Vírus da febre amarela, como todo agente infeccioso, sofre mutação. Vacina é a única forma de se prevenir da doença
Repelentes devem ser usados, principalmente por quem mora na zona rural, mas não eliminam a necessidade de todos, com poucas exceções, serem imunizados
O risco de a febre amarela migrar para a cidade é real e muito mais preocupante que o áudio alarmista que tem circulado nas redes sociais, dizendo que o vírus sofreu mutação – e que por isso a vacina não estaria mais sendo tão eficaz para não se contrair a doença.
De fato, conforme confirmam cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), todo vírus pode sofrer mutações. Foi o que concluíram com relação à febre amarela, após finalizarem o sequenciamento completo do genoma do vírus.
Conforme explicam os pesquisadores, nesse sequenciamento foram encontradas variações inéditas em algumas de suas sequências genéticas, sem registro anterior na literatura científica mundial.
No entanto, os mesmos pesquisadores asseguram que a vacina atualmente ministrada protege contra diferentes genótipos do vírus.“As alterações detectadas no estudo não tiram a eficácia para quem tomou uma dose da vacina.”
Portanto, vacinar é a única garantia para se obter a necessária imunização que salva vidas – e impedir o retorno da febre amarela urbana, erradicada no país desde 1942.
Segundo asseguram os pesquisadores, a vacina protege contra diferentes genótipos, inclusive o africano, por afetar as proteínas do envelope viral – e nesse envelope não houve mutações. É onde a vacina age.
“Em qualquer parte do mundo onde se tem variantes da febre amarela, a vacina protege com a mesma eficácia”, assegura a pesquisadora Myrna Bonaldo, para quem o país vive o maior surto de febre amarela das últimas décadas.
Rumores na floresta
Atualmente, o vírus da febre amarela só é transmitido pelos mosquitos Sabethes e Haemagogus, que vivem nas florestas, nas copas das árvores.
Por isso, o alvo preferencial das suas picadas são os macacos, que compartilham o mesmo habitat. No entanto, esses mosquitos ao descerem das árvores para eclodir os ovos podem contaminar as pessoas que por lá transitam.
A morte de símios é um importante indicador da presença do vírus, apenas isso. O macaco não transmite a doença, da mesma forma que uma pessoa com o vírus não passa a doença para outra.
Os casos de epizootias (morte de macacos) é um importante indicador da presença do vírus. Mas não é só a morte de símios que pode indicar a sua ocorrência. O silêncio na mata onde antes havia rumores desses símios também pode indicar a presença do vírus.
Ocorre que a natureza é perfeita também nesse caso, ao criar mecanismos de proteção da espécie. Quando um macaco adoece, ele se isola do grupo para não contaminar os demais ao ser picado pelo vetor. E o grupo adentra para a floresta, como forma de não contrair a doença.
“Não é preciso haver morte de macacos para indicar a ocorrência do vírus. Basta que um adoeça para ser sinalizada a sua presença, indicando que o local é área de risco”, explica Thereza Horta.
Portanto, se em determinado lugar havia rumores de macacos e de uma hora para outra desapareceram, isso pode ser um indicador da presença do vírus da febre amarela. Ao contrário, onde existem rumores, a sinalização pode ser de ausência do vírus. Nesse caso, a presença de macacos pode ser um alívio para moradores vizinhos.
Mortes em Itabira
No município já foram encontrados três macacos mortos, um próximo da portaria da mina Conceição, outro no Barro Branco, perto da reserva do Itabiruçu, e um terceiro na região de Ribeira de Cima, informa a Secretaria Municipal de Saúde. Os corpos desses símios foram encaminhados à Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte, mas ainda não foi confirmado se tratar de óbitos causados pelo vírus da febre amarela.
No entanto, só fato de se ter encontrado esses macacos mortos, além da confirmação de duas mortes pela febre amarela, quatro óbitos em investigação, 23 casos suspeitos também em investigação, tudo isso já coloca o município na categoria 3, que é a mais grave na incidência da febre amarela na classificação de risco de propagação do vírus.
Daí a necessidade de intensificar a campanha, para que moradores do campo e da cidade sejam imunizados pela dose única da vacina (leia mais aqui). Talvez seria o caso, também, de a Prefeitura distribuir repelentes aos moradores da zona rural.