Depois de Ronaldo Magalhães se lançar à reeleição, PSB anuncia que Bernardo Mucida também disputa a Prefeitura de Itabira em outubro
O Partido Socialista Brasileiro (PSB), por meio de seu presidente estadual Renê Vilela, anunciou nesta terça-feira (10) que o advogado e ex-vereador Bernardo Mucida Oliveira será candidato a ocupar a cadeira número um do Paço Municipal Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.
O anúncio de sua pré-candidatura ocorre 29 dias após o prefeito Ronaldo Magalhães (PTB) se lançar como pré-candidato à sua sucessão, no dia 10 de fevereiro, em reunião de seu partido. Já na semana passada ele recebeu apoio do MDB – e conta com um robusto orçamento de mais de R$ 600 milhões para alavancar obras e serviços, numa tentativa de reverter a rejeição e viabilizar a sua reeleição em 4 de outubro.
Para isso, Magalhães terá que enfrentar uma forte oponente, que é a candidatura de Bernardo Mucida. Em entrevista coletiva após a reunião partidária de ontem, o ex-vereador disse que a sua candidatura tem objetivos bem definidos e que foram apresentados na reunião com os pré-candidatos a vereador pelo PSB.
“Deixei bem claro que se alguém quer se candidatar a vereador para ter 300 votos e conseguir emprego na Prefeitura, pode procurar outro partido, pois não é esse o compromisso que faremos”, diz ele, rechaçando essa forma fisiológica de fazer política. “Queremos ganhar a eleição para governar com liberdade, sem essa política de negociar cargos.”
Coligação
Como já havia dito anteriormente em entrevista a este site, ao ser perguntado sobre alguns nomes que têm surgido de outros partidos como possíveis candidatos a vice, na composição da chapa majoritária, o pré-candidato diz que esse não é o momento para se ter essa definição.
“Não é nossa prioridade no momento”, afirma, adiantando que o PSB irá sair com chapa completa para a vereança, uma vez que neste ano não haverá coligação para as eleições proporcionais.
Porém, Bernardo Mucida admite que tenha procurado atrair alguns nomes de pessoas compromissadas com as diretrizes programáticas de sua futura candidatura, como contraponto ao grupo político que governa Itabira – e que podem, inclusive, se filiar ao PSB.
Entre esses nomes, ele cita o empresário e jornalista Marco Antônio Lage, filiado à Rede Sustentabilidade, e também o ex-vereador Sebastião “Tião da Antena” Ferreira da Silva, “porta-voz” em Itabira do mesmo partido do diretor de Comunicação e Sustentabilidade da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
São, portanto, outros nomes prováveis para compor a futura chapa majoritária com o pré-candidato do PSB, além do ex-prefeito João Izael (PR) e do vereador e sindicalista André Viana, com os quais o pré-candidato socialista tem conversado.
“Queremos discutir um novo projeto para a cidade. Quem compartilhar com as nossas ideias, para mudar o ciclo político que Itabira vive nos últimos anos, podemos discutir a candidatura à vice. Mas isso só deve ser definido em agosto, com as convenções partidárias”, adianta.
Heterodoxia
Embora filiado ao PSB, não se pode dizer que Bernardo Mucida seja um socialista ortodoxo. Talvez um socialdemocrata ou um liberal heterodoxo.
Perguntado se concorda com a política de terceirização que o prefeito Ronaldo Magalhães promove em diversas áreas na administração municipal, o pré-candidato oposicionista diz não ser contra por princípio, mas esquiva para não ser taxado de partidário do Estado mínimo.
“Não sou contra a terceirização como ideia. Alguns serviços podem ser terceirizados, enquanto outros devem ser executados diretamente pelo governo. O que eu sou contra, por exemplo, é transformar a Itaurb em um ‘cabidão’ de empregos”, exemplifica.
Diz ser favorável a uma reestruturação da Itaurb para que volte a cumprir o seu papel original. “A própria Itaurb é uma forma de terceirização, pois é uma empresa municipal contratada pela Prefeitura. Já foi uma empresa de desenvolvimento urbano e virou só de limpeza urbana. Ela pode voltar a executar pequenas obras para dar agilidade em determinadas ocasiões”, sinaliza. “Ter uma empresa publica não é ruim, o problema é o uso que fazem dela.”
O pré-candidato afirma também ser contrário à proposta de parceria público-privada para fazer a transposição da água do rio Tanque e assim assegurar, segundo o governo municipal, o abastecimento na cidade nas próximas décadas.
“Pelos estudos técnicos que tive acesso, essa parceria irá encarecer a tarifa de água para o consumidor. Essa é uma alternativa que só surgiu porque a Vale não cumpriu a condicionante 12 de sua licença ambiental”, critica.
Entretanto, Bernardo Mucida não quis assumir o compromisso de cancelar essa possível parceria, caso a licitação seja feita ainda neste governo. “Eu não tenho informações suficientes para fazer esse tipo de compromisso. Não posso dizer que irei cancelar o contrato”, salienta o pré-candidato, para quem o tema é sensível e que precisa ver se é a melhor solução técnica. “Temos que compartilhar essa responsabilidade com a Vale.”
Segundo ele, em Itabira ocorre uma inversão do que preconiza o Código das Águas, que prioriza o consumo humano, a dessedentação de animais, a agricultura e, por fim, a mineração. “A Vale está captando mais água que disse que ia captar, usando mais água na mina que o consumo na cidade. E não cumpre a condicionante que ela assinou.”
Relação com a Vale deve ser de apoio para que ela cumpra os seus compromissos com Itabira, diz o pré-candidato
Se eleito, Bernardo Mucida promete manter uma negociação aberta com a mineradora, inclusive como forma de ajudar melhorar a sua imagem na cidade e junto aos seus acionistas espalhados pelo mundo. “Antes, diziam que a Vale era uma mãe para Itabira. Depois virou madrasta, quando na verdade ela é a filha de Itabira que está para ir embora.”
Sendo assim, o advogado pré-candidato a prefeito defende que a empresa se reconcilie com Itabira, abrindo o jogo e executando todos os seus compromissos com o município, antes da exaustão de suas minas.
“Precisamos chamar a Vale para um debate aberto, saber como será o descomissionamento das minas, como pretende trazer minério de Morro do Pilar e Conceição (do Mato Dentro) para manter as suas usinas funcionando, assim como a questão da segurança das barragens”, relaciona, citando alguns pontos da pauta de negociação que pretende manter com a mineradora caso seja eleito.
“Sei que nunca foi fácil negociar com a Vale, sempre tivemos uma relação de conflito e de dependência. Mas precisamos mudar isso, até para que ela possa justificar a sua presença em outros lugares, mostrando (com o exemplo de Itabira) que tem compromisso socioambiental”, preconiza o pré-candidato.
“Ou será que a Vale prefere deixar uma cidade cheia de buracos, com desemprego e com a ameaça das barragens?”, pergunta Mucida, para quem isso seria um péssimo exemplo de como não se deve minerar e se relacionar com as sociedades que vivem no entorno de seus empreendimentos.
“A Vale aqui nasceu e cresceu. Em um determinado momento, em um horizonte próximo, ela vai deixar a cidade com a exaustão das minas. Podemos ajudá-la a vencer esse desafio para ter aqui um cartão de visita.”
Para o pré-candidato, não é uma boa política judicializar essas pendências com a mineradora, advoga, numa crítica ao atual governo que ingressou com novos e reabriu antigos processos contra a Vale. “Ela adora judicializar as suas pendências com a cidade. Sabe que a Justiça é lenta.”
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