, como vocês estão?
É um imenso prazer publicar nas páginas da Vila de Utopia o cronista magnifico que é Rubem Braga, que definiu a crônica como sendo “essa faculdade de dar um sentido solene e alto às palavras de todo dia”, que se dizia um “caçador de ventos e melancolias”.
O maior cronista brasileiro nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, “não sou do padre, não sou do Barros Filho, mas sou do Espírito Santo”.
A efeméride da Cidadezinha data a presença do cronista em 1934: “aqui esteve poucas horas, jantou, dançou, dormiu e amanheceu em S. José da Lagoa.”
Da visita, Rubem Braga publicou no Estado de Minas uma crônica que incomodou os itabiranos, porque ele cismou a mesma derrota incomparável percebida pelo velho Tutu Caramujo. Leia crônica aqui.
A crônica O Cidadão de Liffré foi publicada na década em que o fascismo fazia a Europa “mijar sangue”. A disputa se dava pelo domínio de rotas marítimas pra fazer girar mundo navios cargueiros.
Agora, no século 21 os podres poderes brigam a mesma briga. Entretanto com uma diferença essencial: a China passa a ter domínio na Nova Rota da Seda (e Saúde) a ligar o Leste Asiático à Europa.
No dia 27 passado os chanceleres iraniano Mohammmad Javad Zarif e o chinês Wang Yi assinaram acordo da nova rota. O excepcional deste acordo é que a China, sem dar um único tiro traçou a nova geopolítica do mundo independente do dólar.
E o Brasil é um país rodopiando sem vigor, sem autoestima, sem consciência do país onde nascemos e nos criamos, sem educação, sem conhecimento, uma tragédia movida a psicotrópicos.
A crônica de Rubem Braga demonstra a nossa apatia como Nação. Agora é ler e refletir. E Fique em casa! Use máscaras! E ignorem a imbecilidade dos que defendem o kit cloroquina que o vice-prefeito de Itabira é cúmplice. (MCS)
O Cidadão de Liffré
Rubem Braga (1913-1990)
Eu imploro aos deputados brasileiros que meditem na morte do cidadão de Liffré. O cidadão de Liffré (é uma cidade da França) tinha 30 anos de idade e era um bom sujeito. Seus amigos queriam que ele fosse candidato nas próximas eleições comunais de sua terra. Ele não quis. Os amigos insistiram. Ele não concordou. Os amigos apresentaram a sua candidatura contra a sua vontade. Ele se enforcou.
O cidadão de Liffré morreu porque tinha raiva de política. Raiva ou, talvez, nojo.
No Brasil também há muitos homens que tem nojo da política. Mas são fáceis de curar. Basta que se convide um homem desse a sentar um pouco, a sentar em uma cadeira de deputado.
Como não há cadeiras para todo mundo, e a maioria não consegue nem mesmo um pobre encosto, o país vai mal. Os que ficam em pé ficam raivosos. Os outros estão sentados, acomodados, instalados, fumando o charuto das boas posições. São patriotas que engordam nas poltronas.
Estão falando agora em revolução, em ditadura militar. Aqui no Rio de Janeiro o boato é uma febrezinha intermitente; e tem subido muito nestes últimos dias. Ditadura militar, “cesarismo”, “bonapartismo”.
Enfim, o sr. Getúlio Vargas ficaria mandando ainda mais do que antigamente. E os deputados seriam despojados da Câmara, por incompetentes e más figuras, por inúteis e trapalhões.
Será verdade? O general Góes acha que tudo é possível na liberal-democracia. É um mal hábito que ele tem, falar mal dessa pobre senhora.
A verdade é que estão conspirando. E é uma verdade triste.
Eu não sou um profundo admirador da Câmara. Aí se diz e se faz tanta bobagem que até desanima qualquer brasileiro. Ali há muita gente que não presta.
Mas não é só ali. No Pará, por exemplo, estão dizendo também umas coisas esquisitas. O major Barata está bravíssimo:
“Eu, para ganhar eleições, não preciso estar fardado, pois à paisana, calçado ou de tamancos, ou mesmo descalço, sou o major Barata! Não haverá tribunais, acórdãos ou ‘o diabo que o carregue’ que me façam entregar o que tanto sacrifício custou. Juízes, justiça, leis, desembargadores, processos, Constituição – tudo para mim é potoca! Ouviram?”
Ouvimos, ilustre major. Ouvimos. Descalço, de tamancos, de borzeguins, ou em pelo, fantasiado de baiana, de qualquer jeito, o major é mesmo o major. Inconfundível. E para o major essa história de leis é potoca.
Tudo é potoca, major.
A vida é uma potoca, a morte é outra potoca, o senhor é outra potoca. Eu sou uma potoquinha humilde e ouvi, ouvi o que o senhor disse, major potoca.
Mas há potocas de vários gêneros. Há potocas estupidas e potocas inteligentes. Neste mundo do potoqueiro e potoquento, nós, os potocas, devemos escolher bem as nossas potocas.
Entre a potoca da democracia e a potoca da ditadura, o povo prefere a primeira potoca. É que, dentro das leis potocas, um cidadão potoca sempre tem uma potoquinha de liberdade.
O povo, que é uma grande potoca, tem brigado muito por causa dessas potocas. O povo está cansado de brigar e quer, pelo menos, enquanto não pode apotocar à vontade, conservar esta potoquinha democrática.
Se o major não concorda com a potoca, não concorde. Mas não apresente outras potocas piores, pelo amor (potoca) de Deus (potoca).
Fonte: Diário de Pernambuco, 01/02/1935
Ainda Há tempo venho a este quadro de comentarios , e desta vez o dedo coçou , já que se fala de patócas que é o mesmo que lorótas e fanfarroníces de um derrotado que por anos posou de super inteléctual , estrategista político, conselheiro do rei , enfim o Ravengar da terra que o ouro não é amarelo . Como pode ter gente tá o cara de pau que por anos ficou por estas terras engordandando sua conta bancária as custas do dinheiro do povo , vir “de fato ” ao público internetico conversar fiado sobre Vale e sustentabilidade ? Como é que esse Ravengar querido por outros queridos do rei caldo ficar dando uma de já sabia de tudo , e o que é pior porque não se movimentou utilizando sua influência hipnótica sobre a imprensa para forçar uma busca de soluções pra salvar o nosso reino enquanto esteve por cima da carne seca ? Não sei porque esses corvos ainda rodeiam por aqui , se até o rei com seu orgulho ferido já se mandou para junto daqueles que inventaram pra ele algo para blinda-lo . Uma coisa temos que admitir , esse povo são descendentes daqueles primeiros bandidos que foram mandados pro Brasil e não desistem nunca e nem se arrependem dos seus maus feitos, saqueando e desdenhando da inteligência de um povo pacífico e até bobo mesmo . De Fato o Ravengar e mais alguns vão continuar suas reuniões para a retomada do poder do rei blindado .
Caro Tobias, não consegui entender o seu comentário…. e quero entender, me explica. Beijoca