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Audiência pública do gás e da gasolina teve momentos de palanque

Realizada ontem (30) à noite na Câmara Municipal, a Audiência Pública para debater indícios de cartelização na venda de combustíveis e de gás de cozinha foi esclarecedora. Mas teve também momentos que beirou a palanque eleitoral. A audiência foi promovida pelo legislativo itabirano sob a coordenação do vereador André Viana Madeira (PTN), presidente da comissão de Defesa do Consumidor.

André Viana (à esquerda) propôs a audiência pública. À direita, Don Carlos, secretário de Desenvolvimento Econômico (Fotos: Carlos Cruz)

A claque organizada aplaudiu freneticamente toda vez que o vereador discursou. Portou cartazes e distribuiu panfletos convocando proprietários de veículos para uma grande manifestação no dia 10 de junho (sábado).

Para esse dia, o vereador propõe que proprietários de veículos abasteçam apenas R$ 0,50 nos postos da cidade. E que peçam a nota fiscal, fotografem e postem nas redes sociais. “Se mesmo assim, os preços não caírem, vamos promover uma carreata com mais de mil veículos, em dia a ser agendado, para abastecer em João Monlevade, onde os preços estão mais baratos”, propôs, sob aplauso geral da plateia.

Tabelamento

Segundo o vereador, a gasolina em Itabira é vendida a preços próximos de R$ 3,90, enquanto na cidade vizinha é encontrada a R$ 3,24. “A diferença de preços aqui é de centavos”, disse ele, que evitou falar em cartel dos donos de postos de combustível, mas sim de indícios de cartelização. É que ao imputar a alguém a prática de crime sem provar, corre-se o risco de incorrer em outro crime: o de calúnia.

Se há tabelamento por alto dos preços de combustíveis na cidade, o mesmo não se pode dizer em relação ao gás de cozinha, ressaltou o vereador. “No gás existe concorrência, com os preços do bujão variando de R$ 60 a R$ 72”, disse ele, prometendo divulgar nas redes sociais o telefone das distribuidoras que praticam preços menores.

Foi o que ele fez ao pedir a um pequeno distribuidor de gás, presente na audiência e que disse vender por menos de R$ 60 o botijão, que divulgasse o telefone. Foi o momento propaganda gratuita da audiência pública. E a plateia mais uma vez aplaudiu freneticamente.

Paulo Reis, representante de uma revendedora

Como era esperado, os donos de postos de gasolina não compareceram à audiência, assim como os representantes das grandes distribuidoras de gás. Mas três pequenos empresários do setor de gás marcaram presença.

Paulo Henrique Reis, proprietário de uma pequena distribuidora, foi um deles. Ele disse vender gás mais barato e aproveitou para desmentir o boato de que quem pratica preços menores adultera o produto.

“O gás que vendemos é o mesmo das grandes distribuidoras”, afirmou, assegurando ser a sua empresa legalizada e credenciada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). “O que muda é só a cor dos botijões.”

Já em relação ao preço do gás mais barato encontrado em João Monlevade, ele denunciou a prática de dumping, que é a venda subfaturada para prejudicar a concorrência. “Lá existe o ‘Barão’ que tem grande estrutura e faz concorrência desleal.” Na vizinha cidade, segundo foi informado na audiência, o botijão de gás é encontrado por até R$ 55.

Risco de evasão de renda

Neidson Freitas, pesidente da Câmara

O vereador Neidson de Freitas (PP) destacou a importância das audiências públicas por possibilitar à população se manifestar contra eventuais abusos. “Esse assunto (os preços abusivos) não se limita à gasolina e ao gás, mas nos remete ao elevado custo de vida que temos em Itabira. Tudo em nossa cidade é mais caro. Qual é o motivo, o fundamento? “, questionou. “Até caixão em Itabira é mais caro na hora da morte”, gritou da plateia um dos presentes.

José Don Carlos, secretário de Desenvolvimento Econômico e representante do prefeito na audiência, embora mantendo-se cauteloso, foi também enfático ao se referir ao tabelamento por cima dos preços dos combustíveis. “Nossas empresas precisam ser mais competitivas para Itabira atingir o patamar de uma cidade equilibrada para se viver.”

Leonardo Oliveira, da Acita

Leonardo Oliveira, representante da Acita, disse não ter ido à audiência para defender o que está errado. Ele foi coordenador do Procon por quatro anos, tendo ressaltado que a reclamação quanto ao tabelamento por alto dos preços de combustíveis sempre foi recorrente na cidade. “Quando se fala em combustível caro, isso repercute na composição dos preços de outros produtos variáveis”, acentuou.

Maurício Martins, da CDL

Maurício Martins, representante da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), alertou para o risco de evasão de divisas de Itabira, caso persista a fama de a cidade ter elevado custo de vida. “Já fizemos pesquisas de preços e encontramos mercadorias mais baratas e mais caras”, disse, sem deixar de reconhecer a disparidade nos preços dos combustíveis.

“O que não podemos é generalizar. Temos setores bem competitivos na cidade, em alguns casos com mais de 50 empresas no mesmo segmento. Cabe ao consumidor pesquisar e comprar onde estiver mais barato. Se Itabira ficar com fama de cidade careira, vamos ter evasão de renda para outros municípios, aumentando o desemprego”, alertou.

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2 Comentários

  1. Que o gás e os combustíveis em Itabira têm os preços sempre mais alto que nas cidades vizinhas, isto não há dúvidas.

    Parece até que vivemos em uma ilha.

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