Quando os poderosos querem criminalizar o jornalismo

Veladimir Romano*

Já se vão quase 30 milhões de libras inglesas com as duas visitas do presidente norte-americano ao Reino Unido. Uma visita de um conservador que pelas suas trapalhadas acaba atrapalhando o caminho político dos conservadores e da péssima conduta sem solução sobre o já famoso, chato e peganhento “Brexit”, que nunca mais define qual será o futuro dos britânicos perante essa dramática saída do aglomerado de nações compondo a União Europeia.

Ninguém sabe mais o que fazer, qual solução é a melhor, mas nada que perturbe a decisão dos Escoceses avisando o governo de Londres duma possível separação, o que quebra séculos dessa histórica Grande Bretanha, que certamente ficará menor depois de 2020, em outro desafio.

Ou seja: a Irlanda do Norte pode virar sua agulha para sul, abraçando a República enquanto reforma o seu pedaço de compromisso com a velha Monarquia inglesa.

Tudo parece simples de transcrever, mas já se foi tempo em que essas notícias e outras seriam consideradas “melindrosas”, quando eram acionados os serviços secretos de investir jornalistas, praticando boicote, ameaça ou até perseguição aos profissionais da informação.

Anos se passaram, entramos em novo século carregado de opções tecnológicas e todos sabemos, no presente, como tem sido sofrida a missão do jornalismo. Isso em decorrência de visões estreitas de certos governantes, promotores do poder praticando atropelos, absurdos. Usam da violência por não saberem como confrontar com o relato da verdade.

São muitos exemplos de perseguições, por quem deseja comandar destinos políticos. Replicam supérfluos castigos quando o processo democrático é surrado para dentro da sepultura.

O futuro nem sempre é claro; fica cinzento rapidamente passando ao obscuro numa época farta de falsidades, evidenciando sérios declínios.

Pelo mundo, a expansão persecutória da qual têm sido alvo muitos jornalistas, o que está em causa é a própria Liberdade. Com essa barreira, faz-se necessário o empenho pela informação aberta, transparente, convicta, precisa e atualizada.

Vivemos no ciclo perigoso de jogos onde o Poder e poderosos procuram encontrar estratagemas para  criminalizar o Jornalismo e o trabalho dos jornalistas.

A recente denúncia das Nações Unidas sobre a tortura psicológica da qual Julian Assange, fundador do Wikileaks, tem sofrido das autoridades britânicas, somente são salvas pelo apelo do juiz do tribunal de Estocolmo, que barrou a extradição do australiano para a tão obcecada farsa das autoridades norte-americanas.

Nos Estados Unidos, Assange é acusado de “espionagem”, pois suas revelações colocam “em risco” a “segurança dos Estados Unidos”, como se o país fosse democrata, humanista.

A arma é essa mesmo: a tortura psicológica, a perseguição e a total destruição da pessoa humana, enquanto primaz da sua missão de bem informar, revelando segredos das nações que todos os povos deveriam conhecer – e os tribunais dos Direitos Humanos, saber.

Acusados por Assange são certos países que apoiam projetos de domínio financeiro ou econômico das elites dominantes pelo mundo. Comandam operações, aparentemente charmosas mas dominantes em tudo.

São operações precisas nos tempos modernos. Aproveitam-se de benesses da situação do sistema democrático [ou pelo menos o que tenha de bom na ideia]. Conseguem, assim, encontrar espaço aplicando famigerado golpe da tortura psicológica e até física, como armação consagrada dentro das forças políticas. Contudo, perdem consonância, autoconfiança pelos labirintos intérminos da sua única filosofia violenta para defender ordens superiores dos regimes.

Hoje em dia, classes dirigentes, políticos, gente da banca, e acima de tudo, serviços secretos, se transformam em estranhas organizações. São como seitas, que já nem teriam direito de existir. O que eles temem é a verdade.

Daí vão saindo outros temores em perfeito contraciclo, retirando das doutrinas o melhor da saúde da Democracia. Valores convocando mutações ou efeitos destruidores trazem aqui problemas renovados, preocupantes sobre o sujeito, a serviço de interesses, objetivos fora de qualquer contexto de valorização social ou favorecendo arcaicas estruturas.

Sem esclarecimentos devidos, deixam clara a posição do Estado, que defende interesses particularizados, engolidos pelas estruturas. Tudo isso ocorre sem excluir a política e a complexa orgânica dominada por efeitos pertinentes, como são os serviços secretos. Em princípio, lutam pela segurança e defesa do povo norte-americano, mas estão falhando e são ameaças à democracia em todo o mundo.

Diante dos últimos acontecimentos, segredos revelados ficam sem respostas, mantendo-se uma interrogação histórica. Não querem deixar que a verdade seja revelada, carregam falos  balastros quando redes da Comunicação se quedam adormecidas, dominadas ou drogadas no transporte adulterado da notícia.

Falsamente, seguindo palavra de ordem, se vão assassinando brutalmente jornalistas [sem que a justiça condene os assassinos e traidores] dentro de consulados como o acontecido ao infeliz saudita Jamal Khashoggi, em Istambul no chão diplomático do seu país.

Outro jornalista perseguido foi Mahmoud Hussein, que ficou quase 90  dias detido sem acusação em presídio do Cairo, pela autoridade egípcia, sem qualquer julgamento.

É o que acontece também, desde 2013, a Mahmud Abu Zeid, apenas porque fotografou imagens dos acontecimentos urbanos que foram considerados “proibidos”.

Dezenas de outros tantos detidos, covardemente abatidos ou fortemente ameaçados, são perseguidos pelos regimes na Guatemala, Honduras ou mais recente no Sudão quando militares tomaram o poder depois do golpe. E não desejam devolver o regime político ao povo.

Segundo arrepiante relatório dos Repórteres Sem Fronteiras, no México, desde o começo deste novo século, já foram assassinados 118 jornalistas pelas forças dos cartéis.

Em outras nações latino-americanas, desde 2015, foram assassinados 63 repórteres em serviço, 40 deliberadamente e mais 19 sem conhecimento do motivo.

Na Turquia, o país europeu mais perigoso para o exercício jornalístico. No país, têm sido dizimados jornais, rádios, televisão e revistas. Em três anos, a razia tem sido fatal. Dois dos maiores da informação turca, Erden Gul e Can Dündar, continuam sendo torturados.

A “novidade” das perseguições aos jornalistas vem agora da nação dos pampas: Argentina e seu regime perseguem jornalistas, reprimem a missão do compromisso de descobrir a verdade e revelar ao público o que se descobre com as suas reportagens investigativas.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano

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