Madalena arrasta multidão na prévia carnavalesca que já é tradição em Itabira
O bloco Madalena não Gosta de Poema encerrou o seu quinto cortejo com grande público no pré-carnaval itabirano, nesse sábado (8) sem chuvas, mas com muita alegria e samba nos pés.
Neste ano, o bloco fez justa e merecida homenagem a José Caetano Belisário, o Tobias, 88 anos, garrucheiro nascido nos Gomes, povoado de Santa Maria de Itabira – um consagrado e lendário sambista itabirano. Leia mais aqui., aqui e aqui.
O cortejo carnavalesco percorreu 1,2 quilômetro. Saindo da praça do Centenário passou pelo bairro Pará, onde, na rua Dom Prudêncio, fez parada para homenagear a carnavalesca Amélia Figueiredo, morta no dia 5 de março, na terça-feira do carnaval do ano passado.
Ao passar em frente à igreja da Saúde, quando o padre celebrava um santo matrimônio, o apelo foi pela liberdade, dirigido aos jovens nubentes: “Não casa, não”, foi o que entoaram os irreverentes foliões. Foi em vão, pois o sim já havia sido dado e o casal já era “conge”.
Chegando ao Largo do Batistinha, de volta ao centro histórico, foi possível mensurar e ver a multidão que passava em cortejo em homenagem ao rei Momo – e também ao mestre Tobias – com a alegria e descontração de quem não deixa o carnaval morrer, ainda que só nos fins de semana que antecedem o tríduo momesco.
Carnaval de rua
O bloco Madalena não Gosta de Poema existe desde 2014 – e já é uma das maiores tradições carnavalescas da cidade. Leia mais aqui, aqui e também aqui.
Com a homenagem a Tobias, o bloco sinaliza bem a que veio. “Tobias é fonte de inspiração para o nosso bloco”, diz o carnavalesco Hebert Rosa, fundador e organizador.
Para ele a homenagem simboliza esse esforço de resgate do carnaval popular. “Conjugar a nova história de Madalena com o carnaval antigo é fantástico”, rejubila-se. “Assim como Madalena nasceu sem recursos, com a escola de samba Gente Humilde de Itabira, que o Tobias criou, também aconteceu a mesma coisa”, compara.
Nos primeiros anos da escola de samba do Tobias, crianças e adultos saiam pelas ruas batendo em latas – só muito tempo depois foi que conseguiu comprar instrumentos de percussão convencionais.
“Foi Tobias quem popularizou o samba em Itabira”, enfatiza Hebert Rosa, justificando a homenagem, que ocorreu em momento solene, durante a prévia carnavalesca infantil Madaleninha não Gosta de Poema, no sábado (1), na rua Irmãos De Caux, em frente ao ginásio poliesportivo Maestro Silvério Faustino.
“Eu nasci sambista”, disse Tobias à reportagem deste site, emocionado com a homenagem recebida. “Eu que já sou dengoso, fico mais bonitinho ainda. Querem acabar comigo, eu que sou tímido”, confessou o simpático sambista, feliz por ter o seu nome lembrado e parte de sua história resgatada pelo bloco Madalena Não Gosta de Poema.
Carnaval mineiro com influência de Olinda
Tobias é o quarto homenageado pelo bloco Madalena não Gosta de Poema desde 2017. O primeiro homenageado foi o dentista Renatinho Guerra, ex-vocalista e compositor da banda Sobrinhos do Padre. No ano seguinte foi a vez do bloco homenagear Nilo Almeida, do famoso boteco da pracinha do Pará.
No ano passado, a homenageada foi prestada à moradora do bairro Pará Naná Jabour. Todos os anos ela acompanha o bloco em seus cortejos pelas ruas da cidade, com a suas marchinhas e frevo, ajudando a resgatar parte da tradição dos antigos carnavais.
“Itabira entendeu a nossa autenticidade, o respeito que temos pelo carnaval e à cultura de Itabira, que merece ter um carnaval digno”, disse o carnavalesco ao avaliar o sucesso que foi, mais uma vez, o cortejo do bloco Madalena não Gosta de Poema com o seu séquito de carnavalescos.
“É um carnaval mineiro com influência de Pernambuco, uma mistura de pessoas, adultos e crianças, brincando com respeito ao outro, do nosso jeito de fazer carnaval”, festeja o carnavalesco.
”Madalena trouxe a alegria do carnaval de Olinda e Itabira deve isso a você. O povo precisa dessa folia, que só faz bem à cidade”, agradeceu o engenheiro Eduardo Barros, após o cortejo, ao cumprimentar o criador do bloco pré-carnavalesco.
Descentralização
Para Hebert Rosa, o bloco que dirige é um produto motivacional. “Ao longo desses anos, mostramos que mesmo com pouco recurso é possível fazer um carnaval digno e festivo”, diz ele, que neste ano obteve patrocínio da Prefeitura.
“Carnaval para ser sucesso não precisa arrastar multidão, mas deve ter qualidade. É melhor que ocorra em pequenos blocos, espalhados pela cidade, de acordo com a cultura de cada comunidade, respeitando as tradições”, essa é a receita que ele prescreve como fórmula para reativar o carnaval itabirano, que nos últimos anos andou esquecido.
“Neste ano tem eleições e com certeza vai ter também carnaval em Itabira”, anunciou um folião que estava ao lado, no paredão da rua Tiradentes, enquanto a reportagem entrevistava o responsável pelo sucesso do cortejo carnavalesco.
“É sempre assim: o povo só é lembrado na hora do voto”, criticou, mas feliz por saber que neste ano vai ter carnaval em Itabira.
“Nós, que somos trabalhadores, não temos como sair da cidade. Quem fica também quer divertir e brincar no carnaval”, reivindica o folião, com o aval de todos que só querem ser felizes, leves e soltos nessa festa que deve ser de todos. Evoé Momo!
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