Tobias é samba nos pés na pracinha do Pará com a Amapará Folia
Compositor e sambista itabirano foi homenageado ontem na abertura do carnaval do bairro onde ele compôs muitos de seus sambas e marchinhas
“Eu trouxe o samba para Itabira”, afirma com orgulho José Caetano Belisário, o Tobias, da histórica escola de samba Gente Humilde, homenageado nessa sexta-feira (9/02), na abertura da terceira edição da Amapará Folia, na pracinha do Pará.
Ele conta que o gênero musical era praticamente desconhecido na cidade até meados da década de 1950. “A gente só ouvia samba no rádio.” (leia mais aqui e aqui).
Na homenagem da Associação dos Moradores do Bairro Pará (Amapará), Tobias não se fez de rogado: mostrou que ainda tem muito samba nos pés no alto de seus 86 anos. Sambou e posou para fotografias com o seu impecável terno branco, quepe de marinheiro e sapatos vermelhos – e até cantou um samba acompanhado pela banda Romário Araújo e Nonoca.
O compositor itabirano conta que passou a compor samba, marchinha – e até jingle eleitoral para a campanha do ex-prefeito Daniel Grisolia – depois que aprendeu a tocar cavaquinho e banjo em Nova Lima, cidade onde morou e trabalhou na mina de Morro Velho, no fim da década de 1950.
“Eu ouvia também muito Roberto Silva no rádio. Ele foi a minha maior inspiração musical”, revela o sambista itabirano, referindo-se ao compositor, falecido em 2012, que era chamado de O Príncipe do Samba (ouça aqui: https://www.ouvirmusica.com.br/roberto-silva/).
Ele recorda que naquele tempo, compor samba era considerado imoral, coisa de gente à toa. E por isso sofria perseguição.
“Coronel Fonseca (delegado em Itabira na década de 1950) não gostava de mim. Mas o compadre Daniel era quem me protegia. Depois de uma briga que os dois tiveram por minha causa, o coronel Fonseca parou de me perseguir. Aí eu compus Proibiram o meu samba”, relembra o compositor. E canta:
“Proibiram o meu samba, mas não incomodo, não/ Sou sambista lá do morro, gosto de alegrar o povo, mas não sou de confusão/Moro no Morro de Santo Antônio, procure o meu nome, sou o maioral de lá/Meu direito é livre, chegou a minha vez/quero-me desabafar/Dá o que dá, dá o que dá.”
No final da homenagem, Tobias propôs voltar com a sua famosa charanga no próximo carnaval. “Se vocês toparem, podemos voltar a tocar com a meninada”, disse ele, com ânimo de quem não se deixa abater mesmo com o avanço da idade. “Tenho guardado os instrumentos da Gente Humilde (a sua escola de samba) e também alguns que ganhei da 9 de outubro (outra escola que marcou a história carnavalesca da cidade). É só renovar os couros e sair para rua”, sugere.
Homenagem mais que justa
Para o presidente da Amapará, Adirney Jabour, a homenagem ao Tobias faz jus pelo que ele representa para o carnaval itabirano. “Tobias é um dos primeiros carnavalescos de Itabira e tem as suas origens aqui no bairro Pará”, justifica.
Com ele concorda Carlos Carneiro Martins, outro conhecido carnavalesco das escolas de samba 9 de Outubro e Canto da Juriti que participou da abertura da Amapará Folia. ”Tobias é um baluarte do carnaval itabirano, juntamente com TiMurilo e dona Durce”, considera.
Martins é outro que vê com otimismo o renascimento do carnaval por meio das associações de moradores, organizado nos bairros. “É um carnaval popular, nascido nas comunidades”, aprova.
Nesse aspecto, é preciso que se promovam mais carnavais nos bairros da cidade, como ocorre também no Campestre, até para evitar a multidão que tomou conta do bairro Pará. Jovens de todos os cantos da cidade se dirigiram para o bairro, o que chegou a assustar alguns moradores.
Já imaginou se o coletivo Perecolândia, formado por jovens do bairro João XXIII, resolvesse promover um carnaval em rimo de São João, que é a sua especialidade? Por que não, se pode tanto axés-musics e outros ritmos estranhos no carnaval de hoje? Seria diferente e divertido – chamaria atenção pelo inusitado – e atrairia muitos foliões forrozeiros. Fica, portanto, a sugestão para que se organizem mais carnavais em outros bairros da cidade.
Serviço
O carnaval de Itabira prossegue até terça-feira gorda nos bairros Campestre e Pará – e também no distrito de Ipoema.
No Campestre, diferentemente do que ocorreu ontem no Pará, a folia ficou restrita aos moradores do bairro e vizinhança. A edição deste ano foi batizada de Cabeleira do Zezé, em alusão a um antigo sucesso carnavalesco. A marchinha hoje é vista com reservas pelo conteúdo preconceituoso de seus versos. Sugere que o Zezé é transviado, o que pega mal em tempo de luta contra a homofobia.
Tanto no Campestre como no Pará haverá matinês no domingo e na terça-feira. Em ambos carnavais, o público conta com banheiros e praça de alimentação.
A Transita, a Polícia Militar e a Cruz Vermelha cuidam da segurança – e dão apoio em caso de alguma emergência e necessidade de socorro ao folião. Mas a polícia não precisa agir com truculência, como se observou na abordagem de muitos jovens no bairro Pará.
Na segunda-feira tem estreia do bloco do Zé Bandarra da Rua de Baixo
Criado neste ano para estrear no carnaval itabirano, o bloco carnavalesco República do Zé Bandarra da Rua de Baixo sairá em cortejo na segunda-feira (12/02) pelo centro histórico de Itabira. A concentração será a partir de 16h, no Largo do Zé Bandarra (Rua dos Operários). E a dispersão ocorrerá com grande carnaval no Largo do Batistinha.
O cortejo será acompanhado por dois grandes bonecos que irão abrilhantar e alegrar a festa momesca na segunda-feira: um do Zé Bandarra e o outro representando um carnavalesco da escola de samba Mocidade Independente da Belinha, do Bairro Bela Vista.
A proposta é voltar a carnavalizar o centro histórico de Itabira, palco de muitos entrudos momescos no passado (leia a crônica Casaca Vermelha, de Carlos Drummond, aqui).
Cumpadre Tobias é a Grandeza de Itabira. Um leitor do Vila acertou quando disse que ele foi o Carlinhos Brawn, acho até que foi além do Rei baiano. O Velho Tobias merece uma estátua, e o Geninho poderia fazê-la muitíssimo bem, porque o conhece desde que nasceu. Uma estátua de Itabira em homengaem ao samba. Viva Tobias Grandeza Infinita do Samba na Cidade.
Mais uma coisinha, a homenagem ao Tobias é resultado do jornalismo do Carlos Cruz a favor da Cidade. Ao Carlos devemos o jornalismo certo, justo em deffesa da Cidade. Mais uma vez obrigada Jornalista, porreta.
E não tó puxando saco, as vezes o Carlos eu divergimos, mas não se pode deixar de motivar quem faz o melhor pela cidadania. Vai Carlos, em frente, precisamos de suas palavras.
Roberto Silva, o príncipe do samba. Foi na voz dele que o compositor precioso Norberto Martins, teve a sua primeira composição gravada. A Saionara viúva do Príncipe é conhecida de Itabira, o irmão dela mora em Itabira. O jornalista Mário Menezes, o cara que mais conhece de MPB em Itabira sabe do tó escrevendo.