Violência policial contra mulher com criança no colo divide opiniões na Câmara Municipal de Itabira

Na sessão legislativa dessa terça-feira (9), o vereador Neidson Freitas (MDB) criticou o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) e os demais políticos itabiranos que condenaram a violenta abordagem policial contra uma mulher, que foi jogada ao chão com uma criança no colo, imobilizada com o joelho sobre o seu pescoço à semelhança com o que ocorreu com o negro George Floyd, 40 anos, assassinado por policiais brancos em Minnesota, nos Estados Unidos.

Floyd foi abordado por policiais e um deles o asfixiou até a morte com o joelho pressionando o seu pescoço. Foi o mesmo procedimento adotado contra a mulher na abordagem da polícia em Itabira, no início da noite de sexta-feira (5), na avenida João Pinheiro.

Leia mais aqui “Nunca será aceitável que um braço do Estado opere acima da lei”, repudia a OAB de Itabira a ação da PM contra uma mulher com criança no colo

“Não poderia deixar de falar da prisão da mulher no final de semana e que envolveu crianças. Infelizmente o que percebi no final dessa polêmica é o oportunismo de parte de políticos, principalmente do prefeito que se posicionou instigando a população contra a Polícia Militar, sem ter tido tempo de saber realmente o que estava acontecendo”, criticou o oposicionista.

“O 26º Batalhão presta serviço exemplar e não é um caso isolado que vai transformar em criminosas as ações de nossos policiais em rede nacional. Isso (a repercussão) aconteceu pelo posicionamento de políticos oportunistas querendo fazer trampolim sobre um fato grave, conforme o próprio comando já se manifestou”, defendeu o vereador.

Repercussão na rede

Após a divulgação pela rede social de um vídeo mostrando a polícia agindo com truculência contra a mulher, Marco Antônio Lage sentiu na obrigação de se posicionar contra a agressão. E manifestou a sua repulsa diante das imagens.

“As lamentáveis cenas que já circulam em redes sociais e sites de notícias de todo o país precisam ser apuradas com rapidez e rigor. Este não é o procedimento padrão das nossas escolas militares e do Comando Geral da Corporação”, ponderou o prefeito.

Lage acrescentou que espera, diferentemente do que se viu, contar em Itabira com “uma PM parceira da comunidade e que saiba lidar com situações limites, especialmente em se tratando de ocorrências envolvendo mulheres e crianças.”

O deputado Bernardo Mucida (PSB) também se manifestou, expressando a sua indignação diante do ocorrido.

Disse esperar por uma rápida apuração do caso, prometendo acompanhar as investigações pelo 26º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais. “Os fatos serão apurados pela instituição em processo administrativo, que irei acompanhar de perto”, prometeu.

Já o vereador Weverton “Vetão” Andrade (PSB) classificou a abordagem policial como sendo um desrespeito ao artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): “Indignações, violações de direitos, tratamento desumano”, protestou diante do que assistiu em vídeo.

A vereadora Rosilene Félix (MDB) também pediu rápida apuração da violência policial, que ela também condenou em rede social. “Conversei (na mesma noite da ocorrência) com o tenente Salazar, que me disse ser compromisso da PM apurar as responsabilidades. Vamos acompanhar para entender e tomar as providências que nos cabem enquanto parlamentares.”

A vereadora disse na sessão legislativa que se reuniu com entidades que compõem a rede de enfrentamento da violência contra a mulher, quando foi abordada a necessidade de se ter em Itabira a nomeação de uma delegada especializada para a Delegacia da Mulher. “É imprescindível para que sejam apurados os casos de violência”, reivindicou.

Outras manifestações

Ainda na sessão legislativa dessa terça-feira, o vereador Heraldo Noronha (PTB) discordou do posicionamento de Neidson Freitas, manifestando-se contrário a forma violenta da abordagem policial à mulher com criança no colo.

“Não sou contra policiais reprimirem crimes, mas olhando a filmagem, não tem como ver isso como sendo normal”, considerou o vereador. “Mesmo que a mulher estivesse cometendo uma infração isso é inadmissível. Ela não estava com arma em punho”, acrescentou.

“Disseram que estava com uma arma na bolsa e isso o policial não viu. O que ele viu foi uma criança no colo e tomou aquela atitude violenta”, condenou o parlamentar petebista. “Foi a mesma coisa de um cachorro pitbull montando em cima de um pinscher”, comparou

Mas não foi isso o que viu o vereador Júlio “Contador” César de Araújo (PTB). Assim como fez Neidson Freitas, ele saiu em defesa da atuação do policial militar, mesmo tendo assistido o vídeo mostrando a abordagem e que foi divulgado nacionalmente pela rede social.

“Parabenizo o 26º Batalhão pela atitude. Quando uma mulher usa o filho como escudo com o intuito de se proteger, ela está colocando a vida dessa criança em risco”, criticou.

“Vi como uma insensatez essa senhora portar uma arma. Ela não teve o instinto materno de proteção da criança, não demonstrou amor de mãe. E foi tratada como deveria ter sido”, aprovou o parlamentar itabirano.

“Quando a polícia age contra os que matam inocentes, vêm (as organizações) dos direitos humanos defender esses bandidos. Aquela mulher não merecia tratamento diferenciado daquele que recebeu”, aprovou, fazendo coro aos que acham que “bandido bom é bandido morto”, como não se cansam de repetir os bolsonaristas pela rede social.