Etiene denuncia diretora da PBH por racismo e é demitida
Marcelo Procopio
Marcia Alves, a diretora, disse que “preciso de um branco, preto é para lavar chão”
A jornalista Etiene Martins, 35 anos, nascida na periferia de BH, lutou, passou por cima das estatísticas e acabou nomeada, em outubro de 2017, gerente de Prevenção à Violência e Criminalidade Juvenil da Prefeitura de Belo Horizonte.
Uma vitória. Ela que já lutava desde sempre contra a imensa distopia social e econômica brasileira, onde se inclui aí um racismo às vezes silencioso por hipocrisia e aquele que faz “barulho” porque dói ainda mais no fundo de cada um. De todos que lutam por igualdade.
Etiene escreveu matéria no site The Intercept. Contou sua história pessoal, as discriminações que sofreu na vida e na PBH até decidir pela denúncia, que poderá virar processo.
(Já o jornalismo tradicional mineiro se cala ou faz cobertura rasa. O que não é novidade mesmo o Brasil já contar quase quatro décadas desde a redemocratização. Para ser exato: 34 anos).
Na Prefeitura Etiene passou a ser discriminada de toda forma e por várias pessoas – como se já não bastasse a dor do racismo na vida lá fora. Foi de guarda municipal (“preto bom é preto morto”) à diretora (vejam só) de Prevenção Social ao Crime e à Violência, Marcia Cristina Alves (“preto é para lavar chão”). Leia nos prints que Etiene fez de e-mails funcionais e mensagens.
Até que não suportou mais, juntou sua própria história, a dos demais negros, a sua militância no Movimento Negro, e em junho passado fez um Boletim de Ocorrência denunciando a diretora, a qual a Gerência que Etiene coordenava é subordinada. A diretoria é parte (veja só de novo) da Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção (social). E exerce seu racismo em pleno espaço público, que é uma Prefeitura.
Por ter feito a denúncia junto à Polícia Civil, e também deve processar seus agressores por racismo, Etiene foi sumariamente demitida.
Antes, o secretário de Segurança, Genilson Zeferino, um submisso negro, pediu a ela, pelo whatsapp, que não denunciasse na Justiça contra a diretora nem desse publicidade aos fatos (a pedido do prefeito Alexandre Kalil), que o caso fosse resolvido internamente.
O motivo da exoneração repita-se: ter sofrido racismo dentro de um órgão público da PBH.
Em uma prefeitura, local, assim como em governos estaduais e federal, que deveria ser exemplo. E cumprir à risca a Constituição e as Leis que rezam sobre discriminação e racismo.
Ou seja, a senhora Maria Cristina Alves deveria ser a primeira a ser exonerada – sumariamente – e na sequência os demais racistas.
É assim que se faz em democracias.
O Brasil é o quê, então, prefeito Kalil?
Link para o texto completo da jornalista Etiene Martins
https://theintercept.com/2019/09/19/denunciei-o-racismo-fui-exonerada/